30 setembro 2018

Individualização específica do social

Quando um psicólogo trata um paciente ele não trata o indivíduo em si que habita esse paciente, mas a forma como determinadas componentes do social organizam e determinam um certo tipo de comportamento. Cada indivíduo é, na vida, a individualização específica do social.

29 setembro 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1290, de 28/09/2018.
Nota: o acesso ao Savana digital tornou-se um exclusivo dos assinantes razão por que deixei de colocar a edição completa aqui e na "crónica semanal" que divulgo à segunda-feira.

27 setembro 2018

Produzir a sociedade

Aprendemos desde pequenos a organizar a sociedade em círculos concêntricos de coisas e pessoas - espécie primária de gavetas cognitivas orientadoras - que decrescem de importância, esbatem-se e tornam-se incompreensíveis e sem importância à medida que saímos dos nossos pequenos grupos de referência (família, grupo laboral, grupo da igreja, grupo de vizinhos, etc.). Produzir a sociedade enquanto sistema, conflito e sentido para além e a partir dos pequenos círculos cognitivos domesticados do nosso dia-a-dia é, sem dúvida, um ganho enorme. Mas, também, uma dificuldade infinita.

26 setembro 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [88]

-Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações." (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p.6).
-"No terreno, a nossa equipa de reportagem interpelou muitos jovens sobre o assunto, no entanto, ninguém conseguiu apresentar prova desta informação, limitanto-se apenas a afirmar que circulava informação de que muitos jovens estavam a ser recrutados para tropa.” – in “O País” digital de 28/11/2013.
Número inaugural da série aqui. Número anterior aqui.
Prossigo a história do rumor do tira-camisa.
E quanto mais condenado for, mais o rumor se robustece, se agudiza, como se as pessoas precisassem da condenação para se sentirem mais seguras na crença. Eliminar essa crença, eliminar o rumor, é eliminar a fé colectiva na verdade de algo, é eliminar uma certeza mesmo se objectivamente falsa. A esse nível, basta verificar a veemência de certas pessoas nas entrevistas e nas redes sociais.
Nota: os rumores que estou a apresentar não seguem uma ordem cronológica.

25 setembro 2018

Pensamento simbólico

É sempre muito difícil entendermos e aceitarmos a expressão do pensamento simbólico, especialmente quando nasce no interior da situações sociais de crise múltipla, situações cujos medos e cujos anseios reais aparecem traduzidos e ampliados em crenças, em rumores, boatos, lendas.

24 setembro 2018

Uma coluna semanal

"Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre na página 19. Confira na edição 1289 de 21/09/2018. Sinopse do livro aquiSe quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato.

23 setembro 2018

Recordando um livro editado em 2014

O problema central deste número consistiu em inventariar e analisar as situações e as mentes armadas, para fazer uso de uma expressão do bispo moçambicano dos Libombos, Dinis Sengulane.
De nada servirá mostrar continuadamente em inúmeras instâncias de debate e persuasão que a violência é desnecessária e nociva, se não forem desarmadas as condições sociais que armam as mentes (as margens que comprimem o rio) e que contêm, ainda, o aguilhão de épocas cuja memória permanece, seja porque ainda estão vivos os actores da violência, seja porque a memória passa como passam as tradições orais: de geração em geração, persistentemente.
Em seu rigor, em sua profundidade, os quatro trabalhos deste número subvertem por inteiro o facilismo identificativo e analítico do comum de nós e os seus autores mostram quão complexo, quão poliédrico é o social em seus dois níveis: o nível do rio e o nível das margens, o nível da violência em si e o nível das condições sociais que a permitem e reproduzem.
Na verdade, Jorge Márcio Pereira de Andrade (médico e psiquiatra brasileiro), António Eugénio Zacarias (médico legista moçambicano), Ricardo Henrique Arruda de Paula (sociólogo brasileiro) e Daniel dos Santos (sociólogo angolano- luso-canadiano) esforçaram-se por mostrar e analisar o vasto e múltiplo mundo da violência social, num espectro indo do Estado ao cidadão.
E, tenho para mim, fizeram-no com brilho.
Carlos Serra

22 setembro 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1289, de 21/09/2018.
Nota: o acesso ao Savana digital tornou-se um exclusivo dos assinantes razão por que deixei de colocar a edição completa aqui e na "crónica semanal" que divulgo à segunda-feira.

21 setembro 2018

Nada fácil

Não é nada fácil entrar na cavidade das coisas, percorrer os labirintos dos fenómenos, seguir a pista das contradições e dos conflitos, fugir ao reino da classificação rígida e da não-contradição, ao substancialismo, ao império da identidade unívoca.

20 setembro 2018

Frigorificação

Por regra quando pensamos nas tradições pensamo-las como coisas definitivas, acabadas, como se estivessem num frigorífico onde cada prateleira guarda uma tradição definida, imutável. Então, de vez em quando retira-se o produto para se provar um pouco, para se lhe acrescentar um detalhe, após o que o recolocamos lá onde deve estar, na imobilidade frigorificada e protegida contra os assaltos deletérios da mudança e da história.

18 setembro 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [87]

-Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações." (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p.6).
-"No terreno, a nossa equipa de reportagem interpelou muitos jovens sobre o assunto, no entanto, ninguém conseguiu apresentar prova desta informação, limitanto-se apenas a afirmar que circulava informação de que muitos jovens estavam a ser recrutados para tropa.” – in “O País” digital de 28/11/2013.
Número inaugural da série aqui. Número anterior aqui.
Prossigo a história do rumor do tira-camisa.
Escrevi no número anterior que um rumor, um boato, é mais do que a crença numa informação lacunar, carente de bases concretas, é mais do que o resultado de uma informação deficiente.
Na verdade, acrescento agora, o rumor é um exercício de fé obstinada e compensatória. Em que sentido? No sentido de que (1) faz da crença um princípio coerente e racionalizador da acção e (2) compensa por excesso, por emoção, o que realmente não se sabe nem, afinal, se quer saber ou se precisa de saber.
Nota: os rumores que estou a apresentar não seguem uma ordem cronológica.

17 setembro 2018

Uma coluna semanal

"Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre na página 19. Confira na edição 1288 de 14/09/2018. Sinopse do livro aquiSe quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato.

16 setembro 2018

O verdadeiro desafio

O verdadeiro desafio de uma sociedade democrática consiste não na eliminação da divergência de interesses, mas, antes, como escreveu um dia Paul Ricœur, no inventário dos procedimentos "que permitam que eles se expressem e se tornem negociáveis".

15 setembro 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1288, de 14/09/2018.
Nota: o acesso ao Savana digital tornou-se um exclusivo dos assinantes razão por que deixei de colocar a edição completa aqui e na "crónica semanal" que divulgo à segunda-feira.

Pedido de desculpas

Por razões alheias à minha vontade não me é possível apresentar "Uma coluna de ironia" que aos sábados aqui transcrevo do semanário "Savana". Fá-lo-ei logo que possível.

14 setembro 2018

A marcha duns e doutros

Certas das nossas avenidas e ruas são diariamente percorridas pelas classes média e alta da cidade de Maputo, marchando ou correndo na produção pedestre de saúde. Nas mesmas avenidas e ruas, operários, amanuenses, empregados domésticos e apanhadores de lixo marcham e correm para o emprego.

13 setembro 2018

Cargo e poder motorizado

Quanto mais importante é o cargo do chefe, mais aparatoso é o poder motorizado. Claro que se trata apenas de uma hipótese.

12 setembro 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [86]

-Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações." (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p.6).
-"No terreno, a nossa equipa de reportagem interpelou muitos jovens sobre o assunto, no entanto, ninguém conseguiu apresentar prova desta informação, limitanto-se apenas a afirmar que circulava informação de que muitos jovens estavam a ser recrutados para tropa.” – in “O País” digital de 28/11/2013.
Número inaugural da série aqui. Número anterior aqui.
Prossigo a história do rumor do tira-camisa.
Um rumor, um boato é mais do que a crença numa informação lacunar, carente de bases concretas, é mais do que o resultado de uma informação deficiente.
Nota: os rumores que estou a apresentar não seguem uma ordem cronológica.

11 setembro 2018

Mais do que isso

Para o grupo directivo hegemónico, a luta de libertação nacional devia ser mais do que isso. Na verdade, não bastava apenas obter a independência nacional, era igualmente necessário obter a independência social, descolonizar a nação e ressocializar o social.

10 setembro 2018

Uma coluna semanal

"Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre na página 19. Confira na edição 1287 de 06/09/2018. Sinopse do livro aquiSe quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato.

09 setembro 2018

Sobre responder

Recusar responder a alguém é responder de uma certa maneira. A ausência formal pode ser uma presença real.

08 setembro 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1287, de 07/09/2018.
Nota: o acesso ao Savana digital tornou-se um exclusivo dos assinantes razão por que deixei de colocar a edição completa aqui e na "crónica semanal" que divulgo à segunda-feira.

Dimensões

Cada um de nós tem uma personalidade, uma identidade ao longo da vida. Essa personalidade é composta por várias dimensões. Mas para os que nos rodeiam, especialmente para os que connosco convivem ou que nos conhecem, regra geral uma dessas dimensões é absolutizada, é tomada como referencial único ou determinante, deixando na penumbra as outras dimensões. Isso é especialmente marcante quando a morte sobrevém e a ela se junta o estatuto de herói.

07 setembro 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [85]

-Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações." (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p.6).
-"No terreno, a nossa equipa de reportagem interpelou muitos jovens sobre o assunto, no entanto, ninguém conseguiu apresentar prova desta informação, limitanto-se apenas a afirmar que circulava informação de que muitos jovens estavam a ser recrutados para tropa.” – in “O País” digital de 28/11/2013.
Número inaugural da série aqui. Número anterior aqui.
Prossigo a história do rumor do tira-camisa.
Ambos os rumores espalharam-se rapidamente, viralmente, como fogo em capim.
Nota: os rumores que estou a apresentar não seguem uma ordem cronológica.

06 setembro 2018

Ideias e práticas diferentes

Se já é difícil fazer face a ideias e práticas diferentes e até contrárias, muito mais difícil é aceitá-las e conviver com elas. Mas vale observar que não estão aqui em causa as ideias e as práticas diferentes oriundas de pessoas e grupos que fazem da violência, do terror e da morte o seu estilo de vida.

05 setembro 2018

Os muros sociais da nossa vida

O território que é o nosso, o território no qual habitamos, o território com as suas fronteiras convencionais, é bem mais do que um território físico, bem mais do que o território de uma comunidade, de um país. É, também (talvez devesse dizer principalmente), um território cognitivo, um território de determinados costumes, de determinadas regras, de determinadas maneiras de encarar a vida, de determinados grupos e classes sociais. Um território de muros sociais. Essa expressão poderia ser ampliada com estoutras: muros cognitivos, muros morais, muros de preconceitos, muros de prejuízos, muros de clichés, etc. Muros que, em sua diversidade social, são como semáforos sociais: dão licença aos nossos, vedam o acesso aos outros, aos estranhos.

04 setembro 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [84]

-Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações." (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p.6).
-"No terreno, a nossa equipa de reportagem interpelou muitos jovens sobre o assunto, no entanto, ninguém conseguiu apresentar prova desta informação, limitanto-se apenas a afirmar que circulava informação de que muitos jovens estavam a ser recrutados para tropa.” – in “O País” digital de 28/11/2013.
Número inaugural da série aqui. Número anterior aqui.
Prossigo a história do rumor do tira-camisa.
Observei no número anterior que surgiu um segundo rumor, com a designação “tira camisa”. Surgiu nos bairros populares da periferia da cidade da Beira e no Dondo? Não, pois aqui a frase padrão era esta: “Não queremos ir à tropa”, dita em português. Onde surgiu, então, a frase “tira camisa”?
Em certos jornais digitais e, em particular, em certos blogues de copia/cola/mexerica e nas redes sociais. A hipótese é a de que com essa frase pretendeu-se resgatar a imagem acusadora dos recrutamentos feitos nos anos 80 que contemplavam a obrigatoriedade de os recrutados tirarem as camisas.
Nota: os rumores que estou a apresentar não seguem uma ordem cronológica.

03 setembro 2018

Uma coluna semanal

"Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre na página 19. Confira na edição 1286 de 31/08/2018. Sinopse do livro aquiSe quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato.

01 setembro 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1286, de 31/08/2018.
Nota: o acesso ao Savana digital tornou-se um exclusivo dos assinantes razão por que deixo de colocar a edição completa aqui e na "crónica semanal" que divulgo à segunda-feira.