Envolvidos no resgaste das pessoas em zonas de risco por causas das cheias estão muito aborrecidos com o facto de os resgastados tenderem a voltar para origem. O director-geral do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, Paulo Zucula, afirmou que "pessoas há que foram evacuadas por duas ou três vezes, razão pela qual foram chamados hoje à UNAPROC marinheiros e régulos para reflectirem seriamente sobre a matéria, definindo imediatamente novo plano de trabalho (...) Estamos a constatar que há certa ineficácia por causa da relutância. Inclusivamente, estamos a evacuar pessoas que vão ao mercado vender galinhas e cabritos e que à noite voltam para as zonas de risco (...)."
Aqui está um problema. E o problema consiste em ver as pessoas integradas num universo técnico-socorrista imediato: por isso elas devem sair dos locais afectados, não faz sentido ficarem lá, ficar lá é irracional. Ou então diz-se que o problema está na cabeça dura dos régulos, régulos que descomandam os camponeses.
Mas o problema tem um outro problema, o problema do problema. O problema do problema é que as pessoas resgastadas vivem num outro universo, numa outra concepção, a concepção de que só se pode viver com as cheias, com a água desalmada que afecta as terras, mas onde há limo, peixe, onde estão os espíritos dos antepassados, os corpos dos entes falecidos, frequentemente onde estão enterradas as placentas dos nascidos.
Que tal se o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades tivesse um anexo chamado "Núcleo de Estudo dos Comportamentos Racionais Diferentes dos Nossos"?
Entretanto, leia ou recorde aqui.
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