20 janeiro 2008

Guebuza e Chissano: competição dinástico-empresarial-prestigial (2) (fim)


Aqui vão as ideias (poucas) que prometi deixar.
Se formos à base de dados Hermes da Pandora Box, vamos saber que as dinastias de Chissano (foto do lado esquerdo) e de Guebuza (foto do lado direito) estão em múltiplas empresas. Os dados do Africa Confidential, do Africa Intelligence e do Indian Ocean Newsletter também mostram isso.
Essas duas dinastias são como que dois sistemas solares regidos por um êmbolo, a Frelimo, pois Chissano e Guebuza são figuras tutelares do partido.
Uma hipótese: em cada um dos sistemas solares, giram planetas e cometas empresariais, regidos pela força de gravitação clientelista e por laços de partilha de respeito, hierarquia e vassalagem. Cada um dos sistemas solares contém múltiplos elos dos mais variados tipos, múltiplas argamassas, são como que rizomas, tentáculos poderosos. Querer criar uma rede empresarial em Moçambique implica conhecer bem as regras do jogo ou as regras dos jogos nos dois sistemas solares. Implica conhecê-las e aceitá-las. Fora das órbitras dos dois sistemas, fora do apoio político do partido Frelimo, a independência empresarial é difícil, creio, especialmente se visar também um sistema solar, autónomo.
Por hipótese, as duas dinastias serão - se não são já - as dinastias empresariais hegemónicas do país dentro de cinco a dez anos, com poderosos impérios distribuídos pelos mais variados tipos de actividade e de partilha de acções, ainda que eu ignore qual o seu raio de acção ao nível do capital bancário. E ainda que ignore, também, se há zonas de conflito entre os dois sistemas solar-empresariais.
Mas há um outro tipo de capital a ter em conta: o capital político-prestigial.
Aqui, com muitos mais anos de preeminência e de visibilidade, Chissano leva uma larga vantagem sobre Guebuza. Real percutor da democracia liberal no país, construiu e foi construído como um gestor do equilíbrio político, do meio termo, como um elegante homem de diálogo cuja acção e cujo impacto ultrapassaram, há mais de 30 anos, as fronteiras do nosso país. Sistematicamente chamado para ser negociador-chefe em vários conflitos internacionais, Chissano viu o seu percurso político consolidado com o recente prémio Mo Ibrahim. Poderá, um dia, vir a ser o presidente da União Africana. É como se - permitam-me a imagem - tivéssemos dois presidentes: o interno (Guebuza) e o externo (Chissano), o nacional e o internacional.
Quanto a Guebuza, ele tem por agora apenas, creio, um papel nacional, o do presidente do país. Não sei se o seu papel nos acordos de paz de Roma foi e é decisivo para lhe dar o selo de estadista internacional no género de Chissano. Bem mais carismático do que Chissano, bem mais interventor, milenarista, desejoso de criar um Moçambique diferente, Guebuza é, como já aqui um dia escrevi, uma espécie de espírito de Samora enxertado no corpo de Chissano actuando no neo-liberalismo. É, se preferirdes, um neo-samoriano de um período histórico distinto do de Samora Machel.
Nota: em qualquer momento posso modificar algo no texto. Se isso acontecer, usarei o vermelho para distinguir o que foi acrescentado ou corrigido.

12 comentários:

Anónimo disse...

Professor,

boa análise, como sempre nos habituou. Só permita-me discordar na parte em que refere guebuza como sendo mais carismático que chissano. penso que ocorre precisamente o fenómeno contrário. a falta de carisma de guebuza joga contra ele, ao contrário de chissano de quem o povo sempre apreciou, principalmente por ser associado àquele que acabou a guerra.
Recordo-me aqui de há uns tempos guebuza ter sido vaiado quando entrou na machava para assistir a um jogo dos mambas, e chissano que chegou poucos minutos depois, quando anunciado pelos altifalantes, foi alvo de uma calorosa recepção.

Paulo Kanimambo

Carlos Serra disse...

Desculpe só agora responder, mas só agora reentrei no blogue. Vou pensar no que disse e evenualmente poderei introduzir alguma mudança no texto. Obrigado.

Anónimo disse...

Também daqui a 5 ou 10 anos a frelimo vai cair de dentro!

Anónimo disse...

"...Recordo-me aqui de há uns tempos guebuza ter sido vaiado quando entrou na machava para assistir a um jogo dos mambas, e chissano que chegou poucos minutos depois, quando anunciado pelos altifalantes, foi alvo de uma calorosa recepção..."
Professor não será este fenomeno um termómetro do estado da nação?

Maxango

Carlos Serra disse...

Li sobre isso, de facto, mas teria gostado de investigar os dois tipos de reacção, estar no terreno, ouvir pessoas, comparar...

Anónimo disse...

Estive na Machava. Armando Guebuza não foi vaiado. O que aconteceu foi que Chissano foi mais aplaudido do que ele. Creio que há imagens gravadas sobre isso, para quem quiser investigar.

Uma hipótese para explicar isso: Os chefes antigos são sempre melhores do que os actuais. O que estou a tentar dizer é que, no futuro, Guebuza será mais ovacionado do que o Chefe de Estado que estiver em funções nessa altura.

Obed L. Khan

Anónimo disse...

Obed,
Esperemos para ver!

Slave Driver

Anónimo disse...

Obed, a tua teoria/hipotese refere-se somente aos chefes de estado, da FRELIMO, ou a todos os lideres...quando vc barbaramente diz que "Os chefes antigos são sempre melhores do que os actuais"?


PP

Nelson disse...

Devia ser "parecem melhor" porque só lhes lembramos os méritos e esquecemos ou fingimos esquecer os defeitos. E ou o chefe actual nos dá o pior. Mas não vai ser difícil encontrar na História "chefes" que na optica dos "chefiados" foram piores e levaram para a sepultura o "pior" que eram.

Anónimo disse...

Exactamente isso Nelson, "lhes lembramos os méritos e esquecemos ou fingimos esquecer os defeitos". Já era assim com Samora. Dizia-se que Mondlane tinha sido muito melhor que ele. Era assim com Chissano. Samora era melhor que ele. Está a ser assim com Guebuza. Chissano era melhor que ele. Na minha hipótese, Guebuza será melhor que o próximo Presidente. Venha ela de dentro da FRELIMO ou não.

Obed L. Khan

Nelson disse...

Com Samora não Obed. Ele foi primeiro presidente. Quem na santa ignorância pode ter comparado Samora à Mondlane que não chegou a dirigir o país como presidente?

Anónimo disse...

Acho que estava e havendo uma disputa de espaco na frelimo entre as alas guebuziana e chissano, a demais o proprio PGR e tambem suspeito de pratica ilicitas o que quer dizer que provavemmente se venha assistir num futuro breve uma refira volta.
Quanto ao manhenje este sim sera sagrificado nesta luta interna

Muta uta munho