Racismo e etnicidade são formas elementares de interacção social e não exercícios fenotípicos de origem, não sendo mais do que subprodutos de um mesmo fenómeno político: a luta inter-grupos pelo acesso privilegiado a recursos de poder raros. Por outras palavras, racismo e etnicidade nascem com eles, a partir daí e não antes.
Poder? Poder não é uma "coisa", mas a capacidade de um grupo conseguir que nas suas relações com outro grupo ou com outros grupos os termos de troca lhe sejam favoráveis.
Para chegar a essa situação de "direitos adquiridos", os actores munem-se de recursos estratégicos, recursos de poder, como sejam o controlo dos aparelhos do Estado, de normas, valores, estatuto social, riqueza material, honra, formação escolar, anterioridade de chegada, interpretação da história, etc.
A interacção social é, nesse sentido, portanto, assimétrica. Uma sociedade constitui-se diferenciando-se e excluindo. Como escreveu alguém, formar um grupo "é criar estrangeiros". Uma estrutura bipolar, essencial a toda a sociedade, coloca um "de fora" para que exista um "entre nós"; fronteiras, para que se desenhe um país interior; "outros", para que um "nós" tome corpo".
É nesse contexto que nasce e se fossiliza o que Freud chamou "narcisismo das pequenas diferenças", uma "pulsão instintiva" que acaba por aparecer, afinal, como que natural e estrangeira às relações sociais e à sua conflitualidade.
Mas esses "narcisismos" têm origem quer nas diferenças de classe, quer nas diferenças regionais. A este último nível tem curso o conflito a que chamo centro/periferia (isto não significa esquecer a multiplicidade de situações, colectivas e individuais, geradoras e reprodutoras de ambos os fenómenos).
Com efeito, o conjunto de actores gestores de "direitos adquiridos" vive numa configuração social, digamos num país, na qual um centro produtor (que participa da natureza do sagrado) das regras, das crenças e dos valores (a capital do País, a capital de uma província) está confrontado com uma periferia (o resto do País, o resto da província).
Os que estão na periferia relacionam-se com os que estão no centro através de um sentimento ambivalente de ciúme, repulsa e imitação.
Entre os mais sensíveis ou os mais inteligentes da periferia, pode surgir a sensação exacerbada de se encontrarem marginalizados da zona vital do centro.
As relações assimétricas dão origem à produção de imagens constantes e unificadas sobre o Outro, a essências supostas imutáveis e "automáticas" chamadas estereótipos.
Esses estereótipos são, ao mesmo tempo, (1) exercícios de identificação que confortam a imagem de honra que os grupos e as pessoas têm de si e (2) armas de combate na luta pelo acesso a recursos de poder raros.
Poder? Poder não é uma "coisa", mas a capacidade de um grupo conseguir que nas suas relações com outro grupo ou com outros grupos os termos de troca lhe sejam favoráveis.
Para chegar a essa situação de "direitos adquiridos", os actores munem-se de recursos estratégicos, recursos de poder, como sejam o controlo dos aparelhos do Estado, de normas, valores, estatuto social, riqueza material, honra, formação escolar, anterioridade de chegada, interpretação da história, etc.
A interacção social é, nesse sentido, portanto, assimétrica. Uma sociedade constitui-se diferenciando-se e excluindo. Como escreveu alguém, formar um grupo "é criar estrangeiros". Uma estrutura bipolar, essencial a toda a sociedade, coloca um "de fora" para que exista um "entre nós"; fronteiras, para que se desenhe um país interior; "outros", para que um "nós" tome corpo".
É nesse contexto que nasce e se fossiliza o que Freud chamou "narcisismo das pequenas diferenças", uma "pulsão instintiva" que acaba por aparecer, afinal, como que natural e estrangeira às relações sociais e à sua conflitualidade.
Mas esses "narcisismos" têm origem quer nas diferenças de classe, quer nas diferenças regionais. A este último nível tem curso o conflito a que chamo centro/periferia (isto não significa esquecer a multiplicidade de situações, colectivas e individuais, geradoras e reprodutoras de ambos os fenómenos).
Com efeito, o conjunto de actores gestores de "direitos adquiridos" vive numa configuração social, digamos num país, na qual um centro produtor (que participa da natureza do sagrado) das regras, das crenças e dos valores (a capital do País, a capital de uma província) está confrontado com uma periferia (o resto do País, o resto da província).
Os que estão na periferia relacionam-se com os que estão no centro através de um sentimento ambivalente de ciúme, repulsa e imitação.
Entre os mais sensíveis ou os mais inteligentes da periferia, pode surgir a sensação exacerbada de se encontrarem marginalizados da zona vital do centro.
As relações assimétricas dão origem à produção de imagens constantes e unificadas sobre o Outro, a essências supostas imutáveis e "automáticas" chamadas estereótipos.
Esses estereótipos são, ao mesmo tempo, (1) exercícios de identificação que confortam a imagem de honra que os grupos e as pessoas têm de si e (2) armas de combate na luta pelo acesso a recursos de poder raros.
Adaptado de Serra, Carlos (dir), Racismo, etnicidade e poder. Um estudo em cinco cidades de Moçambique. Maputo: Livraria Universitária, 2000, pp. 22-24.
2 comentários:
Gostei! :)
Interesso-me muito por estes temas, vou estar atenta à continuidade dos próximos post's.
Está este seu livro à venda em Portugal?
Creio que não, Helena.
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