30 setembro 2009

Guiné-Conacri: repressão militar mata dezenas


(27) 30/09/09


Reparem bem como está estruturada a página "política" do "Notícias" de hoje, a começar pelas duas primeiras notícias. Aqui. Mas também é importante ler o editorial do jornal (tese: círculos diversos, entre os quais doadores, elegeram "um certo partido" como preferido, por isso atiram a lei às urtigas), aqui. Um quadro político, opinativo e financial muito dialéctico e fascinante este, antes mesmo do acto eleitoral. Desta vez o diabo não é a Renamo.
Adenda 1 às 10:49: segundo "O País" online de hoje, citando a Agência Lusa, os doadores recusaram comentar a decisão do CC sobre a exclusão dos partidos. Aqui.
Adenda 2 às 10:55: um texto de Manuel Araújo no "Canal de Moçambique" online de hoje, aqui.
Adenda 3 às 12:17: excluídos querem processo eleitoral adiado, confira no "Mediafax" online de hoje, aqui.

29 setembro 2009

Quinto no "Amatomu" hoje


Pela primeira vez e embora escrito em português, este diário chegou ao quinto lugar (a classificação oscila diariamente) de um dos hospedeiros sul-africanos de blogues no qual o inscrevi, o Amatomu, confira aqui. O primeiro lugar é ocupado pelo popular Mail&Guardian.

Ivone

Ela é a única mulher moçambicana que usa também um blogue (tem vários, incluindo um de poesia) para fazer campanha pelo seu partido, a Renamo, chama-se Maria Ivone Soares. Estejam ou não de acordo com ela, ela está aí, de frente, sem pseudónimos, sem máscaras. Confiram aqui.

Samora faria hoje 76 anos se fosse vivo





Amado por uns, odiado por outros, Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique, faria hoje 76 anos caso fosse vivo. Confiram aqui. No meu livro "Combates pela mentalidade sociológica" (1997), há um texto sobre o samorismo.
Adenda às 21:43: como jornalista, conheci Samora em 1974, creio que em Maio, Instituto Moçambicano, Dar es Salaam. Nunca mais esquecerei os seus olhos, ele vestia camisa branca e calça negra. Mais: ele apertava a mão de forma vigorosa, coisa que sempre respeito, pois faço o mesmo.

(26) 29/09/09

Cor do texto
Já podem conferir o Boletim sobre o processo político em Moçambique (9), 30 de Setembro de 2009, versão em inglês, ainda não recebi a versão em português. Tema único: rejeição do apelo do MDM. Aqui.
Adenda: o "O País" online e a Rádio Moçambique estão off...Podem confirmar, por favor?
Adenda 2 às 20:08: é para mim indiscutível que o diário de campanha da Rádio Moçambique é excelente em sua capacidade para dar voz aos concorrentes, sem privilegiar A ou B. É só comparar com o "Notícias".
Adenda 2 às 20:33 : oiço, uma vez mais, o diário de campanha da Rádio Moçambique. O candidato da Frelimo foi tratado como Emílio Armando Guebuza, mas o candiato da Renamo como Afonso Dhlakama. Três contra dois.
Adenda 3 às 20:41: nenhum diferença estrutural entre os candidatos, o fundo é o mesmo.

Drama das crianças e das mulheres acusadas de feitiçaria

Um relatório das Nações Unidas divulgado este ano mostra o drama das crianças e das mulheres acusadas de feitiçaria em países africanos e asiáticos. Confira aqui. Enquanto isso, saiba o que se passou depois que dois cineastas fizeram um filme sobre as crianças acusadas de feitiçaria na Nigéria, aqui (obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio das referências). E, próximo mês deve sair o segudo livro sobre linchamentos em Moçambique, desta vez dedicado aos linchamentos por acusação de feitiçaria.

(25) 29/09/09


Continua a ser muito interessante (ou não) a forma como o "Notícias" dá conta da campanha eleitoral, há muita coisa a analisar nos seus despachos, confiram aqui. E, já agora, leiam um artigo de opinião divulgado hoje em itálico na versão online do jornal, cujo autor usa um pseudónimo bizarro, cujo alvo é o MDM e cuja teoria é a da conspiração (um tema que periodicamente regressa, como desde 2006 tenho mostrado neste diário), aqui.
Adenda: periodizando, a última vez em que se abordou no país a mefistofélica teoria da conspiração, foi quando da novela dos curandeiros do orgone.
Adenda 2 às 10:17: de acordo com o "Canal de Moçambique" online de hoje há problemas de ordem vária na CNE. Enquanto isso, o presidente do MDM, Deviz Simango, poderá chegar a Maputo ainda hoje, interronpendo a sua campanha eleitoral. Confira aqui.
Adenda 3 às 10:23; o MDM parece ter entrado também na corrida estatística, pois, de acordo o "Canal de Moçambique" online de hoje, o seu delegado político em Nampula afirmou que o MDM já realizou 40% das suas actividades eleitorais naquela província.
Adenda 4 às 11:04: deverei receber ainda hoje o Boletim sobre o processo político em Moçambique com referência à decisão do CC.
Adenda 6 às 18 horas: segudo o "Mediafax", os oito partidos excluídos prometem pronunciar-se ainda hoje sobre como irão proceder. A conferir aqui.

28 setembro 2009

CC homologa CNE

De acordo com a Rádio Moçambique às 23 horas, o Conselho Constitucional declarou nulas as reclamações apresentadas por 14 partidos e coligações partidárias contra a sua exclusão das eleições, homologando, assim, a decisão anterior da Comissão Nacional de Eleições.
Adenda às 23:17: prevejo que muita coisa interessante vai surgir nos diversos jornais do país a partir de amanhã.

Finalmente: Jestina Mukoko ilibada!


Nosso secretismo informacional

Ponto de situação

É o ponto de situação de um questionário que foi colocado neste diário apenas ontem (lado direito, aqui). É ainda muito cedo para tirar conclusões, ele só encerrará no próximo mês.

Morreu Cremildo Muando

Faleceu hoje o popular locutor da Rádio Moçambique, Cremildo Muando, que trabalhava no jornal da manhã com o Emílio Manhique (Rádio Moçambique, noticiário das 17 horas). Paz à sua alma, sinceras condolências à família.

27 setembro 2009

(24) 28/09/09


Com regularidade, no diário da campanha eleitoral do jornal "Notícias", o candidato presidencial da Frelimo, Armando Guebuza, surge quer acarinhado pelas populações quer, especialmente, arrastando multidões em seus comícios. Para os outros candidatos presidenciais, Afonso Dhlakama da Renamo e Deviz Simango do MDM, não há referências a carinho e a multidões.
Adenda 1 às 12:12: segundo o "Canal de Moçambique" online de hoje, o porta-voz da Frelimo, Edson Macuácua, falando a propósito das comemorações do 25 de Setembro, afirmou que a Renamo não tem consciência história, não vale nada e não merece a confiança do povo. Por sua vez e de acordo com "O País" online de hoje, o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, falando a propósito de votos, afirmou que não responde aos miúdos e malucos da Frelimo que não têm o apoio do povo. Enfim, amor com amor se paga.
Adenda 2 às 12:31: o Conselho Constitucional deverá pronunciar-se hoje ao fim da tarde sobre os recursos apresentados por 14 partidos e coligações partidárias excluídos parcial ou totalmente das eleições (Rádio Moçambique, noticiário das 12:30). A esse propósito, recorde o que escrevi aqui.
Adenda 3 às 19:32: por mais que tente, não consigo captar a Rádio Moçambique online no meu laptop. Dá-me efectivamente vontade de dizer palavras feias, fortes de suco gástrico!
Adenda 4 às 21:09: ufffff!, finalmentre a RM é captável sem necessidade de recorrer a um curandeiro de Massinga...
Adenda 5 às 22:01: nenhuma referência no noticiário da Rádio Moçambique das 22 horas sobre a decisão do Conselho Constitucional (recorde adenda 2).

Qual dos presidentes preferiu/prefere/preferia?


Atenção ao questionário que vai ser postado dentro de alguns minutos no lado direito deste diário, logo a seguir ao das "percepções sobre violência". Esta a resposta à sugestão de um leitor anónimo. E essa a sequência do meu texto "Três presidentes, três perfis".
Adenda às 17:11: se não concordar com nenhum deles, o programa do questionário permite colocar opções e comentários.
Adenda às 23:15: perdoem-me, vim aqui escrever isto, não consigo estar mais aqui hoje, a asma perturba-me. Perdoem-me.

O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (2)

Mais um pouco desta série.
Somos filhos de muitas latitudes, são inúmeros e rizomáticos os caminhos sempre a percorrer, temos ventres híbridos em todo o lado, sementes culturais de todos os tipos povoam o nosso inconsciente colectivo, somos terra e mar, a mais pequena palhota do interior ostenta ainda a missanga secular dos oceanos, somos a diagonal sempre em reconstrução do dentro e do fora, a pátria mestiça do entre-dois, janus de almadia e caravela, de pangaio e junco. Nossos gostos apenas têm o horizonte como limite, viajamos da matapa ao cozido à portuguesa, do pende na brasa ao chacuti, do pombe ao Dão, somos um em tudo e em todos. E, evidentemente, inventámos o piripiri para que a história nunca fique insossa.
Neste húmus, passado nos bolsos, mãos dadas com o Índico, olhos alavancando a vertigem dos amanhãs, nossa alma é o mundo, nosso corpo a humanidade.
É verdade: nunca somos ou fomos, porque sempre estamos a ser. Por isso os sonhos são o sangue genuíno que corre em nossas veias, por isso a nossa raça chama-se futuro, túrgido de contradições.
(continua)

Três presidentes, três perfis


Tese: vencedor, comandante, vindo da luta armada, alma de socialista, Samora Machel tem a difícil tarefa de dirigir politica e militarmente o nascimento da nação. A sua farda é o símbolo dessa tarefa, num país hostilizado pelos regímens da Rodésia do Sul e da África do Sul e com uma rebelião interna iniciada formalmente em 1976. A era da revolução, da febricidade, do monopólio político.
Antítese: segue-se-lhe Joaquim Chissano. Primeiro-ministro no governo de transição, ministro dos Negócios Estrangeiros depois e por longos anos, nada militar, Chisssano é o homem do casaco e da balalaica, o gestor de equilíbrios, o produtor da democracia liberal. Monitora os acordos de paz com a Renamo, prepara terreno para o capitalismo nacional. A era da acalmia, da gestão das diferenças e do multipartidarismo.
Síntese: segue-se-lhe Armando Guebuza, ministro da Administração Interna no governo de transição, do Interior na era samoriana e secretário-geral da Frelimo desde 2002. Singrou como empresário. Homem do casaco e, vez que vez, da balalaica. Herdou de Samora o voluntarismo político e de Chissano o espírito da democracia liberal, síntese de ambos. Era da refebricidade, de eventual re-monopólio da gestão política e do poder frelimo-empresarial.
Adenda 1: a qualquer momento posso modificar essas pequenas hipóteses.
Adenda 2 às 15:42: em Dezembro de 2006, através de Chris McGreal, o The Guardian procurou mostrar como Guebuza enriqueceu, preste atenção aos quatro últimos parágrafos do texto, aqui.
Adenda 3 às 22:52: recorde o que Jeune Afrique escreveu sobre Guebuza, aqui. Sobre a competição empresarial Guebuza/Chissano, confira aqui.

(23) 27/09/09


Em aguerridas conferências de imprensa, os partidos Frelimo e Renamo garantem ter "atingido" (sic) uma parte considerável dos eleitores nos primeiros dias da campanha eleitoral. É a primeira vez na história da propaganda política do país que se faz uso de semelhante alarde estatístico. Vamos aguardar pelos resultados eleitorais para verificarmos quantos leitores foram efectivamente atingidos, por quem e com que dimensão.
Adenda às 11:02: em despacho do jornalista Teixeira Cunheira badeado na cidade de Tete, noticiário das 11 horas da Rádio Moçambique, ficámos a saber que militantes do Partido Frelimo prometeram consertar todas as torneiras avariadas da cidade de Tete caso os tetentes votem nela; em contrapartida, militantes da Renamo prometeram "acabar com a problemática da pobreza" (sic).
Adenda 2 às 18:17: ouvi, pela Rádio Moçambique, há momentos, o tempo de antena dedicado aos três candidatos presidenciais. A Frelimo tem capacidade financeira para fazer um programa possante dedicado a Armando Guebuza. Fê-lo. Mas surpreendeu-me o programa dedicado a Dhlakama da Renamo, bem mais vivo, musical e organizado do que há cinco anos. Em contrapartida, o programa dedicado a Deviz Simango está fraco, sem fundo melódico, apareceu uma senhora monocórdica que, apesar do esforço, estava titubeante, parecia estar doente, parecia - afinal - estar a fazer um discurso num cemitério.
Adenda 3 às 19:45: em Tete, no bairro Chingódzi, Paulino Namburete, da Frelimo, disse que o seu partido iria acabar com a pobreza caso os eleitores votassem nele. Atrás não ficou na mesma promessa Adriano Mariano do MDM (Rádio Moçambique, diário de campanha, 19:46).
Adenda 4 às 19:51: um porta-voz da Frelimo em Niassa disse que membros da Renamo filiaram-se no seu partido. Um porta-voz da Renamo redarguiu que isso era uma "propaganda barrata" (sic, com dois sonantes rs), pois o contrário é que era verdade (Rádio Moçambique, diário de campanha, 19:50).

26 setembro 2009

Angelique

O original é da falecida cantora sul-africana Miriam Makeba.

Deodato



Semana moçambicana próximo mês na Dinamarca, iniciativa do Conservatório Rítmico de Copenhaga em conjunção com o nosso compatriota, músico Deodato Siquir, que o trabalho do youtube mostra.

Desenvolvimento

Somos um país com tsunami oficial e propagandístico em torno do desenvolvimento. Há quem passe a vida a falar em desenvolvimento e a presentear-nos com números, com uma energia estatística impressionante. Precisamos de avaliadores fiáveis e permanentes. O Brasil, por exemplo, tem desde Março um novo índice, chamado Índice de Qualidade de Desenvolvimento. Extracto de um trabalho: "O novo indicador é formado por três pilares básicos. O índice de qualidade do crescimento, que vai medir variáveis econômicas, como massa salarial, produção setorial e confiança dos empresários, é um deles. Outro é o índice de qualidade da inserção externa do Brasil. Esse vai medir a composição das exportações, do investimento estrangeiro, reservas internacionais e renda líquida enviada ao exterior. O último indicador que compõe o IQD é o índice de qualidade do bem-estar, que mede a taxa de pobreza, mobilidade social, desigualdade de renda, e emprego. Cada um dos componentes valem até 500 pontos – o total é dividido por três." No que me concerne, gostaria muito de ver especialmente aplicado no país o terceiro indicador, acrescido de mais subindicadores, por exemplo o da dieta alimentar.
Adenda às 15:14: será possível contar com a opinião de algum economista sobre o acima postado?

(22) 26/09/09


Tenho a Rádio Moçambique online e estou a ouvir representantes de alguns partidos políticos da oposição apresentando ou tentando apresentar os seus programas. Montes de ideias e de sonhos, vozes tribunícias algumas. Quanto mais analiso esta campanha eleitoral, mais me convenço da vanidade dessas ideias e desses sonhos porque espartilhados em vozes múltiplas, divorciadas umas das outras, vaidosas muitas delas em seus minúsculos castelos paroquiais e em seus programas de pequenos remendos. Se algum dia quiser governar este país, a oposição terá, em meu entender, de trabalhar seriamente em várias coisas no futuro, duas das quais sugiro desde já: (1) unir-se em torno de uma única frente e de um único programa sólido e exequível, dirigido por quadros competentes e dedicados; (2) desparoquializar-se. É ridículo, por exemplo, dizer enfaticamente que é preciso desenvolver o país ou moldar desbragadamente uma proposta de programa governamental no programa do partido no poder, é ridículo assentar na promessa de doação de xis hectares de terra ou de uma casa a cada Moçambicano, na eliminação dos impostos, na construção de mais escolas e postos de saúde, na melhoria dos serviços policiais, no apoio descarado ao partido no poder mas dizendo-se da oposição, é ridículo basear-se em desvarios, ridicularias e chatas evidências dessa e doutra natureza. A oposição (falo dela como um todo, em função da quantidade de partidos existentes) deve convencer-se definitivamente de que só pode um dia gerir o Estado se (1) conseguir unir-se e (2) se dispuser de uma genuína alternativa popular ao programa do partido no poder, desejada pelo povo, trabalhada diariamente com ele anos a fio, uma alternativa que propicie uma vida mais solidária e colectivamente mais justa.
Adenda às 12:55: reparam bem que o texto acima assenta numa crença: a de que as pessoas votam em programas. Ora, isso pode não ser verdade, em parte ou no todo.

O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (1)

Produzir a visibilidade, a robustez de uma identidade, parece uma tarefa simples, por mais problemáticos que sejam os caixilhos do presente do indicativo que usamos: somos isto, somos aquilo, cliché de consumo instantâneo. Independentemente de quem somos, sempre somos, sempre acabamos por ser algo numa fórmula. Porém, a luz que inventamos apaga a luz natural, as emoções sintetizadoras anestesiam a vida múltipla e intensa do que nunca é porque está sempre a ser, o anúncio publicitário enterra a história, uma emoção política fermenta rápido demais. Talvez existam tantos Moçambiques quantos os milhões de Moçambicanos que somos, talvez cada Moçambicano seja, afinal, um Moçambique, talvez cada etnia, cada grupo social, cada rico, cada pobre, cada entre-dois, cada centro, cada periferia, cada lugar, no interior ou na costa, seja um Moçambique particular, com a sua história, com a sua maneira de ser movimento e memória, com o seu hibridismo vencedor do uno e do irredutível e, por isso mesmo, difícil de domesticar e aceitar. E naturalmente que existem os Moçambiques e os Moçambicanos produzidos pelos políticos consoante estejam no primeiro andar ou no rés-do-chão do poder, consoante estejam em campanha eleitoral ou não; os Moçambiques e os Moçambicanos fabricados pelas agências de viagens, em seus tropicais e mariscais anúncios índicos; por doadores, agências de caridade, igrejas, deuses e espíritos, empresários, burocratas, gente de tanta profissão registada e inregistada, homens e mulheres, crianças e velhos, malandros e virtuosos, trabalhadores e preguiçadores, os Moçambiques e os Moçambicanos de tantos e de ninguém, afinal, em particular.
(continua)

(21) 26/09/09


Enviaram-me o programa governamental do MDM, consultável aqui.
Adenda às 8:40: CNE e PLD, 19 detidos em Nampula, pedras contra a Renamo em Tete, queixas da oposição em Tambara, incidentes da campanha, uso de meios do Estado e campanha luxuosa da Frelimo em Quelimane - eis os temas do Boletim sobre o processo político em Moçambique (7), de 26 de Setembro de 2009, a conferir na íntegra aqui.

25 setembro 2009

O que faz de Moçambique, Moçambique?

O antropólogo brasileiro Roberto DaMatta tem um livrinho fascinante com o título "O que faz o Brasil, Brasil?" A apresentação do livro tem o seguinte: "Múltiplo e rico, o Brasil é o país do carnaval e do feijão com arroz: da mistura e da fantasia. Mas também do jeitinho que dribla a lei e da hierarquia velada pela cordialidade. Somos brasileiros na devoção e no sincretismo, no culto à ordem e na malandragem, no trabalho duro e na preguiça" (Rio de Janeiro: ROCCO, 1986). As definições identitárias ancoradas no presente do indicativo, na abolição das diferenças sociais e na síntese são sempre um problema, deixam muito movimento e muitos fenómenos na penumbra. Mas o que acabei de reproduzir parece-me interessante. A pergunta: será possível produzir uma definição de Moçambique e dos Moçambicanos? O que é Moçambique? O que são Moçambicanos? Somos - para usar palavras uma vez mais da apresentação do livro em epígrafe - um estilo, uma maneira particular de construir a realidade? Alguém quer propor uma resposta?
Adenda: espero propor-vos, brevemente, a minha definição, numa série. É só aguardar.

A "hora do fecho" no "Savana"

Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "A hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com "A hora do fecho" desta semana, da qual ofereço, desde já, dois aperitivos:

"Algumas verdades que têm de ser ditas"

Capa do "Savana" desta semana


(20) 25/09/09


O "Notícias" online de hoje tem sete notícias colocadas no sector "política". Em jeito de análise discursiva, reparem como elas estão construídas, na forma como os seus actores políticos são tratados. Aqui.
Adenda 1 às 7:47: organizei um DossierSavana com materiais alusivos à campanha eleitoral (com excepção do editorial, já divulgado com destaque), a conferir aqui.
Adenda 2 às 20:11: preste-se atenção à foto que o "O País" escolheu para este notícia aqui.

24 setembro 2009

Queimadas em Moçambique este mês


Imagem tirada via satélite da NASA este mês, fim da estação seca, mostrando queimadas dentro e fora do nosso país. Confira aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.

A tesoura do racismo cultural

Uma das mais sofisticadas formas de racialização e de racismo dos centros hegemónicos do poder mundial hoje consiste em salvaguardar as diferenças culturais, em defender discursivamente a todo o transe a especificidade cultural deste ou daquele país, desta ou daquela cultura, desta ou daquela "raça". Assim fazendo, os ideólogos do racismo "inteligente" muralham a suposta pureza dos nichos culturais dos centros hegemónicos que produzem a cartografia das diferenças, segregam com doçura e ópio perfumado os Outros no momento preciso em que os abraçam. Mas este problema é bem mais complexo do que pensamos, ele tem, afinal, a alma elástica dos boomerangues. Na verdade, segregados, fechados em muros sociais que os outros criaram, os alvos do racismo cultural assumem a segregação como um ícone bendito, a substancialização definitiva do que são, a irredutibilidade do seu suposto ser em si, dotando, com variados matizes, a falsa inferioridade de que são acusados, com a pimenta da vitalidade musculada.
Adenda: o que acima estais a ler foi pensado na cidade onde neste momento em encontro, São Paulo, foi lendo o extraordinário "Cidade de muros - crime, segregação e cidadania em São Paulo", de Teresa Pires do Rio Caldeira.

(19) 24/09/09


O Domingos Bihale (imagem), conterrâneo das tetenses terras, natural do planato da bela e rica Angónia, tem um blogue do qual reproduzo, de forma longa, a seguinte fotografia, uma extraodinária fotografia que não figura nos textos oficiais: "Vi uma multidão com bandeiras e panfletos nas passeatas do Planalto. Cantavam e dançavam os nossos cânticos tradicionais que suavemente e agradavelmente fluem os ouvidos de bom gosto. Estavam entre eles crianças, jovens, adultos e idosos. A maioria deles estava descalça, vestida de farrapos e os seus olhos emitiam um cansaço enorme. Tinham andado distâncias e distâncias a pé sem descanso. As suas vísceras estavam em processo ininterrupto de dilaceração movida pela fome incauta. Aquele povo era tão magrinho, tão magrinho, que parecia padecente de pneumonia aguda ou se parecia com as vacas magras no Corno de África. Vinham de aldeias longínquas para a vila onde o candidato presidencial daria o seu comício. Deparei-me de seguida com um aparato do dito cujo candidato. Desceu de um dos seus tantos objectos voadores. Dos restantes discos voadores que se pareciam com helicópteros, desceram seus acompanhantes. Aquela comitiva do “presidenciável” contrastava-se abruptamente com a manada de pessoas que tinham estado ali no campo distrital há muitas horas. Eram saudavelmente gordos, com a pele macia, vestidos de camisolas da campanha eleitoral de primeira qualidade. Bebiam água mineral e estavam sentados na tribuna…claro na sombra. Horas depois começou o candidato presidencial a lançar o seu viva viva e a população ia respondendo em uníssono. Percebia-se que a população procurava captar o que ele dizia, pois, embora não falasse a língua bela do Planalto, o intérprete tudo fazia para lhe ser fiel. Ai começou ele a explanar ao pacato povo: - Eu sou o melhor dentre os melhores. Vendi a minha juventude para salvar a pátria do jugo colonial. Fui eu quem vos dá a energia daquela barragem que agora é vossa. Construí escolas, hospitais, estradas e pontes. A comida que têm nos vossos celeiros eu é que trouxe. Eu sou quem mereço o vosso voto, a vossa confiança. Lá ia o candidato vendendo o seu peixe àquela multidão que vive de feijão e milho ou no mínimo folhas de abóbora secas, complementados com frutas silvestres. Após a explanação do “presidenciável” repetente, as faces dos meus compatriotas mergulharam-se em banho de lágrimas. O povo que acreditava que ia lá ouvir daquele candidato promessas bem luxuosas, saiu de lá desiludido. Do princípio até ao fim do comício, só recebeu relatório que já tinha recebido há bem pouco tempo quando o ora candidato tinha passado por lá na qualidade de Pulezidenti."
Adenda 2 às 10:22: quase todos nós vemos as eleições como uma competição entre actores em igualdades de circunstâncias. Essa leitura ingénua - mas intencional em muitos ideólogos - esconde que o exercício e a manutenção do poder implicam uma luta permanente ao nível do aparelho ideológico e que este aparelho - aos níveis macro e micro - tudo fará para, justamente, ao nível discursivo, defender a paridade situacional (embelezada com valores éticos, apelos aos valores supostamente colectivos, universais, nacionais, etc.) e escamotear a desigualdade flagrante na distribuição de recursos, de bens e de atributos como acesso privilegiado à riqueza, gestão da burocracia, posição, postos, cargos e bens do Estado, privilégios, etc. Transformar a defesa do particular em valores gerais, universais, supostamente por todos partilhados, é a coluna vertebral da ideologia dos detentores políticos do poder, não importa onde nem quando.
Adenda 3 às 11:51: seria interessante estudar por quê e como os partidos e líderes mais agressivos, mais combativos, mais enérgicos, são catalogados por quem sente o seu poder disputado, estudar a panóplia de temas discursivos que lhes são dedicados, estudar as formulações de receio (explícito e implícito) e perigosidade, o conteúdo ilocutório imediato, etc.
Adenda 4 às 12:22: a história está cheia de exemplos de grupos que usaram a violência sistemática para chegarem ao topo político e que, uma vez aí, fazem do apelo ao pacifismo, à colaboração, à concordância, uma das suas regras mais liminar e ideologicamente samaritanas.
Adenda 5 às 13:09: depois da Frelimo, é agora a vez de a Renamo usar a lança ideológica da estatística: o seu porta-voz, Fernando Mazanga, afirmou em conferência de imprensa que o seu partido atingiu 85% do eleitorado de um universo de dez milhões de potenciais votantes em dez dias de campanha. Os resultados eleitorais talvez tragam surpresas para certos círculos amantes de estatísticas-caterpillar.
Adenda 6 às 13:25: quando, ao nível da elite gestora do poder político, um candidato (individual ou colectivo) é considerado perigoso, é sentido como perigoso, toda uma enorme máquina de propaganda surge para lhe dar o estatuto do grande Mal, do inferno. Por que é esse candidato considerado perigoso? Porque apresenta indícios de que poderá pôr em perigo a gestão patrimonial do poder político e dos seus réditos.
Adenda 6 às 13:35: haverá que estudar as mensagens, repetidas ad nauseam, que afirmam de certas pessoas que elas são as únicas - porque messias - capazes de salvar o país. Reclamar a totalidade da verdade ou a perfeição absoluta da chave que abre a defendida única porta do futuro tem sido sempre um problema na história e através dela muito sangue tem corrido.
Adenda 7 às 16:02: teremos de nos interrogar sobre por que razâo (ões) 2009 foi e é um ano vincadamente político e ideológico. A relação com as eleições e com uma espécie de sede de hegemonia total não pode ser excluída entre as hipóteses macro.
Adenda 8 às 16:09: no "Canal de Moçambique" online de hoje: "Tendo em conta as inúmeras exclusões parciais ou totais de partidos e coligações promovidas pela CNE, um semanário que se edita em Maputo denunciou esta semana um “partido”, PLD (Partido de Liberdade e Desenvolvimento), de nem sequer ter existência legal e ter passado no crivo da CNE. O jornal chega mesmo a chamar-lhe “o partido da CNE”. O tal partido, é acusado pelo jornal de não ter estatutos publicados no Boletim da República e, sendo assim, ser manifestamente ilegal. E escreve o jornal que mesmo assim foi admitido pela CNE a concorrer em 10 círculos eleitorais (excepto na Zambézia a que nem se quer concorreu) dos 11 nacionais. Este caso veio a empolgar ainda mais as atenções da opinião pública sobre a questão das exclusões de inúmeros partidos e coligações pela CNE. E suscita agora ainda mais atenção sobre a decisão que o Conselho Constitucional possa vir a tomar."
Adenda 9 às 16:12: professores não páram nas escolas de Nampula neste período de campanha eleitoral. Saiba por quê segundo o "Canal de Moçambique" online de hoje, aqui.

Vavi, o directo

Adenda: sois capazes de imaginar a existência de um Vavi no nosso país? Na OTM, por exemplo?

23 setembro 2009

Michel Cahen no "Bricolando o social..."

O historiador francês Michel Cahen faz agora parte do grupo em crescimento do Bricolando o social e a análise, aqui. Ele é pesquisador no Centro de Estudos da África Negra do Instituto de Estudos Políticos de Bordéus e redactor-em-chefe da revista Lusotopie. Honra para mim e, creio, para muitos outros.

Bricolando o social e a análise

Leitores vão intervindo e propondo temas para debate, no Bricolando o social e a análise, aqui.

(18) 23/09/09


As regras da CNE, a flexibilidade que o MDM pediu, o PLD que funciona na casa do presidente que tem um negócio de flores, incidentes de campanha e uso de meios do Estado : leiam isso no Boletim do processo político em Moçambique (6), 22 de Setembro, aqui.
Adenda 1 às 8:42: já tinha aqui escrito sobre recurso político a curandeiros e régulos. O "Notícias" online de hoje reporta que em Manica o chefe-adjunto do Gabinete Provincial de Eleições do Partido Frelimo, pediu votos às mulheres e aos curandeiros, fora uma reunião "à volta da fogueira". Num destes dias escrevo sobre o retorno massivo a régulos e curandeiros, fora o neo-tradicionalismo das conversas à volta da fogueira.
Adenda 2 às 8:55: preste-se atenção aos dois últimos parágrafos de uma carta do Sr. Chipande, aqui.
Adenda 3 às 9:25: creio ser importante estudar os processos de administração cognitiva das eleições e, em particular, a produção ideológica a vários níveis. Por exemplo: produção política do (s) adversário (s), consenso e dissenso discursivos, estereotipagem, propaganda, defesa do poder, etc.
Adenda 4 às 9:33: vamos a ver se alguém está a estudar a produção da campanha eleitoral nos jornais.
Adenda 5 às 9:35: num livro de Teun A. van Djijk, a propósito dos órgão de informação ocidentais: "Os valores, as normas e os arranjos de poder fundamentais são apenas raramente contestados de forma explítica nos meios de comunicação dominantes. Na verdade, essa dimensão de discordância é em si própria organizada e controlada. A oposição, também a realizada pelos meios de comunicação, limita-se às fronteiras fixadas pelas instituições de poder e pode, assuim, também se tornar rotineira" (Discurso e poder. São Paulo: Editora Contexto, 2008, p. 75). Foi aquele cientista holandês quem igualmente escreveu o seguinte: "O discurso controla mentes e mentes controlam ação. Isso significa que, para aqueles que estão no poder, é crucial controlar, em primeiro lugar, o discurso".

Adenda 6 às 9:57: há dias, na Mafalala, houve comício e estavam lá muitas crianças. O Ismael Miquidade fotografou uma delas e enviou-se a foto acima, gesto que me muito agradeço.
Adenda 7 às 12:52: importante saber como, com o seu capital simbólico, as "elites simbólicas" (jornalistas, escritores, artistas, directores, académicos e outros tipos sociais) estão a produzir a visibilidade da luta política e da actual campanha eleitoral.
Adenda 11 às 19:08: em plena campanha eleitoral, o presidente da República e candidato presidencial pelo Partido Frelimo, Armando Guebuza, tem também (desde o dia 17) um blogue, a conferir aqui.