23 janeiro 2008

Eleições em Moçambique: cenários e trunfos (3) (prossegue)

"Ainda que não te ocupes da política, ela ocupar-se-á de ti" (Yves Montand)
Se o calendário não for alterado, teremos este ano as eleições provinciais e autárquicas e, no próximo, as legislativas e presidenciais. Um tempo aliciante e quente aproxima-se.
As nossas eleições vão realizar-se num afro-contexto muito preciso: por um lado a sistemática perseguição à oposição no Zimbábuè (onde as eleições parlamentares de 2005 foram pontuadas pela fraude) e, por outro, a violência dos protestos decorrentes das irregularidades eleitorais verificadas nas eleições quenianas.
Ao mesmo tempo, as nossas eleições vão realizar-se em meio a uma clima de crescente abstenção, abstenção que poderá ser ainda ampliada por todo o clima de falhas registado no recenseamento eleitoral iniciado o ano passado e prolongado este ano.
Em 2004, dois fenómenos aconteceram: por um lado, apenas 43% dos potenciais eleitores votaram em Moçambique ; por outro, os observadores internacionais deram conta de numerosas e graves irregularidades cometidas especialmente com a informatização dos dados e a publicação dos resultados. A propósito de abstenção: quando em 1999 falei num livro em abstenção e em "eleitorado incapturável" a propósito das eleições autárquicas de 1998, gente houve, a vários níveis, que pôs em causa o que, então, escrevi, argumentando que o facto de serem as primeiras eleições autárquicas requeria uma precaução que eu não tive. Porém, o que se tem passado daí em diante veio, afinal, dar-me razão.
Na continuidade desta série e tomando em conta as próximas eleições (seja qual for o seu tipo - mas, claro, com especial incidência nas legislativas e presidenciais), vou deixar aqui algumas ideias sobre quatro fenómenos:
1. Pacotes de propaganda política a usar pelos partidos políticos
2. Probabilidade de elevada abstenção
3. Zonas potenciais de vitória para os partidos
4. Capacidade de independência dos órgãos eleitorais e monitoria independente de todos os processos eleitorais
Nota: em qualquer altura posso alterar algo do que aqui fica escrito, o que, a acontecer, será assinalado a cores no texto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Professor, afirmou algures que as próximas eleições seriam decisivas. Como essa classificação de "decisivas" já vem sendo feita desde todas as eleições anteriores (com maior incidência naquelas que colocaram frente a frente Dlhakama e Guebuza) pedi-lhe para elaborar um pouco sobre o porquê seriam DECISIVAS as próximas eleições. O Professor prometeu responder à minha dúvida nesta série. Só que já passam vários dias, se não semanas. E como o Professor sabe, justiça extemporânea deixa de ser justiça. Do mesmo modo, dúvida respondida fora de tempo pode não lograr ser esclarecida.

Desculpe-me a insistência.