No número de fecho da sua série intitulada "Barack Obama: a lição da América para a África" (semanário "O País" na edição de hoje, p. 8) e na qual escreveu sobre uma América onde, apesar do que chamou "divisões étnico-raciais", "nunca ninguém será impedido de participar na vida política americana sob acusação de ser "estrangeiro"", o investigador Sérgio Chichava referiu duas histórias que passo a citar na íntegra:
"Aquando das primeiras eleições municipais da história de Moçambique independente de 1998, a questão étnico-racial esteve no centro das discussões. Certas personalidades próximas à Frelimo (o partido que sempre se disse defensor da igualdade entre os moçambicanos independentemente da sua cor, religião ou tribo) tais como o general Américo Fumo insurgiram-se contra a candidatura de Philippe Gagnaux, em virtude de ser branco, questionando por exemplo se um negro podia ter um dia pretensões de ser presidente dos municípios de Lisboa ou do Porto, por exemplo. Em poucas palavras, isto equivalia a dizer que apenas os negros é que tinham direito a candidatarem-se a cargos públicos. O que estava em causa não era se Philippe Gagnaux era capaz ou não de governar uma cidade tão complexa como Maputo, mas sim a sua identidade racial.
Ainda nestas mesmas eleições, algums membros da Ngyyana "coroa em xironga (associação dos nativos e amigos de Maputo, uma associação explicitamente ronga e muito próxima à Frelimo) não viam com bons olhos a indicação de Artur Canana, um macua-lómué da Zambézia como candidato da Frelimo ao município de Maputo. Para eles, Maputo devia ser dirigido por um "filho da terra" e não por um "estrangeiro". Estes indivíduos da Ngiyana, agastados com esta situação chegaram ao ponto de apoiar publicamente um outro candidato, Carlos Jeque, que concorria como independente, por ser originário de Maputo. Embora estes dois indivíduos (Philippe Gagnaux e Artur Canana) tenham concorrido sem muitos sobressaltos, o segundo chegando mesmo a governar o município de Maputo, o questionamento das suas identidades não deixou de ser preocupante."
Comentário: faltou apenas, Sérgio, mostrar por que razão este tipo de etiquetamento e de exclusão identitária ocorreu e ocorre. Faltou trabalhar com a disputa pelo que chamo recursos de poder. Disso tenho aqui falado e voltarei a falar oportunamente.
7 comentários:
até o antigo pr disse que gagnaux era albino - foi num comício na praça dos herois.
Sim, me lembro disso.
Para certos circulos de interesses o racismo só tem uma via. Em certas coisas faz falta um novo Samora.
Os MOÇAMBICANOS não pretos cada vez mais são ostracizados como se de facto e de direito não o fossem.
Afinal a origem do Homem não é África? sendo assim...
Nos países onde se julgam os homens pelas diferenças, quaisquer que sejam, não pode ser um país com uma sociadede forte e viável.
Os homens devem ser julgados unicamente pelos seus actos e pelos seus valores e quem não aceitar e compreender isso não está a construir nada de bom.
Lembrem-se que em África, mais que os conflitos coloniais, os conflitos com a origem na diferença tribal foram muito mais devastadores e sanguinários. Vejam o Congo, o Rwanda, Costa do Marfim, Serra Leoa,Chade, Zazimbar Quénia etc.
Mais dia menos dia estas diferenças surgirão também na sociedade Moçambicana e tudo isto por culpa de pessoas que se diziam lutar por um país novo, sem conflitos sociais.
ps. Se não me engano, o presidente do município de Lisboa é de origem goesa/indiana.
"Se não me engano, o presidente do município de Lisboa é de origem goesa/indiana."
Não se engana, não.
Mas porque será que EU, quando o ouço e vejo na televisão, não consigo ver a cor da sua pele, concentrado que estou nos seus dizeres?
E já agora, o mesmo se passa com o irmão, que tem um programa de economia na televisão portuguesa, juntamente com o Nicolaus Santos.
E até nem sou da tendência política do Dr. António Costa.
Porquê que não vejo a cor?
Nota: O meu receptor TV é a cores, novo e de boa marca.
E não sou daltónico.
Os problemas identitários são, naturalmente, excepcionalmente complexos. Perdoem-me o truísmo. Mas esforçar-me-ei por deixar algumas hipóteses de reflexão (que desaforo!)na série "Para que servem tribo e raça?".
Porque é que se torna fácil notar esse descendente de goeses em Portugal? Porque é excepção!
Quantas pessoas eleitas existem em Moçambique que não são negras? Várias! São pouco visíveis porque não são excepção: O Presidente do município de Vilanculos, o Presidente do município de Quelimane, o Presidente da FMF...
Creio que não existe país que possa dar lições a Moçambique em termos de tolerância racial. Muito menos Portugal!
Parabens Philipe, meu velho amigo dos anos 70, sempre com o coraçao e alma em Moçambique, que a gente ama do fundo - Deus abençoe Moçambique e a vc, forte abraço Alexander B Preis
agora no Brasil com os filhos veja www.tropicasas.com, mais um paraiso tropical ...Boa Sorte Amigo, a Bianca diz Alo
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