Segundo o blogue do bosses, o jornal nortenho Faísca escreveu que, na província de Niassa, "quantidades significativas de rede mosquiteiras foram roubadas do Depósito Provincial da Saúde de forma estranha, atrasando a luta contra a Malária. O roubo segundo a polícia, na pessoa do seu porta-voz, Alfredo Fumo, aconteceu de forma muito estranha porque não houve arrombamento de nenhuma entrada. As redes mosquiteiras roubadas fazem parte do Programa Nacional de Controlo da Malária (PNCM) e eram distribuídas nos distritos para mulheres grávidas e crianças dos zero aos cinco anos."
Comentário irónico: aqui está um problema importante para a blogosfera. Importante por não ser importante e por não possuir dignidade epistemológica, dirão alguns a nível planetário. O que provoca um problema? Um problema provoca perguntas. Por exemplo: terão sido os mosquitos a roubar as redes? Gente da Saúde? Estranhos que se transformaram em seres voláteis e mágicos e entraram no armazém sem necessidade de arrombarem a porta? Quantos não irão morrer agora de malária com esse roubo? Agora outro género de perguntas, colocadas por aqueles que consideram os jornalistas (enfronhados que estão no senso comum - defendem) como seres incapazes de se alçarem às perguntas inteligentes: como poderemos de forma inteligente discutir o "roubo" de redes mosqueteiras? Não deveremos ver o presumido roubo das redes mosqueteiras como uma forma sensata de distribuir democraticamente a riqueza em meios onde isso é normal? Por que ver nisso a alma obscura da corrupção e do roubo? Que importância tem esse inexistente roubo mesquinho face a problemas bem mais magnos no país? De que maneira poderemos sabiamente discutir não tanto as redes, depois as redes mosquiteiras, depois os mosquitos, depois a malária, depois quem morre anonimamente de malária, depois o jornalismo descritivo, mas, antes, os problemas epistemológicos, em última análise os problemas realmente macro-económicos, tudo pensado com muita razão e sem emoção e por aí fora? Etc. Os grandes especialistas de perguntas - os óciólologos - costumam responder a problemas comezinhos como o apresentado com a a fórmula certeira e definitiva de mais uma pergunta. Enfastiados dirão: pobres artesãos do mal-visto estes, os que dão respostas a perguntas e, especialmente, às perguntas não inteligentes.
4 comentários:
"Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas suas respostas. Voltaire"
Citando Sartre
“A vida não tem sentido à priori. Antes de vivermos, a vida é coisa nenhuma, mas é a nós que compete dar-lhe um sentido, e o valor não é outra coisa senão o sentido que tivermos escolhido. O homem está condenado a ser livre”.
Ou Lénine
Se tenho meu “lugarzinho”, como médico, como engenheiro, professor ou empregado, que me importa o próximo?
Professor,
Eu condeno muito os chamados "BEEF's" entre os músicos moçambicanos (que nem são fenómeno novo. Basta recuarmos à música de Fany Mpfumo com o título "King ya Marrabenta para chegarmos a essa conclusão). A alguns músicos da nova geração com quem (de tempos em tempos) me cruso por este Maputo tenho manifestado este meu entendimento de que os BEEF's não nos levam a nada.
Quando leio este seu post (posso até estar enganado) sinto este ar de BEEF, sinto uma espécie de ataque a alguns que têm um procedimento diferente do seu. Os tais que "costumam responder a problemas comezinhos como o apresentado com a a fórmula certeira e definitiva de mais uma pergunta". Pessoas com esta forma de abordar as questões não são difíceis de encontrar na nossa blogosfera.
Acho que ficaria bem a todos os grandes intelectuais que respeitassem as diferenças de opinião e de abordagem das coisas e deixassem as azias de lado.
A blogosfera moçambicana saia a ganhar.
É uma opinião de quem aprende muito em cada debate mesmo daqueles em que o "tom de voz" se eleva um pouquinho.
JSM
Júlio: ando nos últimos tempos a reler o chato do Platão, que é quem, como sabe, mais escreveu sobre Sócrates. É sobre Sócrates que, provavelmente, ando a beefar. Sabe que ele era um intragável perguntador, tão perguntador que um dia foi acusado por 3 notáveis atenienses (representantes dos políticos, dos oradores e por aí fora)de corromper a juventude e os costumes? E com a cicuta morreu o perguntador. Ele, que vivia em Atenas (e veja lá que os Atenienses até já tinham a mania da macro-economia), onde metade dos moradores era escrava e sobre quem nada consta das preocupações socrateanas. É sempre difícil profetizar o passado quando, hoje, nasce um blogue de 3 em 3 segundos. Abraço.
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