É uma Frelimo endurecida pela luta, militarmente vitoriosa, dirigida por um grupo claramente revolucionário, castrense e puritano, que vai estar à cabeça do país a partir de 25 de Junho de 1975, data da Independência Nacional (para uma tentativa de periodização da história política moçambicana, leia ou releia aqui esta minha série).
Toda a estrutura política e militar montada na guerrilha é transportada para a gestão do Estado, é generalizada, tornada dia-a-dia, regra de conduta. Muitos dirigentes andam fardados. O inimigo externo é forte: África do Sul e Rodésia do Sul. O antigo exército guerrilheiro é transformado num exército convencional que passa a dispor de tanques e de aviões a jacto.
Internamente, os discursos de Samora Machel fustigam não apenas os efeitos do colonialismo português (especialmente ao nível dos "vícios" assimilados e das expectativas da burguesia nacional), quanto as ameaças sul-africana e rodesiana. Uma cerrada malha política povoa o país através dos grupos dinamizadores, das células do partido marxista-leninista formado em 1977, dos comícios. O discurso político eclipsa o discurso técnico-estatal. As pessoas são etiquetadas imediatamente como revolucionárias ou como contra-revolucionárias. Não há meio termo.
"A política no posto de comando" - eis as palavras de ordem.
Nota 1: no semanário "Magazine Independente" de hoje e a propósito de várias decisões e leis consideradas inconstitucionais, a ministra da Justiça, Esperança Machavela, acusou "certos círculos de opinião" de pretenderem "politizar tudo no País" (pp.16-17). Os tempos são, naturalmente, outros.
Nota 2: a qualquer momento posso rectificar algo neste texto. Caso isso venha a acontecer, colocarei a cores as partes modificadas.
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