30 abril 2015

Em sede de

Na Assembleia da República e em alguns sectores da imprensa em Maputo generaliza-se uma nova expressão: em sede de.

AR, projeto da Renamo e posições

Iniciou-se hoje na Assembleia da República a apreciação do Projecto de Lei sobre o Quadro Institucional das Autarquias Provinciais apresentado pelo Partido Renamo. Com intervenções longas, de enorme preciosismo jurídico, técnico e vocabular e com evidente e prolongado recurso à história da documentação jurídica do país, a apreciação prossegue ainda a cargo das comissões especializadas. Mas parece ser já claro o quadro antagónico das posições: do lado da Renamo, trata-se de um projecto constitucional que possui mérito, respeita os ordenamentos jurídicos do país e por isso deve ser apreciado positivamente (deve ser aprovado "por unanimidade e aclamação", propôs o porta-voz do proponente); do lado da Frelimo, trata-se de um projecto anticonstitucional que não tem mérito, viola muitos ordenamentos jurídicos do país e por isso deve ser apreciado negativamente.
Adenda às 16:34: o debate iniciou-se às 16 horas e nada indica que as linhas de força acima apresentadas sejam modificadas, pelo menos hoje. Os intervenientes da Frelimo e da Renamo iniciam as intervenções glorificando os respectivos líderes. O MDM apresentou-se do lado da Renamo, mas apologista de soluções intermediárias.
Adenda 2 às 16:39: é muito interessante verificar quanto os apelos à paz, ao povo e à equidade procuram encobrir uma luta política tenaz.
Adenda 3 Às 17:00: sistematicamente, porta-vozes da Renamo afirmam que o projecto apresentado é uma emanação do povo.
Adenda 4 às 17:02: são frequentes as expressões "casa do povo" e "mandatários do povo".
Adenda 5 às 17:07: o deputado António Muchanga da Renamo colocou a primeira ameaça na sala: se a Frelimo quiser mudar a vontade do povo, o Presidente da República, Filipe Nyusi, vai enfrentar dificuldades.
Adenda 6 às 17:10: a presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo, deu por encerrado o debate. Segue-se o pronunciamento do porta-voz da Renamo, cujo nome não fixei, que foi quem apresentou o projecto da lei. Disse que está desalentado por a Frelimo estar contra o projecto. Acresce - disse o deputado - que desde 1994 a Frelimo roubou os votos da Renamo e do seu presidente. Nenhuma referência séria à argumentação jurídica contrária. Terminou a intervenção afirmando que a Frelimo não quer a paz.
Adenda 7 às 17:42: contagem de presenças. Prepara-se a votação.
Adenda 8 às 17:47: 236 deputados presentes. Vai seguir-se a decisão sobre o projecto na generalidade.
Adenda 9 às 17: 50: projecto reprovado na generalidade, com 138 votos contra, 98 a favor e zero abstenções. Seguir-se-ão as declarações de voto dos chefes de bancada.
Adenda 10 às 17:52: finalmente, em caso de erros meus, por favor corrijam-me.
Adenda 11 às 08:33 de 01/05/2015: confira aqui.

A entrar proximamente neste diário

Xenofobia e shangaanfobia: história e estereótipos na África do Sul e em Moçambique (6)

"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem. " [Bertolt Brecht]
Sexto número da série. Permaneço no quarto ponto do sumário proposto aqui, a saber: 4. África do Sul 2008, 2010 e 2015, subponto 4.1. Síndrome da história metropolitana. Escrevi no número anterior que os estrangeiros são sistematicamente acusados de roubar os empregos aos sul-africanos. E acrescentei estarmos confrontados com uma crença objectivamente falsa mas havida como subjectivamente verdadeira. Para compreendermos melhor o fenómeno, recuemos na história, tomando como exemplo o nosso país. Faz muito que se emigra de Moçambique para a África do Sul, provavelmente desde 1860/1870. Seja para cobrirem o montante do lobolo, seja para pagarem o imposto (Inicialmente à monarquia do Estado de Gaza, depois ao Estado colonial), centenas, depois milhares de varões moçambicanos, especialmente do Sul do país, criaram a tradição de trabalharem nas minas e nas plantações da África do Sul e, mais recentemente, no comércio, no artesanato, no sector hoteleiro e no emprego doméstico.
Adenda às 06:35: sugiro a leitura do que disse Graça Machel, aqui.

Cinco condições de paz política em Moçambique (12)

"Em 1970, quando os três astronautas da Apollo 13 estavam tentando descobrir como levar sua nave danificada de volta para a terra, eles estavam envolvidos em um jogo claramente de soma não zero, porque o resultado seria igualmente bom para todos eles ou ruim para todos eles." [aqui]
Décimo segundo número da série. Permaneço no terceiro ponto do sumário proposto aqui, a saber: 3. Cinco condições de paz política em Moçambique, prosseguindo o penúltimo subponto, a saber: 3.4. Treino das forças de defesa e segurança nos direitos humanos. Escrevi no número anterior que, no que toca à polícia, regularmente a nossa imprensa dá conta, entre outros, de dois tipos de fenómenos: 1. Utilização abusiva da força dissuasora, 2. Participação em actos criminosos. Num  país como o nosso, refém ainda da memória dos horrores da guerra de 1976/1992 e confrontado com a existência de dois exércitos, o governamental e o privado da Renamo, a actuação da polícia está sob permanente atenção e crítica de múltiplos sectores da nossa sociedade, do social físico ao social digital das redes sociais.
Nota: fico grato a todas aquelas e a todos aqueles que queiram contribuir para o tema, criticando e melhorando as linhas de visão e análise que irão surgindo aqui.

29 abril 2015

Artesãos

Nas ruas da cidade de Maputo há artesãos que executam trabalhos de vária índole com uma qualidade inexcedível, sorriso nos lábios, mãos rápidas, aprontamento sem recibo.

Filipe Nyusi continua subalterno

De acordo com o portal do Partido Frelimo, o seu ex-presidente e ex-presidente da República, Armando Guebuza, continua à cabeça da Comissão Política, enquanto o actual presidente do partido e da República, Filipe Nyusi, não figura na composição dos 17 membros. Aqui. No tocante à composição do Comité Central, Nyusi permanece num modesto 139.º lugar entre 197 membros efectivos, enquanto Guebuza continua no primeiro. Aqui.
Observação: singular e paradoxal posição a de Filipe Nyusi, que, sendo presidente do partido, continua subalterno nos seus órgãos directivos.

Sugestão de leitura

Na portal da editora aqui. Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato.

A governação da Zambézia no prisma do DZ

Na edição digital do "Diário da Zambézia" de hoje, aqui.

28 abril 2015

Deus é como uma saudade

Em 2001, a minha assistente Helena Monteiro viveu um mês no Hospital Psiquiátrico de Nampula. A ideia era saber se os doentes mentais que lá estavam o eram efectivamente. Foi um trabalho muito difícil. Eis a transcrição por ela feita, no seu diário de campo, do diálogo com o “doente mental” (T), que estava acompanhado de um outro (M) [vide mais abaixo o índice da revista "Estudos Moçambicanos" de 2001]:
Helena: Onde arranjaste essas coisas que estão na sacola?
T.: Sou um apanhador…
Helena: Gostas de ficar aqui?
T.: Isto é gaiola.
Helena: Gaiola como?
T.: É tipo gaiola, irmã!
M.: É casa, não é gaiola!
T.: Se é prédio por que parece gaiola? Por que marcam horas para voltar? [fez esta pergunta a M.,que não respondeu]"
Clausura, mas, também, tristeza sem fronteiras:
T.: Corro em quilómetros quadrados [riso], quando passo pareço um fantasma porque passo depressa. Irmã, você tem religião?
Helena: Tenho, sou católica.
T.: Jesus está na terra, não está no céu, está enterrado, está a pensar o que vai fazer nos séculos aonde vamos.
Helena: Você não pode falar assim de Deus.
T.: Deus é como uma saudade.

"Estudos Moçambicanos" de 2001

Número e pesquisas que dirigi. Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato.

"Estudos Moçambicanos" - número especial de 1998

Número especial da revista "Estudos Moçambicanos" do Centro de Estudos Africanos, editado em 1998 sob minha direcção. Reproduzo a parte inicial do editorial que, então, escrevi.
O número contém várias pesquisas que dirigi na altura. Se quiser ampliar as imagens, clique sobre elas com o lado esquerdo do rato.

Sobre poder

Jogos de futebol, espectáculos musicais de massa, comícios, paradas militares e exposição de poderio policial são, naturalmente, coisas diferentes. Mas todos esses fenómenos possuem, em sua densidade sensorial, cinestésica, um mesmo fio condutor: um elevado coeficiente de amortecimento da consciência crítica. São, na verdade, analgésicos poderosos. Nos comícios políticos, por exemplo, o fundamental não é o que está a ser dito, o que está a ser proposto, mas o espectáculo em si, a actuação espectacular do líder hipnotizante e carismático falando durante horas seguidas num culto profano. Em momentos eleitorais, o comício pode casar-se com o espectáculo musical, ampliando-se, desta maneira, o poder irradiador do soporífero, com a emoção substituindo a razão. As paradas militares e a exposição do poderio policial são outras manifestações nas quais o alerta e de intimidação aparecem transfigurados em espectáculo imponente, ritualizado, divinizado, espécie de benzodiazepínico social destinado a substituir o pai freudiano.

Xenofobia e shangaanfobia: história e estereótipos na África do Sul e em Moçambique (5)

"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem. " [Bertolt Brecht]
Quinto número da série. Entro no quarto ponto do sumário proposto aqui, a saber: 4. África do Sul 2008, 2010 e 2015, subponto 4.1. Síndrome da história metropolitana. Em 2008 milhares de Moçambicanos regressaram ao país, fugidos da perseguição xenófoba. Em 2010, a África do Sul deportou em massa os imigrantes zimbabweanos e o nosso país recebeu mais de 40 mil compatriotas fugidos da violência. Em ambos casos, Zimbabwe e Moçambique receberam pessoas humilhadas, potencialmente geradoras de microclimas sociais de insatisfação. Este ano surgiram de novo perseguições vincadamente xenófobas. Os estrangeiros são sistematicamente acusados de roubar os empregos aos sul-africanos. Estamos confrontados com uma crença objectivamente falsa mas havida como subjectivamente verdadeira.

Pobreza mundial, pauperização & acumulação de capital

De Samir Amin, com o título em epígrafe: "A relação da pobreza com o próprio processo de acumulação é afastada pela teoria económica convencional. O resultante vírus liberal, que polui o pensamento social contemporâneo e aniquila a capacidade de entender o mundo, para não falar transformá-lo, penetrou profundamente as várias esquerdas constituídas desde a Segunda Guerra Mundial. Os movimentos actualmente envolvidos em lutas sociais por "um outro mundo" e uma globalização alternativa só serão capazes de produzir avanços sociais significativos se se livrarem deste vírus a fim de construir um debate teórico autêntico. Enquanto não se livrarem deste vírus, os movimentos sociais, mesmo os mais bem intencionados, permanecerão presos nas algemas do pensamento convencional e portanto prisioneiros de propostas correctivas ineficazes — aquelas que são alimentadas pela retórica referente à redução da pobreza." Aqui.

27 abril 2015

Educação

A educação só tem sentido se, em lugar de domesticar as mentes, ensinar a pensar, a criticar e a problematizar a vida. É nessa estrada e nessa vida que os professores aprendem, também, com humildade, a ser estudantes.

Apologista das hipóteses

"Sou, creiam, um forte apologista das hipóteses." [texto de 1996, na íntegra aqui].

Eles e nós: construção social do Outro num bairro da cidade de Maputo (9)

Nono e último número da sérieRepresentar outrem positiva ou negativamente nada tem de anormal, é o natural do social. Todos os grupos sociais têm formas de representação social endógenas e exógenas, como se muros psicológicos de prevenção e protecção.
Digamos que em todo os grupos, em todas as populações, existem potenciais de negação, de rejeição do outro, de racismo, de etnicismo, de xenofobia.
O problema está quando, numa intensa luta (real ou imaginada) por recursos de poder considerados raros e vitais, as representações passivas, verbais, internas, se tornam activas, físicas, externalizadas, fazendo do aniquilamento do outro o fecho da abóboda da rejeição.

No "Savana" 1111 de 24/04/2015, p.19

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do ratoNota: "Fungulamaso" (abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser obtido tal como grafei.
Adenda: também na rubrica Crónicas da minha página na "Academia.edu", aqui.

26 abril 2015

Sugestão de portal a consultar

Eles e nós: construção social do Outro num bairro da cidade de Maputo (8)

Oitavo e penúltimo número da série.
Moçambicanos
E.: "(...) existem muitos estrangeiros, por exemplo temos aqui Burundeses, Somalianos, Zimbabweanos, Sul-Africanos, etc., todos negociantes. Eles para além de desenvolverem o negócio normal, também desenvolvem negócio sujo, são traficantes de drogas. Eu não posso apresentar uma prova palpável, mas toda a gente sabe que trazem drogas no nosso país; não são todos, mas alguns. (...) Eles não empregam Moçambicanos e trabalham entre eles, Moçambicanos servem como carregadores de sacos. (...) como é que eles conseguiram dinheiro que investiram no negócio se são refugiados? (...) Burundeses são grandes feiticeiros em negócios e até utilizam gatos nos balcões deles de venda."
Entrevistador: Tá bom, agora que nomes ou expressões eles usam quando se referem aos Moçambicanos?
Resposta de E.: Eles normalmente chamam-nos Moçambicanos ou amigos, não diferenciam se manhambane, machangane ou xingondo, costumam dizer amigo, amigo…
Entrevistador: E nós, Moçambicanos? Que nomes ou expressões usamos?
Resposta de E: Nós lhes chamamos Burundeses, Nigerianos, nunca conhecemos os nomes deles, eles falam na língua deles, não percebemos nada do que dizem, o segredo deles é esse, não dizem os nomes, têm medo, você vai ali ter com eles nunca te dizem o nome, apenas conhecemos aquele que regista a barraca, o resto não sabemos, são Burundeses, chamamos assim."

Por trás das crenças

“(…) é assim que nós acreditamos muitas vezes amar alguém porque possuiria tal ou tal qualidade, quando apenas lhe emprestámos essa qualidade porque a amamos; é assim que deduzimos imperativos morais dos dogmas religiosos, quando na realidade apenas acreditamos nos segundos porque os primeiros estão vivos em nós.” [Simmel, Georg, Philosophie de l´argent. Paris: PUF, 1987, p.71.

25 abril 2015

Nyusi fala demasiado depressa

Nos seus comícios, o presidente da República, Filipe Nyusi, fala demasiado depressa em português. Uma vez mais dei-me conta disso quando ouvia pela "Rádio Moçambique" uma parte do seu discurso hoje no distrito municipal de KaTembe, no decorrer da visita que efectua a Maputo.
Observação: grandes devem ser as dificuldades dos intérpretes para traduzir os discursos de Nyusi para as línguas locais.

Um texto

Importe aqui.

Afrofobia Versus Panafricanismo

Do escritor angolano José Eduardo Agualusa, com o título em epígrafe: "A cura para a xenofobia passa por resgatar os velhos ideais do panafricanismo, defendidos por homens com a estatura de um Amílcar Cabral ou de um Mário Pinto de Andrade, que sendo angolano foi Ministro da Cultura da Guiné-Bissau. Temos de pensar (e de nos pensar) primeiro como africanos e só depois como angolanos. Não faz sentido que protestemos contra a eventual perseguição a cidadãos angolanos, na África do Sul, e depois nos regozijemos com a expulsão de pobres imigrantes congoleses ou malianos de Angola. Eu sonho com uma África sem fronteiras." Aqui.

A construção xenófoba na África do Sul [um conjunto de hipóteses]

Uma parte significativa dos textos e dos depoimentos jornalísticos sobre a violência xenófoba na África do Sul exclui a análise em favor do julgamento moral. No cadinho da errada atribuição aos Sul-Africanos de um mundo de maldade de per si, autores de textos e de depoimentos jornalísticos tomam os efeitos pelas causas, explicam a questão com a questão.

Eles e nós: construção social do Outro num bairro da cidade de Maputo (7)

Sétimo número da série.
Moçambicanos
M., antigo secretário de bairro: "Estrangeiros apareceram neste bairro em 2003 e a maioria são Ruandeses e não Burundeses como as pessoas do bairro dizem (...). Eles estão mais preocupados com o negócio deles, desobedecendo totalmente as leis do país e eles vendem seus produtos nos dias feriados, nos sábados e nos domingos. (...) Aqui no bairro todos dedicam ao negócio e são eles que dominam o mercado. (...) aqui no bairro muita gente se interroga donde provém o dinheiro que esses estrangeiros usam para iniciar o negócio. É difícil explicar esta questão e convencer as pessoas, mas eu entendo que muitos desses estrangeiros têm familiares na Europa e na América e talvez sejam estes familiares que criam condições para eles iniciarem com seus negócios."

"À hora do fecho" no "Savana"


Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1111, de 24/04/2015, disponível na íntegra aqui:
Nota: de vez em quando perguntam-me por que razão o ficheiro está protegido com senha e marca de água. Resposta: para evitar que os ávidos parasitas do copy/paste/mexerica o copiem, colocando-o depois no seu blogue ou na sua página de rede social digital com uma indicação malandra do género "Fonte: Savana". Mas, claro, um ou outro é persistente e consegue transcrever para o word certos textos, colocando-os depois no blogue ou na rede social, mas sem mostrar o verdadeiro elo. Mediocridade, artimanha e alma de plagiador são infinitas.

Mais um aniversário

Comemora-se hoje mais um aniversário da revolução dos cravos ocorrida em Portugal a 25 de Abril de 1974. Saiba aqui, veja aqui e recorde a canção do falecido cantor e compositor Zeca Afonso (leccionou muitos anos em Moçambique, em particular na cidade da Beira) que serviu de senha para o início da revolução que levou à queda da ditadura em Portugal e constituiu um passo importante para a independência de Moçambique a 25 de Junho de 1975.

24 abril 2015

O segredo dessa alma fugidia

Circulam palavras duras sobre a xenofobia na África do Sul, acumulam-se perguntas e respostas, chocam maus, bons e feios, andam erectos sentimentos e descrenças, desfraldada está a caixa de Pandora. O que falta, uma vez mais, é investigar o fenómeno em toda a sua amplitude histórica para além das invectivas, das cartas e da busca de bodes expiatórios. Depois, será a hora processual de encontrar e de aplicar as soluções que devem ir muito para além do recurso punitivo à polícia, ao exército e aos tribunais. A maldade e a bondade não nascem connosco: surgem em nós consoante processos sociais e cadências históricas. O que mais falta na humanidade é aprender a aprender o segredo dessa alma, fugidia e, com frequência, prepotente e letal.

No prelo segunda edição

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Xenofobia e shangaanfobia: história e estereótipos na África do Sul e em Moçambique (4)

"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem. " [Bertolt Brecht]
Quarto número da série. Passo ao terceiro ponto do sumário proposto aqui, a saber: 3. Causas e precipitantes. Admitamos que tudo na vida e na sociedade está em relação e que ocorrendo o fenómeno A ou um conglomerado de fenómenos A, é muito possível que surja o fenómeno B ou um conglomerado de fenómenos B. Se admitirmos essa premissa relacional, aceitaremos que a xenofobia tem uma causa ou tem várias causas reunidas num dado fenómeno. No tocante à África do Sul, surgiram correntes defendendo que foi o rei zulu, Goodwill Zwelithini, quem despoletou a violência xenófoba. Porém, o rei não deve ser considerado como uma causa, mas como um dos precipitantes, um dos aceleradores, um dos reagentes de fenómenos socialmente latentes e que geraram os movimentos 3 e 4 sugeridos no número anterior. Nesta série vou tentar propor algumas situações, conjunturais umas, estruturais outras, que, unidas, têm gerado os movimentos xenófobos na África do Sul, por exemplo em 2008, 2010 e agora este ano.

Eles e nós: construção social do Outro num bairro da cidade de Maputo (6)

Sexto número da série. Entro agora nos depoimentos de Moçambicanos.
Moçambicanos
J., proprietário de uma barraca: "Nós temos casos aqui no bairro em que os nossos cidadãos trabalham com Burundeses em condições desumanas e são chutados de qualquer maneira e quando reivindicam aparecem outros cidadãos moçambicanos a defender o estrangeiro. (...) Os Burundeses socialmente não são boas pessoas, eles têm um buraco imaginário que a gente não entende e só estamos a assistir que eles evitam ao máximo relacionarem-se com os naturais (...)".

23 abril 2015

Nyusi consolida posição

No "O País" digital de hoje: "À medida que o tempo passa, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, vai ganhando o compasso e começa a marcar, verdadeiramente, o seu território." Aqui.

Eles e nós: construção social do Outro num bairro da cidade de Maputo (5)

Quinto número da série. Prossigo com mais um depoimento.
Estrangeiros
Comerciante ruandês: "Nós não temos problemas com Moçambicanos. (...) O único problema que temos aqui é com a polícia municipal. Eles não trabalham bem, não nos deixam trabalhar no fim-de-semana. Nos sábados e domingos temos tido muitos problemas com eles e também com jovens. Os jovens nos insultam e dizem que temos de voltar para o nosso país. Eles falam isso principalmente nas sextas e sábados, porque são os dias que bebem muito e consomem drogas. Eles chegam mesmo de bater com pedras na minha loja".

22 abril 2015

Polícia linchado na Zambézia após líder ser acusado de ter crocodilo assassino

De acordo com Costa Injai, administrador do distrito de Nicoadala, citado pelo "Diário da Zambézia", um polícia foi ontem assassinado na localidade de Licuar, povoado de Nawenjane, distrito de Nicoadala, província da Zambézia. Pessoas enfurecidas dirigiram-se a casa de um líder comunitário de terceiro escalão, de nome Victor Mucale, alegando ser proprietário de um crocodilo que matou uma criança de 14 anos no rio Licuar. Mas, alertado, o líder fugiu. A polícia teve de agir e foi no decorrer dessa intervenção que - narra o "Diário da Zambézia" com data de amanhã -, as pessoas enfurecidas, armadas com catanas e paus, mataram um agente da polícia. Já estão detidos três presumíveis autores do assassinato. Neste momento Victor Mucale está protegido pela polícia. [título e texto do autor deste diário com base nas informações do "Diário da Zambézia" 1941, versão digital, de 23/04/2015].
Observação: o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano tem não só a tarefa de melhorar a qualidade do ensino no país mas, também, em múltiplos e delicados sectores, a tarefa de, gradualmente, sem tréguas, saber levar instituições e pessoas, de pequenas a grandes, não importam idade e estatuto social, a encontrar causas diferentes para os fenómenos.
Adenda às 20:20: segundo uma fonte do jornal citado, o funeral do polícia realiza-se amanhã na cidade de Quelimane.

Não há crise

Segundo o "O País" digital: "O programa aprovado, cujos detalhes não tivemos acesso, vai custar 1.2 bilião de meticais, o que representa um crescimento aproximado de 36% comparativamente ao ano passado, o último da VII legislatura." Aqui.
Observação: uma das mais utilizadas expressões populares em Maputo, misto de impotência e de ironia bonacheirona, é esta: não há crise. Lembre aqui.

Segunda edição de duas obras sobre linchamentos

Publicadas em 2008 (primeiro volume) e 2009 (segundo), as obras com as capas abaixo, há muito esgotadas, vão ser republicadas em volume único, segunda edição, pela Imprensa Universitária da Universidade Eduardo Mondlane.

Para reflectir

Reproduzido com a devida vénia daqui. A citação encontra-se no portal da Fundação da Paz Desmond Tutu, aqui. A tradução para português pode ser esta: "Se é neutral em situações de injustiça, você escolheu o lado do opressor. Se um elefante tem a pata em cima do rabo de um rato e você diz que é neutral, o rato não irá apreciar a sua neutralidade."

Eles e nós: construção social do Outro num bairro da cidade de Maputo (4)

Quarto número da série. Prossigo com mais um depoimento.
Estrangeiros
No estabelecimento de G., congolês, muito desconfiado: "(…) Moçambique é um bom país, embora existam pessoas que falam mal de estrangeiros, principalmente jovens bêbedos e drogados. Eles muitas vezes chegam nas nossas mercearias e começam a insultar-nos."

Xenofobia e shangaanfobia: história e estereótipos na África do Sul e em Moçambique (3)

"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem. " [Bertolt Brecht]
Terceiro número da série. Passo ao segundo ponto do sumário proposto aqui, a saber: 2. Três fenómenos e quatro movimentos. Racismo, etnicismo e xenofobismo excluem pessoas. No racismo, actua-se com marcadores físicos do tipo cor da pele; no etnicismo, com marcadores simbólicos: língua, costumes, anterioridade de chegada a um território, heróis epónimos, etc.; no xenofobismo, com marcadores simbólicos alargados ao nível de uma nação. É racista quem defende a superioridade sócio-genética de um grupo; é etnicista quem defende a superioridade da sua etno-comunidade de origem; é xenofobista quem defende a supremacia da sua nação. Nos três fenómenos podemos encontrar os seguintes quatro movimentos: Primeiro: atribuição a outrem de um nome, de uma identidade. Movimento sem perigo. Segundo: atribuição ao nome ou à identidade de outrem de uma qualidade negativa; premissas de hostilidade. Terceiro: hostilização de outrem sem aniquilamento, mas com actos que podem ir até à agressão; hostilidade parcial. Quarto: aniquilamento de outrem, hostilidade total.

21 abril 2015

Irmãos

Irmãos é uma palavra constante nas intervenções do Presidente da República, Eng.º Filipe Nyusi.

Nyusi sobre a unidade do país

O Presidente da República, Eng.º Filipe Nyusi, em visita à província de Maputo, disse hoje que os Moçambicanos não devem perder tempo a discutir como dividir o país - jornal da noite da "Rádio Moçambique" às 19:30.

O grande pilhanço

A morte por cólera de um doente em Quelimane levou a um conflito de interpretações do qual se aproveitaram vários oportunistas para pilhar um centro de tratamento de cólera na cidade de Quelimane, tal como documenta a imagem, roubando - segundo o "Diário da Zambézia" digital - "todos bens, tais como baldes, bancos, colchões entre outro material, forçando os voluntários dos Médicos Sem Fronteira (MSF) a refugiarem-se na 1.ª Esquadra da Polícia da República de Moçambique." Leia aqui. Entretanto, de acordo com o mesmo jornal, a polícia já deteve os ladrões e recuperou parte dos bens roubados. Aqui.
Adenda às 07:58: o director do "Diário da Zambézia" critica hoje o edil de Quelimane no Facebook, saiba em quê e porquê aqui.
Adenda 2 às 08:16: confira a notícia do pilhanço também aqui.

Eles e nós: construção social do Outro num bairro da cidade de Maputo (3)

Terceiro número da série. Prossigo com mais um depoimento.
Estrangeiros
P.: "(…) em qualquer parte do mundo é assim, o estrangeiro é tratado assim, quer na Europa, quer na América. Portanto, o que dizem contra nós e nós entendemos que somos estrangeiros. (…) De uma maneira geral os Moçambicanos tratam-nos como Burundeses, mas somos Ruandeses. Nós aceitamos esse tratamento para evitarmos problemas, embora saibamos que aqui no bairro não existem pessoas do Burundi (…) Quando aconteceu o problema da xenofobia na África do Sul, passámos um bocado mal, porque as pessoas falavam mal de nós e até aqui na minha casa serviu como local de esconderijo de viaturas de todos os ruandeses que residem no bairro (…). Tínhamos medo que os nossos carros fossem apedrejados pelos jovens marginais. (…) Eu fui objecto de emboscada por duas vezes (….)”

Xenofobia e shangaanfobia: história e estereótipos na África do Sul e em Moçambique (2)

"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem. " [Bertolt Brecht]
Segundo número da série. Entro de imediato no primeiro ponto do sumário proposto no número inaugural, a saber: 1. Sobre analisar. Vão seguir-se nesta série algumas hipóteses de análise do delicado problema da xenofobia. É frequente confundir análise com tomada de posição sobre um determinado fenómeno, com postura normativa, com juízo de valor. Por isso acho sensato recordar um texto postado neste diário anteontem, a saber: "Quando um médico manda fazer um raio x a um paciente que tem um problema num determinado órgão interno, não tem por preocupação saber se esse órgão é bom ou mau, feio ou bonito, mas saber o que o afecta para, depois, iniciar a terapia. A função dos estudantes do social é um pouco como a dos médicos: consiste em analisar fenómenos, vasculhar as suas cavidades, encontrar causas e consequências, podendo acontecer que os decisores (que não são eles) tomem medidas na sequência dos resultados obtidos. Portanto, a sua função não consiste em saber se os fenómenos são bons ou mais, feios ou bonitos. Estudantes do social são obviamente cidadãos e cidadãos são regidos por princípios e regras morais, diferentes que uns e outras sejam. Mas quando estudam fenómenos sociais fazem-no (ou devem fazê-lo) como estudantes e não como cidadãos. Nenhuma ciência é possível quando se confunde estudo e moral e se pede àquele que seja esta. Ou vice-versa. O ser não é o dever ser, o juízo de facto não é (ou não deve ser) o juízo de valor. Analisar não significa estar de acordo ou em desacordo com o que quer que seja. Este é, hoje ainda, um dos maiores desafios da história científica da humanidade." Aqui.

Cinco condições de paz política em Moçambique (11)

"Em 1970, quando os três astronautas da Apollo 13 estavam tentando descobrir como levar sua nave danificada de volta para a terra, eles estavam envolvidos em um jogo claramente de soma não zero, porque o resultado seria igualmente bom para todos eles ou ruim para todos eles." [aqui]
Décimo primeiro número da série. Permaneço no terceiro ponto do sumário proposto aqui, a saber: 3. Cinco condições de paz política em Moçambique, entrando no penúltimo subponto, a saber: 3.4. Treino das forças de defesa e segurança nos direitos humanos. Estamos agora confrontados com um tema delicado. No que toca à polícia, regularmente a nossa imprensa dá conta, entre outros, de dois tipos de fenómenos: 1. Utilização abusiva da força dissuasora, 2. Participação em actos criminosos.
Nota: fico grato a todas aquelas e a todos aqueles que queiram contribuir para o tema, criticando e melhorando as linhas de visão e análise que irão surgindo aqui.

20 abril 2015

Xenofobia: Cerca de 400 Moçambicanos esperados em Boane

Segundo o "Jornal de Notícias" digital, "Cerca de 400 moçambicanos fugidos da violência xenófoba na África do Sul são esperados na terça-feira no centro de trânsito de Boane, sul de Moçambique." Aqui.

No "Savana" 1110 de 17/04/2015, p.19

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do ratoNota: "Fungulamaso" (abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser obtido tal como grafei.
Adenda: também na rubrica Crónicas da minha página na "Academia.edu", aqui.

Eles e nós: construção social do Outro num bairro da cidade de Maputo (2)

Segundo número da série. Propus no número anterior que fizessemos as seguintes perguntas: como é que os Moçambicanos constroem os estrangeiros? E como é que os estrangeiros constroem os Moçambicanos? Vou deixar aqui pequenos extractos de entrevistas feitas num bairro da periferia da cidade de Maputo em 2009 por um dos meus assistentes.
Estrangeiros
JO, comerciante ruandês: "(…) eu não tenho nenhum problema com Moçambicanos, embora existam pequenos casos que considero serem normais. Em princípio, os Moçambicanos tratam-nos como Burundeses, mas nós viemos do Ruanda. Às vezes aparecem pessoas que dizem que vocês Burundeses não são nada e expressam assim para nos gozar. Quando nós ouvimos isso, não nos preocupamos, porque sabemos que mesmo entre vocês, Moçambicanos, se desprezam. Os que vieram do norte são chamados xingondos. Quanto eu estava em Nampula as pessoas da cidade desprezavam os que vinham dos distritos, dizendo que vocês de Mogovolas, de Angoche, não são nada."

Xenofobia e shangaanfobia: história e estereótipos na África do Sul e em Moçambique (1)

"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem. " [Bertolt Brecht]
Acho um bom método organizar as ideias e as hipóteses que aqui serão expostas de acordo com o seguinte sumário:
1. Sobre analisar
2. Três fenómenos e quatro movimentos
3. Causas e precipitantes
4. África do Sul 2008, 2010 e 2015
  4.1. Síndrome da história metropolitana
  4.2. Síndrome da desilusão
  4.3. Xenofobia, shangaanfobia, pogroms
5. Moçambique 2006, 2007 e 2010
 5.1. Síndrome da rarefação (dignidade, sobrevivência, pão e chapas)
  5.2. Bairro T3 na Matola/Agosto de 2006
  5.3. Nampula/Março de 2007
  5.4. Xiquelene/Maputo/Janeiro de 2010
  5.5. Matola e Maputo/Setembro de 2010
  5.6. Resultados de uma pesquisa de 2009
 6. Sobre os ataques a lojas de comerciantes na África do Sul e em Moçambique
 7. O que distingue a África do Sul de Moçambique
 8. O imperativo regional de um Estado social
Nota: sugiro leiam um  texto de Achille Mbembe aqui [agradeço ao AJ ter-me chamado a atenção para ele].

19 abril 2015

Edição de amanhã

Nyusi, Isaura e do Rosário: diferenças no Facebook

A página do Presidente da República, Filipe Nyusi, no Facebook, parou no dia 15 de Janeiro, verifique aqui. A página da Primeira-Dama, Isaura Nyusi, está actualizada, mas com o senão de se apresentar como produto do "Gabinete da Esposa do candidato da Frelimo" quando as eleições realizaram-se em Outubro do ano passado. Aqui. Finalmente, muito activa e frequentada está a página do Primeiro-Ministro, Carlos do Rosário, aqui.

Entre analisar e moralizar

Quando um médico manda fazer um raio x a um paciente que tem um problema num determinado órgão interno, não tem por preocupação saber se esse órgão é bom ou mau, feio ou bonito, mas saber o que o afecta para, depois, iniciar a terapia.
A função dos estudantes do social é um pouco como a dos médicos: consiste em analisar fenómenos, vasculhar as suas cavidades, encontrar causas e consequências, podendo acontecer que os decisores (que não são eles) tomem medidas na sequência dos resultados obtidos. Portanto, a sua função não consiste em saber se os fenómenos são bons ou mais, feios ou bonitos.
Estudantes do social são obviamente cidadãos e cidadãos são regidos por princípios e regras morais, diferentes que uns e outras sejam. Mas quando estudam fenómenos sociais fazem-no (ou devem fazê-lo) como estudantes e não como cidadãos. Nenhuma ciência é possível quando se confunde estudo e moral e se pede àquele que seja esta. Ou vice-versa. O ser não é o dever ser, o juízo de facto não é (ou não deve ser) o juízo de valor. Analisar não significa estar de acordo ou em desacordo com o que quer que seja.
Este é, hoje ainda, um dos maiores desafios da história científica da humanidade.

Xenofobia e shangaanfobia: história e estereótipos na África do Sul e em Moçambique

Fotos falsas deturpam violência xenófoba

Um trabalho da "Eyewitness News" com o título em epígrafe exibe fotos falsas que têm sido utilizadas  na mídia social para documentar a violência xenófoba na África do Sul. Aqui. [agradeço à MS o envio da referência]
Observação: nas redes sociais digitais e no tocante a Moçambique, circularam várias das fotos mostradas. Permitam-me recordar o que, anteontem, em texto meu neste diário, escrevi: "Com regularidade, tenho chamado a atenção para os rumores, espontâneos e intencionais, que surgem em situações dramáticas como no caso da xenofobia. Mas importa, também, chamar a atenção para a utilização de imagens chocantes que, com sensacionalismo descarado, são colocadas a eito nas redes sociais digitais sem indicação de autor, contexto e período histórico." Aqui.
Adenda às 05:53: entretanto, confira as mais recentes notícias sobre a violência xenófoba aqui.

Eles e nós: construção social do Outro num bairro da cidade de Maputo (1)

Representações sociais são sempre fenómenos merecedores de atenção. Deixemos um pouco os problemas da África do Sul e façamos as seguintes perguntas: como é que os Moçambicanos constroem os estrangeiros? E como é que os estrangeiros constroem os Moçambicanos? Vou deixar aqui pequenos extractos de entrevistas feitas num bairro da periferia da cidade de Maputo em 2009 por um dos meus assistentes. Começarei pelos estrangeiros, tarefa sempre muito difícil, pois regra geral recusam falar, dizendo que não querem problemas. Bairro e nomes dos entrevistados foram eliminados. Caso possa, leia o livro com a capa abaixo. Finalmente: recorde o que se passou em Setembro de 2010 na Matola e na cidade de Maputo, aqui.

Capacidade mediúnica de Dhlakama

Segundo a "Folha de Maputo" digital: "O líder da Renamo Afonso Dhlakama, prometeu ontem [dia 12, CS] na província de Manica, no centro do país, triplicar o actual salário mínimo nas províncias autónomas que o seu partido pretende criar."
Adenda: sem comentários perante tanta capacidade mediúnica.