Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
30 junho 2016
Manica: Renamo ataca e fere 20
Novo ataque ontem de homens armados da Renamo saldou-se em 20 feridos, oito dos quais com gravidade, na Estrada Nacional n.º 7, trajecto Guro-Vandúzi, província de Manica. Leia aqui.
Homens e mulheres em si?
Mas existem verdadeiramente homens e mulheres em si, indistintos em si, com o social manietado pelo biológico? A resposta é negativa, a dois níveis: primeiro, homens e mulheres não são massas indiferenciadas, estrangeiras às diferenças culturais, às relações, aos conflitos sociais e à luta permanente das interpretações e das definições; segundo, porque talvez seja útil evitar dotar o feminismo de um singular vedado ao múltiplo, hostil à variedade, enfim, dos feminismos. Confira aqui.
29 junho 2016
SB avaliou economia de Moçambique
No seu boletim económico mensal com data de 23 do corrente mês, o Standard Bank avaliou a situação económica de Moçambique, texto em português e inglês aqui.
Homens armados da Renamo atacam, colocam troncos na estrada e roubam
Segundo o "Diário de Moçambique" editado na cidade da Beira, confira notícia aqui. Recorde aqui.
Adenda às 19:31: no seu jornal da noite, a "Rádio Moçambique" reportou que quatro homens armados da Renamo incendidaram hoje seis casas no povoado de Amamba [nome a confirmar, CS], distrito de Chibabava, província de Sofala, inluindo a do secretário local. Segundo uma fonte policial, provavelmente a intenção seria a de assassinar o líder comunitário, mas este e os habitantes locais aperceberam-se da chegada dos homens armados e abandonaram o povoado.
Adenda às 19:31: no seu jornal da noite, a "Rádio Moçambique" reportou que quatro homens armados da Renamo incendidaram hoje seis casas no povoado de Amamba [nome a confirmar, CS], distrito de Chibabava, província de Sofala, inluindo a do secretário local. Segundo uma fonte policial, provavelmente a intenção seria a de assassinar o líder comunitário, mas este e os habitantes locais aperceberam-se da chegada dos homens armados e abandonaram o povoado.
Agricultura do poder
É impressionante como certos (as) indivíduo (a)s mudam de alma logo que se apanham feitos estruturas. Tudo se altera nele (a)s, é toda uma espantosa mutação corporal, linguística, afectiva, moral. Imediatamente ganham amor à distância, à prática da agricultura do poder que põe visual e instintivamente outrem na ordem, em genuflexão mental. Repare-se na maneira como passam a andar, como saem dos mercedes, como discursam na televisão. Mas o poder dos poderes, o acme, o sinete do big man e da big woman, consiste em fazer a ordenança transportar a pequena carteira com os documentos pessoais. Ou a pasta com um bloco de papel e uma caneta.
28 junho 2016
Zimbabwe, Moçambique e Renamo
Ministro da Defesa do Zimbabwe, Sydney Sekeramayi, citado pelo "The Sunday Mail": "A nossa posição é que se houver qualquer ameaça ao nosso acesso ao mar através da fronteira com Moçambique, tomaremos as medidas necessárias para proteger os nossos interesses. Estamos a monitorar a situação e permaneceremos em contato com as autoridades de Moçambique. Contudo, de momento ainda não há necessidade disso". Aqui.
Guerra e hermenêutica das valas comuns em Moçambique [14]
Número anterior aqui. Prossigo no quarto ponto do sumário [recorde-o aqui], a saber: 4. Espectáculo viral das fotos. Escrevi, já, que podíamos considerar dois tipos de fotos: as fotos atribuídas à vala comum de Sofala e as fotos atribuídas aos corpos a céu aberto. No número anterior vimos as fotos falsamente atribuídas à vala comum de Sofala. Trata-se agora de escrever um pouco sobre as fotos atribuídas aos corpos a céu aberto, sobre a enunciação veemente do trágico.
Ensinar a ser pensado
A publicidade é mais bem do que um conjunto de técnicas destinadas a convencer potenciais clientes a aceitar ideias e a comprar coisas. No caso da publicidade política, é bem mais do que um conjunto de técnicas destinadas a convencer n pessoas de que o partido X ou Y e o líder Z ou W são os mais indicados para dirigir um país. Na verdade, a publicidade é, imanentemente, uma fábrica de ideologia e de estereótipos. A sua função básica consiste em adaptar o cidadão a uma certa ordem do mundo e a cauterizar nele os núcleos de dúvida e resistência. O objectivo último não é o de fazer pensar, mas o de ensinar a ser pensado, anestesiado.
27 junho 2016
Seca e fome afectam milhões de pessoas na África Austral
Mais de 40 milhões de pessoas precisam de ajuda na África Autral devido à seca e à fome. Leia aqui.
No "Savana" 1172 de 24/06/2016, p.19
26 junho 2016
Saiba sobre Moçambique
Saiba sobre Moçambique através do mais recente número deste boletim, com data de hoje, aqui.
Guerra e hermenêutica das valas comuns em Moçambique [13]
Número anterior aqui. Prossigo no quarto ponto do sumário [recorde-o aqui], a saber: 4. Espectáculo viral das fotos. Escrevi no número anterior que bem mais forte e viral foi o efeito das fotos de choque, das fotos do horror da morte. E acrescentei que podíamos considerar dois tipos de fotos: as fotos atribuídas à vala comum de Sofala e as fotos atribuídas aos corpos a céu aberto. A publicação em Abril pela agência "Lusa" de uma notícia dando conta da descoberta [não comprovada até agora] de uma vala comum com cerca de 120 corpos em Sofala, deu origem, rapidamente, ao surgimento de falsas e chocantes fotos - sem nenhuma relação com Moçambique - em vários quadrantes da internet. Por exemplo: este blogue [seria possível citar outros blogues do género copia/cola/mexerica] recorreu ao recorte de uma foto das Filipinas para ilustrar a notícia dos 120 corpos, confira aqui, aqui e aqui:
Um blogue, creio que guineense, ostenta a foto abaixo:
Um terceiro portal não ficou atrás [confira também aqui] e fez uso da sofisticada foto abaixo, que nada tem a ver com Moçambique:
Um quarto portal decidiu juntar à notícia dos 120 corpos o que chamou "foto de arquivo", como segue:
Para ilustrar a notícia dos 120 corpos, os autores de um quinto portal encontraram na internet a "foto de arquivo" com os ossos que consideraram adequados, como segue:
Finalmente, prestem agora atenção à foto [creio ser sul-americana] que se segue, colocada num portal cujo autor escreveu ser "um jovem estudante, blogueiro e amante da internet":
Observação amena: os utilizadores das fotos em epigrafe, cada um à sua maneira, certamente tiveram em vista fazer uma introdução ao escândalo do horror. Para citar Roland Barthes: "A fotografia literal é uma introdução ao escândalo do horror, não ao próprio horror" [Fotos de choque, in Mitologias. Lisboa; Edições 70, 1973, p.140]
25 junho 2016
Moçambique faz hoje 41 anos
Hoje, 25 de Junho de 2016, o nosso país faz 41 anos, pois nasceu a 25 de Junho de 1975. O aniversário do nosso jovem país não deve conjugar-se no presente do indicativo, mas no futuro. Tenhamos orgulho nele, tenhamos orgulho na nossa pátria sejam quais forem os problemas e os desencontros. E ao tê-lo e ao praticá-lo, ao orgulho, façamos nossas também as outras pátrias. Com as raízes aqui, sejamos a todo o momento a copa do mundo, frondosa e hospitaleira. Oiçam o hino nacional aqui. Finalmente, para aqueles que eventualmente por aqui passarem e hoje também façam anos, parabéns habitados pela saúde.
Guerra e hermenêutica das valas comuns em Moçambique [12]
Número anterior aqui. Inicio o quarto ponto do sumário [recorde-o aqui], a saber: 4. Espectáculo viral das fotos. Sem dúvida que as descrições e, em particular, a sistemática exploração numérica dos corpos, tiveram um efeito multiplicador nos leitores. Mas bem mais forte e viral foi o efeito das fotos de choque, das fotos do horror da morte. Podemos considerar dois tipos de fotos: as fotos atribuídas à vala comum de Sofala e as fotos atribuídas aos corpos a céu aberto. Se não se importam, prossigo mais tarde.
"À hora do fecho" no "Savana"
Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1172, de 24/06/2016, disponível na íntegra aqui:
24 junho 2016
Seleção temática
Seleccionar um fenómeno numa galeria de fenómenos envolve, regra geral, um ângulo de visão, um prisma, uma seleção temática, a atribuição de um coeficiente de importância.
Assim, por exemplo, no dia 23 deste mês, a propósito da intervenção da Procuradora-Geral da República na Assembleia da República, a agência noticiosa portuguesa "Lusa" produziu uma peça na qual reportou que "A procuradora-Geral da República de Moçambique, Beatriz Buchili, afirmou hoje que a sua instituição vai agir com celeridade possível na averiguação de eventuais ilícitos criminais no caso dos empréstimos que o Governo moçambicano contraiu secretamente." Aqui.
Por sua vez, também no dia 23 e a propósito da citada intervenção, a "Agência de informação de Moçambique" produziu uma peça na qual deu conta que "Agostinho Vumba, outro deputado da Frelimo, disse que de Outubro de 2015 até o presente, a Renamo protagonizou 107 ataques no país, que resultaram em 40 mortos e 79 feridos graves. Afirmou que a maioria dos ataques ocorreram nas províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia, na região centro e em Nampula no norte, apontando que também houve seis ataques em Inhambane, e dois em Gaza, estas duas últimas províncias na regiao sul." Aqui.
Assim, por exemplo, no dia 23 deste mês, a propósito da intervenção da Procuradora-Geral da República na Assembleia da República, a agência noticiosa portuguesa "Lusa" produziu uma peça na qual reportou que "A procuradora-Geral da República de Moçambique, Beatriz Buchili, afirmou hoje que a sua instituição vai agir com celeridade possível na averiguação de eventuais ilícitos criminais no caso dos empréstimos que o Governo moçambicano contraiu secretamente." Aqui.
Por sua vez, também no dia 23 e a propósito da citada intervenção, a "Agência de informação de Moçambique" produziu uma peça na qual deu conta que "Agostinho Vumba, outro deputado da Frelimo, disse que de Outubro de 2015 até o presente, a Renamo protagonizou 107 ataques no país, que resultaram em 40 mortos e 79 feridos graves. Afirmou que a maioria dos ataques ocorreram nas províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia, na região centro e em Nampula no norte, apontando que também houve seis ataques em Inhambane, e dois em Gaza, estas duas últimas províncias na regiao sul." Aqui.
23 junho 2016
Guerra e hermenêutica das valas comuns em Moçambique [11]
Número anterior aqui. Termino o terceiro ponto do sumário [recorde-o aqui], a saber: 3. Competição em torno dos corpos e das definições: valas comuns e corpos abandonados. Como não apareceu a gigantesca vala comum dos 120 corpos de Sofala, passou-se à competição em torno da quantidade de corpos encontrados a céu aberto em Sofala e Manica. Contaram uns 11, outros 13, outros 15, outros mais de 20. Jornalistas de agências noticiosas estrangeiras fizeram relatos dantescos e fotos dramáticas, um vídeo foi produzido. Jornais, páginas das redes sociais digitais e blogues do copia/cola/mexerica encheram literalmente os seus espaços com notícias sensacionais [puxando aos sentidos] de corpos encontrados em zonas de confronto militar. Por vezes não se sabia bem onde estavam os corpos, confira aqui. Finalmente, estude-se o título e o subtítulo abaixo, de um jornal português:
22 junho 2016
Novo ataque da Renamo
Homens armados da Renamo atacaram hoje duas viaturas civis no distrito de Cheringoma, província de Sofala, após o que ameaçaram os ocupantes e roubaram diversos bens - "Rádio Moçambique", citando uma fonte policial, noticiário das 18 horas.
Adenda às 18:21: recorde aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Adenda às 18:21: recorde aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Negócios em Moçambique
Do campo à cidade
A passagem da humanidade do campo à cidade é a passagem das coisas localizadas para as coisas globalizadas; das verdades unidireccionais para as verdades pluridireccionais; das identidades de conhecidos para as identidades de desconhecidos; dos pequenos riscos domesticáveis para os riscos urbanos e planetários; dos fenómenos encobertos para os fenómenos descobertos; do boca-a-boca aldeão para a multidimensionalidade imediata e sem fronteiras dos jornais, da publicidade, da televisão, da internet, das redes sociais e dos celulares; dos monosentidos para os plurisentidos; da sexualidade fechada para a sexualidade pública; dos caciquismos e das teocracias para as democracias eleitorais.
21 junho 2016
Uma opinião
"Sobre o desespero dos muitos" é a mais recente crónica de Sérgio Vieira, a conferir aqui.
Adenda: sobre a dívida do país, tema da primeira parte da crónica de Vieira, recorde neste diário a posição de Gabriel Muthisse, aqui.
Adenda 2 às 19:43: o ex-Presidente da República, Joaquim Chissano, pediu aos Moçambicanos para terem calma e não enveredar por conclusões precipitadas sobre a dívida do país, colocando a carroça à frente dos bois [sic], é necessário que as pessoas que trabalham no assunto o façam em condições de calma - "Rádio Moçambique", jornal da noite das 19:30.
Adenda: sobre a dívida do país, tema da primeira parte da crónica de Vieira, recorde neste diário a posição de Gabriel Muthisse, aqui.
Adenda 2 às 19:43: o ex-Presidente da República, Joaquim Chissano, pediu aos Moçambicanos para terem calma e não enveredar por conclusões precipitadas sobre a dívida do país, colocando a carroça à frente dos bois [sic], é necessário que as pessoas que trabalham no assunto o façam em condições de calma - "Rádio Moçambique", jornal da noite das 19:30.
Guerra e hermenêutica das valas comuns em Moçambique [10]
Número anterior aqui. Permaneço no terceiro ponto do sumário [recorde-o aqui], a saber: 3. Competição em torno dos corpos e das definições: valas comuns e corpos abandonados. Escrevi no número anterior que a definição de vala comum da Wikipédia foi, em certos quadrantes de consciência julgadora, rapidamente preterida em favor da definição tida como sendo da autoria da ONU. Quer a definição que surge na enciclopédia digital [aqui], quer a atribuída à ONU [aqui]*, têm em conta cadáveres enterrados, com a diferença de que a primeira refere "conjunto de cadáveres" e a segunda, "três ou mais vítimas". Ora, como não apareceu a vala comum com 120 corpos de Sofala, de imediato os cadáveres não enterrados, descobertos em Sofala e em Manica, foram, como que por metonímia, explícita ou implicitamente, havidos em certos círculos como pertencentes a valas comuns. Por outras palavas: era possível considerar valas sem valas e mandar às urtigas as definições formais. Finalizo este terceiro ponto mais tarde.
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*O que algumas pessoas consultaram foi o resumo de um livro que surge não como sendo da ONU em si mas como sendo do "United Nations Rapporteur" (=relator das Nações Unidas). Esse resumo mostra que não existe acordo sobre o que é vala comum. Já agora e sobre vala comum, sugiro leia este texto aqui.
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*O que algumas pessoas consultaram foi o resumo de um livro que surge não como sendo da ONU em si mas como sendo do "United Nations Rapporteur" (=relator das Nações Unidas). Esse resumo mostra que não existe acordo sobre o que é vala comum. Já agora e sobre vala comum, sugiro leia este texto aqui.
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