Se alguns de nós ainda podiam colocar reservas quanto à credibilidade dos relatos feitos pela imprensa estrangeira sobre a violência política no Zimbabwe, agora, com os relatórios primeiro do Parlamento Pan-Africano e a seguir, mais decisivamente, da missão de observadores da nossa SADC, as reservas terminaram: Robert Mugabe é um presidente ilegítimo, ele não é o presidente do Zimbabweanos. A sua eleição é uma farsa, um insulto ao seu povo. Os votos que o elegeram estão manchados de intimidação, de agressão e de sangue.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
30 junho 2008
Eleição no Zimbabwe não expressa vontade popular (observadores da SADC)
Através do porta-voz José Marques Barriga, ministro angolano da Juventude e Desportos, a missão de observadores da SADC deu hoje a conhecer o seu relatório sobre a segunda volta da eleição presidencial da qual saiu vencedor Robert Mugabe. Conclusão simples: a votação não expressa a vontade do povo zimbabweano devido à intimidação (despacho do jornalista Paulino Morteiro, Rádio Moçambique, noticiário das 19:30). Este é o segundo relatório africano crítico, após o do Parlamento Pan-Africano.
Aqui está uma posição honesta que deve ser saudada.
Aqui está uma posição honesta que deve ser saudada.
General queniano escreveu aos generais do Zimbabwe dizendo-lhes que são uma desgraça para o povo e para África
Um general queniano na reforma, Daniel Opande (na imagem), escreveu aos generais do Zimbabwe para dizer-lhes que eles são "uma desgraça para o povo e para África" (sic). Confira aqui. Se quer ler em português, use este tradutor).
Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.
Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.
Letrário Editora: primeira editora online
O Letrário, empresa de consultoria em Língua Portuguesa, acaba de lançar a primeira editora on-line, exclusivamente dedicada à publicação de contos originais e inéditos. Na Letrário Editora, o acesso aos contos publicados é totalmente livre.
Ana Carolina Carvalho, Casimiro de Brito, Fernando Esteves Pinto, João Camilo, Laís Chaffe, Luís Ene, Paulo Kellerman, Rogério Castanheira, Urbano Tavares Rodrigues, Wilson Gorges são os escritores com que a Editora acaba de se lançar.
A Letrário Editora, cuja criação foi inspirada no projecto de responsabilidade social do Letrário (O Nosso Coração é Vegetal), tem três objectivos:
. promover a leitura em suporte digital, de modo a evitar o abate de árvores para fabricação de papel,
. promover a criação de novos textos em Língua Portuguesa,
. fomentar a leitura de textos em Língua Portuguesa, divulgando novos talentos e talentos já reconhecidos.
Ana Carolina Carvalho, Casimiro de Brito, Fernando Esteves Pinto, João Camilo, Laís Chaffe, Luís Ene, Paulo Kellerman, Rogério Castanheira, Urbano Tavares Rodrigues, Wilson Gorges são os escritores com que a Editora acaba de se lançar.
A Letrário Editora, cuja criação foi inspirada no projecto de responsabilidade social do Letrário (O Nosso Coração é Vegetal), tem três objectivos:
. promover a leitura em suporte digital, de modo a evitar o abate de árvores para fabricação de papel,
. promover a criação de novos textos em Língua Portuguesa,
. fomentar a leitura de textos em Língua Portuguesa, divulgando novos talentos e talentos já reconhecidos.
Respostas a questionários
Sabeis que, com alguma regularidade, tento avaliar a vossa opinião sobre certos temas mediante questionários. Por exemplo, estão neste momento, do lado direito deste blogue, cinco questionários com temporalidades distintas, sobre: processo de Bolonha (22 respostas), xenofobia na África do Sul (58 respostas), eleições no Zimbabwe (91 respostas), razões da exoneração de Tobias Dai, ex-ministro da Defesa (104 respostas) e causas dos linchamentos (138 respostas). O tipo de questionários de que me socorro não permite fazer uso de variáveis-chave, por forma a cruzá-las. Mas permite, pelo menos, duas coisas: (1) avaliar o interesse dos leitores (e) avaliar os suas posições.
Ora, não só me apraz registar o interesse continuado dos leitores, como, também e especialmente, a preocupação de muitos em evitar o primarismo e a causalidade unívoca. Não são poucos aqueles que optam por considerar uma causalidade múltipla. Assim, por exemplo, xenofobia e linchamentos são fenómenos que devem ser encarados de forma multifactorial. Igualmente não são poucos aqueles que entendem que os questionários são omissos em questões ou em variáveis que deviam ter sido consideradas para melhor avaliação. Isso demonstra a grande cultura dos leitores, facto que muito me honra e muito me orgulha.
Dentro de alguns minutos os questionários vão ser retirados, mas vai surgir um sobre o Zimbabwe.
Espero que continueis a participar. Muito obrigado.
Ora, não só me apraz registar o interesse continuado dos leitores, como, também e especialmente, a preocupação de muitos em evitar o primarismo e a causalidade unívoca. Não são poucos aqueles que optam por considerar uma causalidade múltipla. Assim, por exemplo, xenofobia e linchamentos são fenómenos que devem ser encarados de forma multifactorial. Igualmente não são poucos aqueles que entendem que os questionários são omissos em questões ou em variáveis que deviam ter sido consideradas para melhor avaliação. Isso demonstra a grande cultura dos leitores, facto que muito me honra e muito me orgulha.
Dentro de alguns minutos os questionários vão ser retirados, mas vai surgir um sobre o Zimbabwe.
Espero que continueis a participar. Muito obrigado.
Blog da Comunicação
Este diário figura numa lista de blogues recomendados pelo portal brasileiro Blog da Comunicação. Obrigado ao jornalista Guilherme Freitas pela honra. O portal será também inserto na minha lista de elos.
UA: nenhuma crítica ao regime de Mugabe
No início da 11. ª cimeira da União Africana, hoje no Egipto, nenhum líder africano criticou o regime de Mugabe, de acordo com o enviado da Rádio Moçambique (RM), João de Brito Langa. A tónica incidiu nos esforços colectivos que os Africanos devem fazer para resolver os problemas básicos do continente, aí compreendidos os conflitos. Mas o jornalista reportou um relatório da Human Rights Watch que documenta a violência e a intimidação no Zimbabwe. Na continuidade do noticiário das 12:30, o locutor da RM deu conta da posição do Canadá - vai aplicar sanções ao Zimbabwe - e da China, que entende não deverem elas ser aplicadas.
Curo-tudo e vim do Congo!
Creio ser crescente o número de cura-tudo que afluem do estrangeiro ao nosso país e, especialmente, a esta cidade atractiva no mercado das crenças que se chama Maputo. Os cura-tudo ocupam um importante espaço neste diário. E como o Chagas Levene sabe disso, mandou-me, uma vez mais, a foto exposta, desta vez tirada no Bairro Patrice Lumumba. Obrigado, Chagas. Clique duas vezes com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.
As mãos africanas de Pilatos (7) (continua)
Por mais que me custe, como cidadão, escrever o que vou escrever, escrevo que, do ponto de vista político, o regime de Mugabe nada tem de irracional, não é produto da barbárie. É apenas intensamente....político. E é tão mais político quão mais hostilizado é. O problema consiste em encontrar a lógica que permeia o sistema, a chave que permite a sua inteligibilidade.
Por exemplo, o recurso permanente, a todos os níveis, na imprensa e nos comícios, aos sacrifícios da luta de libertação nacional - garante de legitimidade - aparece como a caução irrevogável de actos que não podem ser moralmente nem criticados nem criminalizados na óptica zanuísta. A tese do regime é a de que quem passou sacrifícios tem o direito de governar como bem lhe apetece, tem o direito de recusar quem não veio do Olimpo da guerrilha, quem, do Ocidente, tem o descaro de querer impor regras. De resto, é em nome do Povo e para o povo que o regime afirma governar.
Sim, claro, o regime da ZANU tem inimigos. Quando Mugabe e seus generais apontam sistematicamente o dedo ao imperialismo anglo-americano, tem parcialmente razão. Este imperialismo é real, pertence à geo-estratégia política, é intrusivo, é mandão, é destrutivo, é canibal, foi em parte devido às políticas e às pressões das instituições financeiras internacionais que surgiu "o fenómeno de pobreza extrema nas cidades, do crescimento desmesurado de bairros da lata nas zonas péri-urbanas das cidades assim como da economia informal." Mas a situação agravou-se muito "quando Robert Mugabe autorizou pagamentos não orçamentados aos "veteranos de guerra" em Novembro de 1997 na ordem dos 5 biliões de dólares Zimbabueanos e autorizou o envio de tropas para a RDC em meados de 1998."
Radicalizada pela crítica internacional sistemática, embarcada numa economia que designa de socialista, a elite da ZANU é inteligente, politicamente hábil: dispara contra o imperialismo e contra os brancos – portanto para os feiticeiros externos - no preciso momento em que tudo faz para ocultar os processos ínvios de acumulação de capital, o enriquecimento, a exploração interna, as alianças com outros imperialismos menos críticos ou absolutamente não críticos da gestão das sociedades (caso do imperialismo chinês), no preciso momento em que opera numa retórica populista e que busca apoio popular usando a luta armada, a raça, o sangue (raça e sangue fazem regra geral parte do alfobre fascista) e a imputação de natureza estrangeira ao MDC e de Tsvangirai, justamente para se proteger dessa nova frente elitária, sucessora da eliminada elite de Joshua Nkomo (os recursos minerais e as florestas, entre outras riquezas naturais, dão para muita coisa. E para muita disputa política).
Radicalizada pela crítica internacional sistemática, embarcada numa economia que designa de socialista, a elite da ZANU é inteligente, politicamente hábil: dispara contra o imperialismo e contra os brancos – portanto para os feiticeiros externos - no preciso momento em que tudo faz para ocultar os processos ínvios de acumulação de capital, o enriquecimento, a exploração interna, as alianças com outros imperialismos menos críticos ou absolutamente não críticos da gestão das sociedades (caso do imperialismo chinês), no preciso momento em que opera numa retórica populista e que busca apoio popular usando a luta armada, a raça, o sangue (raça e sangue fazem regra geral parte do alfobre fascista) e a imputação de natureza estrangeira ao MDC e de Tsvangirai, justamente para se proteger dessa nova frente elitária, sucessora da eliminada elite de Joshua Nkomo (os recursos minerais e as florestas, entre outras riquezas naturais, dão para muita coisa. E para muita disputa política).
Está bem, está bem: mas onde estamos agora no tocante às mãos africanas de Pilatos? E que atitude vamos agora tomar perante um regime rapidamente re-instituído desde ontem?
Golpe de Estado e jogo político (1)
A segunda volta da eleição presidencial no Zimbabwe levou-me a interrogar-me sobre a natureza do golpe de Estado. E ao fazer isso interroguei-me e interrogo-me, também, sobre a modernidade do cenário político africano.
O que é um golpe de Estado? Um golpe de Estado é a tomada do poder pela força, à margem da lei. Digamos que a figura clássica do golpe de Estado consiste no derrube de um governo através de uma acção militar. A Wikipedia oferece o seguinte quadro: “Um Golpe de Estado costuma acontecer quando um grupo político renega as vias institucionais para chegar ao poder e apela para métodos de coação, coerção, chantagem, pressão ou mesmo emprego direto da violência para desalojar um governo. No modelo mais comum de golpes (principalmente em países do Terceiro Mundo), as forças rebeladas (civis ou militares) cercam ou tomam de assalto a sede do governo (que pode ser um palácio presidencial ou real, o prédio dos ministérios ou o parlamento), às vezes expulsando, prendendo ou até mesmo executando os membros do governo deposto.”
Portanto, um golpe de Estado tem, na sua morfologia geral, dois aspectos clássicos: (1) é um acto violento de natureza castrense e (2) é um acto executado de fora (por um grupo grupo rebelde) para dentro (contra o grupo gestor do Estado). Portanto, num golpe de Estado a figura subversiva reside no grupo que exteriormente põe em causa o poder central constituído.
Mas pode um golpe de Estado ser efectuado por quem já está no poder, por quem o controla? Ser efectuado de dentro para fora? Estar contra a lei parecendo estar dentro dela?
Portanto, um golpe de Estado tem, na sua morfologia geral, dois aspectos clássicos: (1) é um acto violento de natureza castrense e (2) é um acto executado de fora (por um grupo grupo rebelde) para dentro (contra o grupo gestor do Estado). Portanto, num golpe de Estado a figura subversiva reside no grupo que exteriormente põe em causa o poder central constituído.
Mas pode um golpe de Estado ser efectuado por quem já está no poder, por quem o controla? Ser efectuado de dentro para fora? Estar contra a lei parecendo estar dentro dela?
29 junho 2008
Arcebispo Tutu apela à intervenção no Zimbabwe
O arcebispo sul-africano Desmond Tutu, Prémio Nobel da Paz, instou a comunidade internacional a intervir no Zimbabwe, inclusivamente mediante recurso a uma força de paz da ONU. Confira aqui em espanhol. Se quer ler em português, use este tradutor. Obrigado à Ana Alonso pelo envio da referência.
Mugabe declarado vencedor (e já tomou posse)
Segundo a BBC, citando a Comissão Eleitoral do Zimbabwe, o presidente Robert Mugabe, 84 anos, foi declarado vencedor por "esmagadora maioria" da eleição presidencial de sexta-feira. Eis os resultados:
Robert Mugabe: 2,150,269
Morgan Tsvangirai: 233,000
Spoiled ballots: 131,481
Voter turnout: 42.37%
Source: Zimbabwe Electoral Commission
Morgan Tsvangirai: 233,000
Spoiled ballots: 131,481
Voter turnout: 42.37%
Source: Zimbabwe Electoral Commission
Confira aqui. Use este tradutor para ler em português.
1.ª adenda às 18:48: rapidez surpreendente na saída dos resultados (creio que de um universo de seis milhões de eleitores inscritos), na véspera da cimeira da União Africana, a começar amanhã no Egipto. Vamos agora aguardar as reacções, vamos ver como reage a SADC, vamos a ver como vai reagir o nosso país, como vão reagir os partidos políticos, como vai reagir o presidente Guebuza, vamos a ver quem vai à cerimónia de tomada de posse para um mandato de mais cinco anos.
2.ª adenda às 19:09: na sua habitual coluna no semanário "Domingo" desta semana (p. 5), um histórico da Frelimo, Sérgio Vieira, criticou severamente o regime de Mugabe. Vamos aguardar pela postura de outros históricos e, mesmo, dos que, não sendo históricos, têm o dom do verbo neste país.
4.ª adenda às 19:48: segundo a Rádio Moçambique (em despacho do seu enviado a Harare, Paulino Morteiro), Mugabe já tomou posse como presidente da República. No seu primeiro discurso, pediu aos zimbabweanos unidade e crença na capacidade nacional de governação. O presidente segue para o Egipto já como chefe de Estado (noticiário das 19:30). Surpreendente rapidez na tomada de posse. E fascinante como o jornalista descreveu tecnica, placida e longamente os resultados obtidos, sem qualquer referência à forma como a eleição foi realizada.
5.ª adenda às 23:56: uma vez mais leia-se a forma como o jornalista Lázaro Manhica descreve a reeleição e o empossamento de Mugabe, na edição online do "Notícias" de amanhã, já disponível aqui.
Bispos católicos sul-africanos criticam severamente regime de Mugabe e de seus generais
Os bispos católicos da África do Sul condenaram duramente as "atrocidades" e o "barbarismo" (sic) do regime de Mugabe. As acções do regime merecem "rigorosa censura" (sic) - disseram -, as acções "do Sr. Mugabe e as dos seus generais, das suas esposas, dos seus apoiantes e dos chamados "veteranos de guerra" são ofensivas aos olhos de Deus. O julgamento aguarda" (sic) - acrescentaram. Confira aqui a carta dos bispos em inglês. Se pretender ler em português, use este tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, por me ter enviado a referência do portal.
Observação: reparem no silêncio sepulcral das igrejas de Moçambique.
1.ª adenda às 12:55: em documento apresentado esta manhã num hotel de Harare, observadores do Parlamento Pan-Africano declararam que a eleição presidencial do dia 27 não foi nem justa nem livre. Em ambiente tenso, hostil e volátil (sic), foram observados altos índices de intimidação e violência em todas as províncias do país, pessoas mortas e casas queimadas. Enquanto isso, aguarda-se para esta tarde o ponto de vista dos observadores da SADC (Rádio Moçambique, noticiário das 12:30).
3.ª adenda às 15:24: o jornal governamental zimbabweano The Herald continua silencioso, sem anunciar a vitória de Robert Mugabe. Confira aqui.
4.ª adenda às 17:20: membros dos Tory MPs britânicos acusados de possuirem acções em companhias que suportam o regime de Mugabe, considerado pelo The Independent como violento e agora ilegal. Dinheiro do sangue - assim intitula o jornal. Confira aqui. Obrigado ao Ricardo pelo envio da referência.
5.ª adenda às 18:03: a Comissão Eleitoral do Zimbabwe adiou para amanhã a divulgação dos resultados da eleição presidencial de sexta-feira, na qual Robert Mugabe foi o único concorrente. O presidente da comissão excusou-se a revelar as razões do adiamento. Enquanto isso, Mugabe viajará para o Egipto para estar presente na cimeira da União Africana que amanhã começa (Rádio Moçambique, noticiário das 18 horas).
6.ª adenda às 18:13: o Barclays Bank poderá sofrer sanções da União Europeia por ter permitido a abertura de contas a dois altos funcionários do gabinete do presidente Robert Mugabe. Confira aqui. Obrigado ao Ricardo pelo envio da referência.
Tinta vermelha
Com excepção do jornal governamental zimbaweano The Herald, não consegui encontrar um jornal online que escrevesse que a eleição presidencial de 27 no Zimbabwe foi livre, que as pessoas puderam votar livremente. Os indicadores são no sentido de uma massiva campanha de intimidação. Não ter o dedo com a tinta vermelha indelével, foi e é sinal de desobediência ao regime, como, aliás, já tinha sido sugerido neste diário. Confira por exemplo aqui. Ou neste jornal indiano. Se quer ler em português, use este tradutor. Entretanto e de acordo com a FolhaOnline, o vice-ministro da Informação do Zimbabwe, Bright Matonga, "disse que os governos estrangeiros precisam respeitar o Zimbábue. "Eles devem ver o país como um parceiro por causa do que temos a oferecer ao mundo e por causa de nossa estabilidade, nossa educação e de nossos recursos minerais", disse, segundo a rede americana de notícias CNN" (deste último portal reproduzi a imagem à direita). Finalmente, sugiro-lhe que continue a acompanhar a minha série sobre o Zimbabwe.
Livro de afectos
Editado em Abril, o livro é da autoria de Maria de Lurdes Brassard, tem ilustração do pintor Roberto Chichorro e prefácio da escritora Lília Momplé. Nele podemos encontrar dezenas de receitas da nossa rica e multicultural culinária. Quer provar peixe à Lumbo? Frango à zambeziana? Xincua? Xiguinha com feijão nhemba? Então experimente as receitas desta obra cuidada, linda, um livro de afectos como escreveu Lília. Parabéns à Milú!
Apenas Deus poderá remover-me
Um cartoon do dia 26 do excelente cartoonista sul-africano Zapiro, a propósito de Robert Mugabe e do Zimbabwe. Confira aqui.
Zenaida
Vivo, ágil, atento, crítico, irónico (quanta falta faz a ironia nos nossos blogues!), com excelente selecção de cartoons, estrangeiro à verborreia chata e ao intelectualismo balofo, doce quando necessário: este o blogue da Zenaida. Um testemunho exemplar na blogosfera moçambicana.
28 junho 2008
Zimbabwe (resultados conhecidos ainda hoje?)
Leia aqui sobre o Zimbabwe e sobre alguns resultados eleitorais. E saiba que Bush exige agora mais sanções contra Mugabe e "seus aliados", falando em "governo ilegal" e "eleição fraudulenta". O jornal governamental zimbaweano The Herald ainda não exibe resultados oficiais.
Se quer ler em português, use este tradutor.
1.ª adenda às 22:10: o Canadá tenciona aplicar sanções diplomáticas ao Zimbabwe.
2. ª adenda às 23:11: parece que os votos já estão contados e eventualmente ainda hoje poderão começar a ser divulgados. Se assim for, será impressionante a rapidez da contagem, se tivermos em conta o que se passou na primeira volta.
3. ª adenda às 00:01 de 29: A Rádio Moçambique acaba de informar que se aguarda a saída dos resultados (em contagem manual) da eleição presidencial de anteontem, podendo Robert Mugabe ser proclamado presidente da República ainda hoje. A polícia advertiu de que não tolerará desordem (noticiário). É agora possível confirmar a rapidez impressionante da contagem.
As mãos africanas de Pilatos (6) (continua)
Parece ser mais fácil, bem mais visível, analisar um lado da reforma agrária encetada em 2000 (um ano depois do nascimento do MDC) no Zimbabwe, porque aí as coisas surgem a duas cores: os pretos contra cerca de quatro mil famílias brancas. E surgindo a duas cores, o fenómeno desperta uma imensa reacção de brancos e de pretos, dá origem a toda uma pujante adrelanina racializante.
Tenho para mim que era injusto uma porção significativa da terra estar nas mãos de uma minoria. Tenho para mim que houve e há muito cinismo internacional na forma como se procurou e se procura transformar (racializando-a) uma exigência legítima na quase razão de ser da crise zimbabweana, tanto mais que tempo houve em que Washington e Londres sustentaram o regime de Mugabe. E, finalmente, tenho para mim que não podemos santificar o MDC e Morgan Tsvangirai, vê-los como puros Robins Hoods exclusivamente preocupados com o povo.
A virulência dos ataques da ZANU ao MDC (transformado no ariete do imperalismo e no óbice à genuína reforma agrária) requer recordar dois fenómenos quanto a mim importantes: a decapitação da elite Ndebele seguida da perseguição do seu povo e o enriquecimento na campanha militar congolesa. No primeiro caso gerando o monopólio do poder, no outro assegurando as bases do enriquecimento da elite da ZANU-PF.
A virulência dos ataques da ZANU ao MDC (transformado no ariete do imperalismo e no óbice à genuína reforma agrária) requer recordar dois fenómenos quanto a mim importantes: a decapitação da elite Ndebele seguida da perseguição do seu povo e o enriquecimento na campanha militar congolesa. No primeiro caso gerando o monopólio do poder, no outro assegurando as bases do enriquecimento da elite da ZANU-PF.
Ora, tudo o que parece, à superfície, sugerir a demência de Mugabe ao estar optimista e calmo face aos resultados da eleição presidencial de ontem, tudo o que parece ser não é, afinal: na realidade, o optimismo de Mugabe tem razão de ser, Mugabe que é o ícone de uma elite que enriqueceu e tudo fará para proteger os seus privilégios, através de um exército, de uma polícia e de forças para-militares poderosas (tudo leva a crer que hoje é uma junta militar que governa o país e por isso não nos devemos surpreender com as constantes intervenções de comandantes militares enquanto produtores de opinião no jornal governamental zimbabweano, The Herald).
Todavia, a elite da ZANU sabe bem - e há muito tempo - que está a ser contestada nacional, regional e internacionalmente. E sabe bem que faz face a uma nova elite, forte e desejosa de chegar ao poder desde 1999, a elite traduzida no MDC e em Morgan Tsvangirai, uma elite que é, de alguma forma, a sucessora indesejável daquela que a ZANU decapitou no tocante aos Ndebele.
Quando Mugabe disse ontem que seria magnânimo com a oposição caso vencesse a eleição, ele limitou-se a dizer que a ZANU estava finalmente disposta a admitir uma partilha de poder que, porém, assegurasse a continuidade do monopólio do partido com uma pequena fatia distribuída ao MDC. Ele sabe bem que o espectro de contestação nacional, regional e internacional é, agora, grande. Por isso, embora estando ainda em posição de aparente vantagem interna, é para a ZANU conveniente recalibrar a correlação de forças, modernizá-la, adaptá-la, criar um semblante de partilha de poder, um governo de unidade nacional que permita a reprodução dos seus privilégios e satisfaça temporiamente a ânsia da elite concorrente, do MDC, um governo de unidade nacional que amorteça a indignação internacional e acalme a tempestade interna, um governo que de alguma maneira trave o efeito da acusação internacional de que o governo a sair da eleição de 27 é ilegítimo.
Quando Mugabe disse ontem que seria magnânimo com a oposição caso vencesse a eleição, ele limitou-se a dizer que a ZANU estava finalmente disposta a admitir uma partilha de poder que, porém, assegurasse a continuidade do monopólio do partido com uma pequena fatia distribuída ao MDC. Ele sabe bem que o espectro de contestação nacional, regional e internacional é, agora, grande. Por isso, embora estando ainda em posição de aparente vantagem interna, é para a ZANU conveniente recalibrar a correlação de forças, modernizá-la, adaptá-la, criar um semblante de partilha de poder, um governo de unidade nacional que permita a reprodução dos seus privilégios e satisfaça temporiamente a ânsia da elite concorrente, do MDC, um governo de unidade nacional que amorteça a indignação internacional e acalme a tempestade interna, um governo que de alguma maneira trave o efeito da acusação internacional de que o governo a sair da eleição de 27 é ilegítimo.
Sugestão: permita-me sugerir-lhe que leia o Bloomberg aqui. Se quer ler em português, use este tradutor.
Dialogar e chegar a um acordo
Não é uma boa coisa aplicar sanções contra o Zimbabwe, o melhor é fazer como se fez no Quénia: dialogar e chegar a um acordo – afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros do Quénia, Moses Watangula, no decorrer de uma cimeira da União Africana realizada no Egipto. Enquanto isso, um jornalista zimbabweano afirmou que em alguns locais de votação no Zimbabwe havia muitos boletins de voto estragados. Confira aqui na BBC. Confira também o que escreve o The Herad a propósito da cimeira. Por outro lado, segundo a Reuters, indicadores apontam para uma grande vitória de Mugabe. Se quer ler em português, socorra-se deste tradutor.
Observação: creio que Watangula está a propor um Governo de Unidade Nacional de acordo com o modelo queniano. Leia ou recorde aqui.
Blogues pessoais actualizados
Foram actualizados cartas de amor, diário de um amante das palavras e lugar dos sonhos. Se calhar, em cada sábado habita o desejo de dar às coisas da vida a vida da palavra diferente e doce.
Povo votou pela ZANU e pela terra – escreve "The Herald" feliz
O The Herald, jornal governamental zimbabweano, tem hoje um relato cheio de regozijo. Com efeito, reporta que o povo votou em massa e em paz na eleição presidencial de ontem. O retirado candidato Morgan Tsvangirai aparece referido como se tivesse participado. O Camarada (sic) Joice Mujuru, vice-presidente, surge a afirmar que a votação mostrou o cometimento da nação na defesa da terra. Por sua vez, o Camarada senador Josaya Hungwe aparece a afirmar que “isto é uma clara vitória da ZANU-PF e do povo do Zimbabwe”. O jornal anuncia que os resultados irão saindo à medida que estiverem prontos.
Entretanto, existem relatos afirmando que os Zimbabweanos foram forçados a votar. Confira por exemplo aqui. E leia ou recorde aqui.
Se quer ler em português, faça uso deste tradutor.
Entretanto, existem relatos afirmando que os Zimbabweanos foram forçados a votar. Confira por exemplo aqui. E leia ou recorde aqui.
Se quer ler em português, faça uso deste tradutor.
27 junho 2008
As mãos africanas de Pilatos (5) (continua)
Vamos lá mais andar um pouco mais nesta série, através de um curto texto de continuidade.
Tenho procurado mostrar que é necessário ver mais profundamente o problema da violência política, violência que está na raiz da postura assumida pelos críticos africanos que recusam serem as mãos africanas de Pilatos (saibam que tentarei explicar proximamente por que razão aqui em Moçambique não tomamos partido).
Igualmente já sugeri ser bom deixar de analisar Mugabe como um monstro, como pessoa em si. Naturalmente que talvez se possa pensar na frase de Desmond Tutu, a saber: Mugabe é o arquétipo do ditador africano. Mas sugeri que é de sistemas e de suas lógicas sociais que devemos falar.
E agora sugiro que é necessário avaliar ZANU-PF e MDC num molde analítico mais amplo do que aquele que consiste em vê-los como meros rivais políticos em luta pela democracia em si ou em vê-los a primeira como sua negadora e o segundo como seu defensor.
Tenho procurado mostrar que é necessário ver mais profundamente o problema da violência política, violência que está na raiz da postura assumida pelos críticos africanos que recusam serem as mãos africanas de Pilatos (saibam que tentarei explicar proximamente por que razão aqui em Moçambique não tomamos partido).
Igualmente já sugeri ser bom deixar de analisar Mugabe como um monstro, como pessoa em si. Naturalmente que talvez se possa pensar na frase de Desmond Tutu, a saber: Mugabe é o arquétipo do ditador africano. Mas sugeri que é de sistemas e de suas lógicas sociais que devemos falar.
E agora sugiro que é necessário avaliar ZANU-PF e MDC num molde analítico mais amplo do que aquele que consiste em vê-los como meros rivais políticos em luta pela democracia em si ou em vê-los a primeira como sua negadora e o segundo como seu defensor.
Duas perguntas-chave: por que disse Mugabe hoje que estava satisfeito, optimista? E por que disse que estava disposto a ser compreensivo para com a oposição?
Adenda: a edição online de amanhã do “Notícias” já está disponível. Creio valer a pena ler a forma como o enviado do jornal ao Zimbabwe, Lázaro Manhiça, descreveu a eleição.
Polícia desaconselhou marcha em Maputo
Não se realizou hoje na cidade de Maputo a marcha de solidariedade para com o povo do Zimbabwe, organizada pelo Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais e pela Liga dos Direitos Humanos, por ter sido desaconselhada pelo comando geral da polícia, entre outras razões por não haver efectivo policial para acompanhar o evento. O jurista Custódio Duma, da Liga dos Direitos Humanos, achou estranho o desaconselho, dado - disse - tratar-se de uma marcha pacífica. Afirmou que tudo está ser feito para se obter autorização para que a marcha se realize num outro dia. Disse igualmente que uma moção será entregue à embaixada do Zimbabwe (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30).
Adenda às 10:27 de 28: se a Rádio Moçambique usou a palavra “desaconselhou”, o “Notícias” usou a palavra “abortou”. Confira aqui.
Intimidação, optimismo de Mugabe e recusa dos G8
Há muitos indicadores de intimidação flagrante dos eleitores do Zimbabwe. Leia, por exemplo, aqui e aqui. Mas quando esta manhã votou num bairro da capital, Harare, juntamente com sua esposa Grace e dois filhos, o presidente Robert Mugabe, único candidato na segunda volta da eleição presidencial de hoje (votação a terminar às 19 horas) , afirmou que se sentia em forma e muito optimista. Mas os G8 já declararam que não vão reconhecer os resultados eleitorais (Rádio Moçambique, noticiário das 18 horas). Se quer ler em português, utilize este tradutor.
Observação: aguardo com curiosidade a posição dos observadores regionais, especialmente do nossos.
Zimbabwe: sobre como se enriquece
Vamos lá ver: a crise no Zimbabwe começou com a tomada das terras dos farmeiros brancos em 2000 ou começou antes, em 1996, quando Mugabe mandou milhares de soldados para o Congo, numa operação de lucros fabulosos para a elite no poder com o saque das minas e a venda de armas ao regime de Kabila? Se lendo o que vai a seguir ler pode aprender de como se faz fortuna com guerras, pode, também, por essas guerras, saber notícias de dois senhores de negócios obscuros que refiro com regularidade neste diário: Billy Rautenbach e de John Bredenkamp, ligados ao regime de Mugabe. Confira aqui. Depois saiba um pouco dos negócios mineiros no Zimbabwe e do financiamento da campanha eleitoral de Mugabe. Se quer ler em português, utilize este tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio das referências.
Sugestão: por favor continuem a passar os olhos pelo The Herald, jornal governamental zimbabweano, há lá coisas interessantes.
Sugestão: por favor continuem a passar os olhos pelo The Herald, jornal governamental zimbabweano, há lá coisas interessantes.
O problema da tinta
Muito potencialmente (1) não votar hoje na presidencial onde apenas Robert Mugabe concorre e não exibir o dedo com a tinta comprovativa ou (2) votar em Morgan Tsvangirai (os boletins de voto estão em vigor), podem ser riscos no Zimbabwe hoje. Confira aqui. Entretanto, o presidente disse que iria ser magnânimo com a oposição em caso de vitória. Mas alertou: nenhum país pode ditar regras ao Zimbabwe, mesmo ao nível da União Africana e da SADC.
José Machado pega o touro pelos cornos
No "Notícias", o jornalista José Machado pega o touro pelos cornos: "O que queremos dizer é que caso se realize a eleição, o Zimbabwe deve ser suspenso quer da SADC quer da UA, até que se encontre uma plataforma para a estabilização do país. Não é a hostilização ou a diabolização do regime de Harare que defendemos, mas simplesmente que cada Estado-membro seja coerente com os princípios democráticos que adoptou ante o seu povo e o mundo. Ou será que todos têm telhados de vidro? "
Observação: o "Notícias" por vezes surpreende-me pela positiva, como neste caso, jornal que, por regra, costuma dizer que existe uma "alegada" violência ou que existem "alegadas ameaças" no Zimbabwe. Obrigado ao leitor que, em comentário, me alertou para esse trabalho. Na série que escrevo falarei da impossibilidade histórica de aqui em Moçambique tomarmos partido, oficial e politicamente...
A eleição "khaki"no Zimbabwe
O Africa Confidential analisa a eleição presidencial hoje no Zimbabwe e refere a determinação dos militares em se manterem no poder. Confira aqui. Se quer ler em português, utilize este tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.
Adenda: leia aqui uma entrevista com o jornalista zimbaweano Zenzele Ndebele, na qual, além do futuro do Zimbabwe, ele aborda a purga efectuada entre os Ndebele pelo regime de Mugabe, através da brigada Gukurahundi, suposta ter morto 20.000 membros desse grupo étnico.
26 junho 2008
As mãos africanas de Pilatos (4) (continua)
Vamos lá, mais um texto da série.
O que vai passar-se amanhã? O que vai passar-se amanhã é que Robert Mugabe vai ganhar e, depois, vai ser solenemente proclamado presidente da República. Tudo com muita euforia. A ZANU-PF vai mostrar que quem rege os destinos do país é ela e mais ninguém. Líderes africanos protestaram? ONU protestou? Pediu-se o adiamento das eleições? Homens como Tutu e Mandela criticaram o governo e a violência estatal, deixaram de ser silenciosos e passaram a fazer ruído, recusam ser as mãos africanas de Pilatos? Isso não conta, eles nada sabem do que realmente se passa no Zimbabwe, alguns estão influenciados, directa ou indirectamente, pelo inimigo, pelos doadores, especialmente o presidente da Zâmbia.
O Sr. Tsvangirai não vai participar? Fosse ou não, isso não teria nem tem relevo, pois ele é simples e pequena marioneta do inimigo, que ainda por cima não fez a luta armada. Acresce que os computadores estão agora, certamente, bem mais atentos.
Mas, afinal, o que é verdadeiramente importante para a elite gestora do país, descrita no número anterior desta série? A simples contabilidade de votos?
O mais importante é, será a presença imponente de povo nas mesas de voto, daquele que resta, que não emigrou. É aqui onde está o real voto aguardado pelo partido ZANU-PF, o voto da presença massiva, da confiança, com a imprensa a documentar. É aqui onde habita o problema. A abstenção é a grande inimiga. Quanto mais povo votar, mais forte será o argumento de que, afinal, o país é bem dirigido, é bem governado.
Por isso partido e Estado têm andado numa cerrada campanha de distribuição de bens de consumo e de assistência social. Enquanto isso, em meio a um grande aparato militar e policial, dia após dia têm feito apelo ao passado, à luta de libertação, aos mortos na guerra, têem recordado a colonizacão branca, têm tentado promover o ódio aos farmeiros brancos que ainda restam, o ódio ao imperialismo ango-americano. Mas, especialmente, ódio contra Morgan Tsvangirai e o MDC, considerados como simples emanações do inimigo, dos Ingleses, dos Americanos, do imperialismo. Não há qualquer hipótese de a oposição existir fora desse labelo. O pensar diferente será sempre obra do inimigo. Gente da terra não tem cabeça: a cabeça está fora, vem de fora, é branca, é mão estrangeira, terceira força.
E a conclusão tem sido sempre a mesma: o que se está a passar no Zimbabwe nada tem a ver com a ZANU e com o Estado, mas com o passado colonial e com o imperialismo. Se não fossem passado que quer voltar e imperialismo sempre omnipresente, o povo teria tudo e seria feliz. O país está calmo? Sempre esteve, ao contrário do que tem proclamado o imperialismo. Mas existem algumas bolsas de violência? Sim, algumas, provocadas pela oposição, mas bolsas controladas.
O que vai passar-se amanhã? O que vai passar-se amanhã é que Robert Mugabe vai ganhar e, depois, vai ser solenemente proclamado presidente da República. Tudo com muita euforia. A ZANU-PF vai mostrar que quem rege os destinos do país é ela e mais ninguém. Líderes africanos protestaram? ONU protestou? Pediu-se o adiamento das eleições? Homens como Tutu e Mandela criticaram o governo e a violência estatal, deixaram de ser silenciosos e passaram a fazer ruído, recusam ser as mãos africanas de Pilatos? Isso não conta, eles nada sabem do que realmente se passa no Zimbabwe, alguns estão influenciados, directa ou indirectamente, pelo inimigo, pelos doadores, especialmente o presidente da Zâmbia.
O Sr. Tsvangirai não vai participar? Fosse ou não, isso não teria nem tem relevo, pois ele é simples e pequena marioneta do inimigo, que ainda por cima não fez a luta armada. Acresce que os computadores estão agora, certamente, bem mais atentos.
Mas, afinal, o que é verdadeiramente importante para a elite gestora do país, descrita no número anterior desta série? A simples contabilidade de votos?
O mais importante é, será a presença imponente de povo nas mesas de voto, daquele que resta, que não emigrou. É aqui onde está o real voto aguardado pelo partido ZANU-PF, o voto da presença massiva, da confiança, com a imprensa a documentar. É aqui onde habita o problema. A abstenção é a grande inimiga. Quanto mais povo votar, mais forte será o argumento de que, afinal, o país é bem dirigido, é bem governado.
Por isso partido e Estado têm andado numa cerrada campanha de distribuição de bens de consumo e de assistência social. Enquanto isso, em meio a um grande aparato militar e policial, dia após dia têm feito apelo ao passado, à luta de libertação, aos mortos na guerra, têem recordado a colonizacão branca, têm tentado promover o ódio aos farmeiros brancos que ainda restam, o ódio ao imperialismo ango-americano. Mas, especialmente, ódio contra Morgan Tsvangirai e o MDC, considerados como simples emanações do inimigo, dos Ingleses, dos Americanos, do imperialismo. Não há qualquer hipótese de a oposição existir fora desse labelo. O pensar diferente será sempre obra do inimigo. Gente da terra não tem cabeça: a cabeça está fora, vem de fora, é branca, é mão estrangeira, terceira força.
E a conclusão tem sido sempre a mesma: o que se está a passar no Zimbabwe nada tem a ver com a ZANU e com o Estado, mas com o passado colonial e com o imperialismo. Se não fossem passado que quer voltar e imperialismo sempre omnipresente, o povo teria tudo e seria feliz. O país está calmo? Sempre esteve, ao contrário do que tem proclamado o imperialismo. Mas existem algumas bolsas de violência? Sim, algumas, provocadas pela oposição, mas bolsas controladas.
Mas, afinal, o inimigo inexiste, é bonzinho, menino bem-comportado? Não. Ele existe e igualmente comete o pecado da absolutização, coisa que tentarei mostrar na continuidade.
As mãos africanas de Pilatos (3) (continua)
Prossigo a série.
O que regra geral tem surgido na crescente crítica ao regime de Mugabe – crítica em corte com a anterior postura de diplomacia silenciosa, em ruptura com as mãos africanas de Pilatos - é a violência política, a perseguição sistemática da oposição. Sem dúvida que a violência é real.
Mas qual a origem dessa violência? É uma violência em si? Gerada pela simples presença do MDC e de Morgan Tsvangirai, espécie de violência psicológica, de alergia? Não.
Mas qual a origem dessa violência? É uma violência em si? Gerada pela simples presença do MDC e de Morgan Tsvangirai, espécie de violência psicológica, de alergia? Não.
Creio que quer Desmond Tutu quer Nelson Mandela condenaram bem mais do que a simples violência política. Na verdade, condenaram as condições sociais (e Desmond Tutu tem sido tenaz nessa linha) que permitem as desigualdades sociais geradoras de violência em geral e de violência política em particular.
Ora, analisar o Zimbabwe é (ou deve ser ou devia ser, como quiserdes) bem mais do que transformar Robert Mugabe no mau da festa, no monstro que gere um país a seu bel-prazer. Nada em Mugabe é indicador de senilidade, de aberração. Por trás da ilógica de um comportamento é preciso encontrar a lógica de um sistema social cerrado, com regras.
Na realidade, é de uma elite rapidamente enriquecida (aí compreendida a militar, a vários níveis) que devemos dar conta, que não podemos marginalizar no xadrez político do Zimbabwe, de uma elite possuidora do controlo de um poderoso exército e de uma poderosa polícia, de uma elite cada vez mais castrense na luta, de uma elite orgulhosa do seu papel de veterana de guerra (falo da ala dirigente) e convencida de que apenas quem libertou a pátria a pode dirigir, de uma elite vivendo em meio a um povo empobrecido e crescentemente migrante.
O presidente Mugabe é, apenas, o ícone dessa elite. São as condições de produção e de reprodução dessa elite que amanhã estarão em jogo em eleições nas quais apenas participará o próprio Mugabe.
A violência que existe no Zimbabwe é bem mais do que um exercício da ZANU-PF contra o MDC, Morgan Tsvangirai ou os Britânicos: é, especialmente, uma luta pela preservação das condições sociais que permitem à elite no poder a sua reprodução enquanto classe dominante, com um apelo constante aos valores primordiais e sagrados da luta de libertação.
Mugabe é o único candidato amanhã
O presidente Robert Mugabe é o único candidato na segunda volta das eleições presidenciais de amanhã no Zimbabwe, pois Morgan Tsvangirai, que continua refugiado na Embaixada da Holanda em Harare, não vai participar, tal como ontem anunciou em conferência de imprensa. O presidente Mugabe pediu a todos os Zimbabweanos para acorrerem às urnas por forma a mostrarem a vontade nacional (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30).
Amanhã: marcha de solidariedade para com povo zimbabweano
Do Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais recebi um comunicado de imprensa dizendo que amanhã, em parceria com a Liga dos Direitos Humanos, na cidade de Maputo, organiza uma marcha pacífica e ordeira de solidariedade para com o povo zimbabweano. A marcha inicia-se às 15 horas, com partida na Praça Mugabe, terminando na Embaixada do Zimbabwe com a entrega de uma moção. O comunicado afirma que as Nações Unidas, a União Africana e a SADC pediram o adiamento das eleições devido "à onda de violência que vem caracterizando o Zimbabwe desde as eleições de 29 de Março".
Investidores russos no Zimbabwe
Um jornal zimbabweano reporta que investidores russos estão interessados no Zimbabwe, com milhões de dólares disponíveis. Há, no país, ouro, platina, diamantes e carvão à barda. Confira aqui. Use este tradutor se quer ler em português. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.
As mãos africanas de Pilatos (2) (continua)
A situação agravou-se, a situação agrava-se rapidamente no Zimbabwe, amanhã é dia da segunda volta das eleições presidenciais. Durante anos, esteve em vigor entre nós o que se convencionou chamar diplomacia silenciosa. O que significou isso na prática? Significou homologarmos o que se estava a passar na terra do Munhumutapwa. Por um lado, era preciso compreender que o Zimbabwe saía de uma dominação colonial, era preciso compreender a pressão britânica, era preciso, simplesmente, compreender o aguilhão colonial e, portanto, o ressaibo do colonizado, a sua alma ferida. Por outro lado, múltiplos laços de camaradagem forjados nas lutas de libertação impediam e certamente continuam a impedir que se visse e se veja para além do quadro recorrente do aguilhão colonial.
Essas duas situações criaram o quadro maniqueísta e cómodo dos bons (regime de Mugabe) hostilizados pelos maus (Britânicos e aliados), pretos de um lado, brancos do outro. Não é por acaso que uma parte significativa das análises que proliferam no mercado assenta nessa mezinha racializante, politicamente útil e simbolicamente compensadora. E, facto imponente, sempre que se pretende analisar o que hoje se passa no Zimbabwe, os analistas da mezinha logo embarcam para o passado para aí colherem, puro e definitivo, o sofrimento do colonizado e através dele tudo justificarem, tudo explicarem pela vitimização histórica, musculados e intransigentes. É essa, sempre, aliás, a tónica do The Herald.
Acontece, porém, que pouco a pouco, face ao caudal de violência estatal no Zimbabwe, vozes africanas de peso começaram a soltar-se (algumas sempre estiveram soltas) da rede maniqueísta, descolonizaram-se, ganharam a independência (entre nós, aqui em Moçambique, não são poucas as vozes, de várias latitudes, que frontamente têem denunciado o que se passa no Zimbabwe). E começaram a apontar o dedo a um problema real: a violência estatal, a exploração, também podem ser - e são - africanas.
Por outras palavras: essas vozes, algumas delas das mais nobres vozes da história da humanidade – Mandela e Tutu, por exemplo – e com um passado de crítica afinal já bem antigo, recusaram serem as mãos africanas de Pilatos. Sem dúvida que por agora é apenas condenação. Mas já é um passo importante num processo.
A realidade é que a uma exploração branca sucedeu no Zimbabwe uma exploração preta. Certamente muitos se recordam ainda de um pensamento emblemático do nosso Samora Machel: o explorador não tem raça. Na verdade, a exploração não tem nem raça nem pátria. E se não podemos esquecer o tempo que passou, como diz uma famosa canção nossa da luta, não podemos também esquecer o tempo que passa.
Essas duas situações criaram o quadro maniqueísta e cómodo dos bons (regime de Mugabe) hostilizados pelos maus (Britânicos e aliados), pretos de um lado, brancos do outro. Não é por acaso que uma parte significativa das análises que proliferam no mercado assenta nessa mezinha racializante, politicamente útil e simbolicamente compensadora. E, facto imponente, sempre que se pretende analisar o que hoje se passa no Zimbabwe, os analistas da mezinha logo embarcam para o passado para aí colherem, puro e definitivo, o sofrimento do colonizado e através dele tudo justificarem, tudo explicarem pela vitimização histórica, musculados e intransigentes. É essa, sempre, aliás, a tónica do The Herald.
Acontece, porém, que pouco a pouco, face ao caudal de violência estatal no Zimbabwe, vozes africanas de peso começaram a soltar-se (algumas sempre estiveram soltas) da rede maniqueísta, descolonizaram-se, ganharam a independência (entre nós, aqui em Moçambique, não são poucas as vozes, de várias latitudes, que frontamente têem denunciado o que se passa no Zimbabwe). E começaram a apontar o dedo a um problema real: a violência estatal, a exploração, também podem ser - e são - africanas.
Por outras palavras: essas vozes, algumas delas das mais nobres vozes da história da humanidade – Mandela e Tutu, por exemplo – e com um passado de crítica afinal já bem antigo, recusaram serem as mãos africanas de Pilatos. Sem dúvida que por agora é apenas condenação. Mas já é um passo importante num processo.
A realidade é que a uma exploração branca sucedeu no Zimbabwe uma exploração preta. Certamente muitos se recordam ainda de um pensamento emblemático do nosso Samora Machel: o explorador não tem raça. Na verdade, a exploração não tem nem raça nem pátria. E se não podemos esquecer o tempo que passou, como diz uma famosa canção nossa da luta, não podemos também esquecer o tempo que passa.
A "hora do fecho" do "Savana"
Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "Na hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com a "hora do fecho" desta semana, do qual reproduzo de imediato, como acepipe, o primeiro parágrafo: "Ainda as chamas não foram debeladas no INSS já há novos incendiários a atearem a fogueira na seguradora estatal. Muitos nomes, acusações gravíssimas, descaminhos e compadrios. Só que jornais são gestão mais complexa que mensagem anónima de correio electrónico e é preciso investigar se é fogo de verdade ou é bombinha de mau cheiro…" (o "Savana" refere-se à EMOSE; também recebi a mensagem por email). Importe o texto completo aqui.
Ainda sobre o 25 de Junho com o editorial do "Savana"
É sempre fascinante (e eventualmente natural) avaliarmos as coisas da vida e depois dizermos que elas tiveram aspectos maus e bons. Por exemplo, sobre o 25 de Junho, dia e mês da nossa independência em 1975, ontem assinalada. Nem todos nós conseguimos pensar no sistema social que em nós produz os conceitos de bom e de mau, regra geral esse sistema obnibula a compreensão dos seus fundamentos. Todavia, no editorial do semanário "Savana" desta semana decidiu-se ir um pouco mais fundo na avaliação do 25 de Junho, decidiu-se ir para além do bom e do mau, decidiu-se reflectir sobre o sistema. Permitam-me reproduzir, dele, o seguinte: "O poder político nessas circunstâncias vira uma fonte de acumulação (ilícita) de riqueza, uma plataforma de negociação de contratos empresariais e de acumulação de negócios pessoais em torno dos quais gravita uma pequena minoria de acólitos, amigos e familiares. É quando o poder se torna pessoal, distribuído na forma de delegacia a um grupo de aparitches cuja missão é criar um semblante de governabilidade, o resultado é que os benefícios da independência nunca se fazem sentir entre os menos fortes e influentes da sociedade. É neste ambiente de prosperidade ilusória que prolifera o discurso da retórica vazia, retomado, repetido e ampliado pelos elementos da corte por quantas vezes for necessário para fazer passar a falsa ideia de que se está a trabalhar para o povo, que entretanto vai sobrevivendo na sua condição de indigência absoluta. Este é o protótipo de um Estado tipicamente falhado". Importe e leia o texto completo aqui.
O que Nkomo escreveu a Mugabe em 1983
O jornalista Ericino de Salema tem na edição desta semana do semanário “Savana” - já na rua - um trabalho sobre o que o falecido Joshua Nkomo ( à direita na imagem, junto de Robert Mugabe) escreveu a Mugabe em 1983, Mugabe que já afirmou que se foi indicado por Deus para governar, só Deus o pode tirar, jamais o MDC ou os britânicos. Importe e leia aqui.
Desmond Tutu: Mugabe é um Frankenstein para o seu povo
O arcebispo sul-africano Desmond Tutu, prémio Nobel da Paz, classificou o presidente zimbabweano Robert Mugabe como Frankenstein e pediu a intervenção de outros países antes que o sangue corra como no Ruanda. Confira aqui em inglês. Se quer ler em português, use este tradutor.
1. ª adenda às 9:43: Mais uma voz e mais uma vez, a de Desmond Tutu, condenando o terror no Zimbabwe. O presidente Mugabe aparece como o ícone da condenação. Mas as coisas são bem mais profundas: trata-se de um sistema, cuja linha de pensamento está exemplicada pelo jornal governamental zimbabweano The Herald, onde pode verificar que amanhã há eleições, com ou sem Morgan Tsvangirai, porque o abandono deste é considerado não ter força legal. Confira aqui. E use este tradutor para ler em português. Voltarei ao Zimbabwe neste blogue.
Mandela quebrou silêncio e condenou regime de Mugabe
O ex-presidente sul-africano e prémio Nobel da Paz, Nelson Mandela (foto à direita), actualmente em Londres, quebrou o silêncio em relação ao Zimbabwe, tendo condenado o fracasso da liderança de Robert Mugabe. Afirmou ainda que não tinha falado antes para não perturbar os esforços de mediação do seu sucessor na presidência sul-africana, Thabo Mbeki. Leia em espanhol aqui e em inglês aqui. Se quer ler em português, use este tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio das referências.
1. ª adenda às 9:43: a posição de Mandela dá à crítica regional e internacional do regime de Mugabe um peso, uma robustez antes inexistente. Tentarei comentar um pouco daqui a pouco.
2. ª adenda às 13:46: enquanto isso, está sob investigação um senhor referido várias vezes referido neste diário, Phil Edmonds (recorde aqui e aqui), que tem negócios no Zimbabwe. Mas também, creio, no nosso. Confira aqui.
25 junho 2008
Afinal tudo está bem no Zimbabwe e Mugabe vai ganhar na sexta-feira
Segundo o The Herald, jornal governamental zimbabweano, o ministro da Justiça, Patrick Chinamasa, afirmou tudo mostrar que Robert Mugabe irá ganhar as eleições presidenciais do dia 27, o que significará uma rejeição do programa estrangeiro de interferência e a manutenção dos ideais da revolução e do programa de redistribuição de terras. Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Simbarashe Mumbengegwi, afirmou que a situação no Zimbabwe é extremamente pacífica (sic) apesar dos esforços para provar o contrário por parte de alguma imprensa internacional. Apenas algumas áreas têem problemas causados pela oposição - asseverou.
Ambos os ministros são tratados por camaradas, o que, aliás, é regra no jornal em relação aos funcionários séniores do Estado. Cartoon de Zapiro reproduzido daqui. Se quer ler em português, faça uso deste tradutor.
Adenda: o Brasil suspendeu o envio de observadores eleitorais após a decisão de Morgan Tsvangirai de retirar-se da segunda volta.
As convicções do Sr. Hama Thay
Na edição desta semana do semanário “Magazine Independente”, p. 2, já na rua. Aqui está um tema excelente para debate, aqui está um tema excelente para a luta política, aqui está um tema que pode fazer subir ou cair os partidos políticos. O que acham? (cliquem duas vezes com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar; e perdoem o meu scanner não permitir tirar partido de toda a página).
Os jovens do garimpo
Lá, por terras dos montes Chimanimani. Atacados pelos mosquitos, vivendo em condições miseráveis, comendo o que há quando há, muitos começando a trabalhar de madrugada, outros morrendo, jovens tentam construir um futuro diferente procurando ouro no Revué. Há lá muita gente fugida do Zimbabwe, procurando no nosso país o futuro o que no seu não encontram. O The Spiegel obteve uma impressionante colecção de fotos desses jovens. Confira aqui e aqui.
Entretanto, lá por terras de Mutare, Zimbabwe empobrecido, não muito longe, a riqueza das ocasiões exposta sem problemas, com carros de luxo, há até gente que vem de Moçambique. Confira aqui.
Se quer ler em português, faça uso deste tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência do segundo portal aqui indicado.
Entretanto, lá por terras de Mutare, Zimbabwe empobrecido, não muito longe, a riqueza das ocasiões exposta sem problemas, com carros de luxo, há até gente que vem de Moçambique. Confira aqui.
Se quer ler em português, faça uso deste tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência do segundo portal aqui indicado.
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