31 março 2017

Aproxima-se o aniversário deste diário

Hipóteses sobre engenharia política em Moçambique [8]

O grande actor político comanda o real pelo imaginário – Balandier, Georges, Le pouvoir sur scènes. Paris: Balland, 1980, p. 15.
8. Número anterior aqui. As avaliações populares variam em função de muitas variáveis. Mas, dado que a maioria do nosso povo é camponesa, qualquer candidato será avaliado mais por aquilo que nele é colectivo (partido, por exemplo) do que por aquilo que nele é pessoa, individualidade. Quanto menor for a escolaridade e quanto mais rural for a comunidade, maior será a tendência para avaliar o partido X e não a pessoa Y. Nas cidades e em meios escolarizados, o programa do partido em si tem menor êxito, tanto menor quanto maior for a taxa de escolaridade. O que importa é a pessoa em si.

Ponto de interrogação

Lá onde todos chegam com um ponto final, o sociólogo parte com um ponto de interrogação.

30 março 2017

Hipóteses sobre engenharia política em Moçambique [7]

O grande actor político comanda o real pelo imaginário – Balandier, Georges, Le pouvoir sur scènes. Paris: Balland, 1980, p. 15.
7. Número anterior aqui. Avaliar o desempenho do governo constitui a coluna vertebral das campanhas eleitorais, seja através do partido governante, seja através dos partidos da oposição. Mas o que é governo? Aqui está uma pergunta cuja resposta provavelmente nada tem a ver com a imagem ao mesmo tempo múltipla e unificada que formamos e difundimos no conforto urbano dos gabinetes e dos artigos de jornal. Governo é uma coisa cujo significado pode variar localmente, regionalmente, péri-urbanamente, urbanamente, ruralmente.

Estereótipo

O estereótipo é a imagem distorcida de uma pessoa, de um grupo ou de um fenómeno, tanto mais forte e sistemática quanto mais forte e sistemática for a interacção e, especialmente, a luta entre grupos por acesso a recursos fundamentais.

29 março 2017

Hipóteses sobre engenharia política em Moçambique [6]

O grande actor político comanda o real pelo imaginário – Balandier, Georges, Le pouvoir sur scènes. Paris: Balland, 1980, p. 15.
6. Número anterior aquiAs zonas que foram ou são epicentros de conflito armado podem fazer a balança das preferências inclinar-se para um dado rumo, em função de lealdades castrenses consolidadas, da memória de sevícias sofridas, do registo magnificado de epopeias heróicas, da produção de heroísmos de luta, etc.
As pessoas podem ser meros veículos de determinações que subjugam e ultrapassam a sua independência e inutilizam a eficácia da engenharia política.

Ingenuidade

Há quem acredite que a precariedade social pode ser combatida e vencida no quadro das relações sociais que, porém, a segregam em permanência.

28 março 2017

Hipóteses sobre engenharia política em Moçambique [5]

O grande actor político comanda o real pelo imaginário – Balandier, Georges, Le pouvoir sur scènes. Paris: Balland, 1980, p. 15.
5. Número anterior aquiA patronagem, o clientelismo, a ameaça e o medo não podem ser excluídos da análise dos factores que influenciam e muitas vezes determinam o lado votal escolhido, mesmo a nível urbano, onde a gestão dos recursos de poder é uma arma eficaz para assegurar e monitorar lealdades.

Um prisma sobre Moçambique

Saiba sobre Moçambique através do mais recente número de um boletim editado por Joseph Hanlon, aqui.

Coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Confira na edição 1211, de 24/03/2017, página 28, disponível na íntegra aqui.

27 março 2017

Hipóteses sobre engenharia política em Moçambique [4]

O grande actor político comanda o real pelo imaginário – Balandier, Georges, Le pouvoir sur scènes. Paris: Balland, 1980, p. 15.
4. Número anterior aquiQuanto menor for a escolaridade e mais forte o peso das tradições e da palavra dos guardiões do pensamento local, mais forte é a tendência para seguir o que é dito, proposto ou imposto. Chefes comunitários, caciques políticos e curandeiros podem jogar um papel fundamental nesse campo.

Uma crónica semanal

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser feito tal como grafei.
Nota: o presente fungula pertence à edição física n.º 1211 do semanário "Savana" com data de 24/03/2017.

26 março 2017

Hipóteses sobre engenharia política em Moçambique [3]

O grande actor político comanda o real pelo imaginário – Balandier, Georges, Le pouvoir sur scènes. Paris: Balland, 1980, p. 15.
3. Número anterior aqui. A avaliação popular de candidatos e programas em tempo eleitoral e, por consequência, a direção do voto, dependem muitas vezes da engenharia política. A engenharia política é tão mais eficiente quanto menor for (1) o conjunto de recursos de sobrevivência diária, (2) a escolaridade, (3) a rede de contactos dos eleitores e (4) a distância dos eleitores em relação aos meios de comunicação.

Maputo

De lugar de encontros fugazes, a rua é reorientada e convertida à civilização do contacto calórico, das sociabilidades intensas, de uma geometria fractal que subverte as lógicas do espaço simétrico herdado da cidade colonial. Nem as linhas férreas são poupadas por essa invasão das lógicas populares.

25 março 2017

Hipóteses sobre engenharia política em Moçambique [2]

O grande actor político comanda o real pelo imaginário – Balandier, Georges, Le pouvoir sur scènes. Paris: Balland, 1980, p. 15.
2. Número inaugural da série aqui. Engenharia política é o conjunto de meios e de artefactos (do aparato circulante ao showmício, passando pelas prendas especiais) destinados a criar nos eleitores a convicção de que o político e/ou o partido proponente são capazes de resolver problemas sociais e dessa maneira melhorar a vida dos cidadãos. Espectáculo, teatralização e símbolo dão-se mãos nas campanhas de persuasão.

Dialéctica

Há sinais prenunciadores de um novo mundo no preciso momento em que as nossas categorias analíticas, carregadas de inércia, nos levam para o passado. 

24 março 2017

Hipóteses sobre engenharia política em Moçambique [1]

O grande actor político comanda o real pelo imaginário – Balandier, Georges, Le pouvoir sur scènes. Paris: Balland, 1980, p. 15.
1. Aproximam-se os anos eleitorais do país, 2018 e 2019. Eis por que me parece oportuno propor algumas hipóteses sobre engenharia política, mas sem identificar partidos e pessoas.

Resultados oficiais de um concurso

Os resultados oficiais da primeira edição do Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais, dedicada a Moçambique, são consultáveis aqui e, no facebook, aqui. Brevemente estará disponível o regulamento da segunda edição, desta feita para todo o mundo académico falante de português. [amplie a imagem em epígrafe clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato]

23 março 2017

148.º membro

O Dr. Armindo Maia, de Timor-Leste, tornou-se o 148º membro do fórum internacional da coleção "Cadernos de Ciências Sociais" da "Escolar Editora". O fórum tem representantes de 15 países. Saiba sobre Armindo Maia aqui e aqui.

Hipóteses sobre engenharia política em Moçambique

Não existe qualidade de ensino em si [5]

Os debates nos meios de comunicação sobre a qualidade da educação parecem sofrer da “síndrome do cobertor curto”: quando se puxa a reflexão para um lado, esquece-se outros lados do problema - Celso dos S. Vasconcellos aqui.
Número anterior aqui. Eis mais uma possibilidade: o objectivo central no ensino consiste em desenvolver a capacidade de crítica e em preparar cidadãos comprometidos com a transformação das relações sociais geradoras de desigualdades e injustiças sociais.
Assim, para concluir, não existe uma qualidade de ensino em si, salvo se a definirmos e defendermos de forma eticamente prescritiva.

Coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1210, de 17/03/2017, página 28, disponível na íntegra aqui.

22 março 2017

Não existe qualidade de ensino em si [4]

Os debates nos meios de comunicação sobre a qualidade da educação parecem sofrer da “síndrome do cobertor curto”: quando se puxa a reflexão para um lado, esquece-se outros lados do problema - Celso dos S. Vasconcellos aqui.
Número anterior aqui. Multipliquemos as possibilidades nas questões de partida no tocante ao ensino de qualidade. Por exemplo, o objectivo central do ensino pode visar uma determinada capacidade técnica ao nível das necessidades empresariais ou, como é de uso neoliberal dizer, das necessidades do mercado. Claro que também aqui os parâmetros de avaliação serão no sentido de avaliar isso e não a qualidade de ensino em si.