31 março 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1264, de 30/03/2018, disponível na íntegra com 31 páginas aqui.

30 março 2018

Faísca

Leia a mais recente edição do Faísca [jornal editado em Lichinga, capital provincial do Niassa], 16 páginas aqui.

29 março 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [43]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui.
Em 2008, muitos compatriotas foram vítimas de ataques xenófobos na África do Sul. Cerca de 40 mil regressaram temporária ou definitivamente ao país.
Essa tragédia provocou traumas de ordem vária, seja em quem estava na África do Sul, seja em quem cá estava e está.
Ora, o rumor do bicho-papão-nigeriano pode também ser uma espécie de linguagem metafórica do drama, a sequela mascarada e mutante da perseguição, do sul-africano-agora-nigeriano atacando o centro nevrálgico e delicado da sociedade - as mulheres -, deixando marcas reprodutoras da morte através dos vermes. Aparentemente nascido no Soweto, o rumor como que se trans-nacionalizou.

28 março 2018

Holofotes

Quantos mais holofotes analíticos estiverem direccionados para um determinado fenómeno, melhores serão a visibilidade e inteligibilidade obtidas.

27 março 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [42]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui.
Como observei no número anterior, os mais velhos, homens e mulheres, manifestam de forma aberta a sua inquietação com o destino moral das raparigas, com a gestão da sua sexualidade.
Então, o bicho-papão-nigeriano é como que o agente promotor, como que o agente devasso, orgiástico - mas também a figura punitiva fantástica -, da dissolução dos valores e dos costumes: os vermes que é suposto ele espalhar nos órgãos sexuais das mulheres são ao mesmo tempo a causa e a consequência do anunciado desregramento moral, o mal e a punição, a metástase e a dor, o aviso e o futuro.

26 março 2018

Uma crónica semanal

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. Confira na edição 1263 de 23/03/2018, aqui.

25 março 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [41]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui.
Um quinto factor a ter em conta no boato aqui em causa é aquilo a que, com frequência, as pessoas chamam "dissolução dos costumes" ou "perda de valores". O que significa isso? Neste campo, muito visível na nossa imprensa, as mulheres constituem uma preocupação fundamental, especialmente no que concerne à liberdade sexual. Os mais velhos, homens e mulheres, manifestam de forma aberta a sua inquietação com o destino moral das raparigas, com a gestão da sua sexualidade.

24 março 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1263, de 23/03/2018, disponível na íntegra com 31 páginas aqui.

23 março 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [40]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Se o sonho é a realização de um desejo, como escreveu um dia Freud, o rumor é o fusível de um certo mal-estar social.
Avancemos, entretanto. Um quinto factor a ter em conta no boato aqui em causa é aquilo a que, com frequência, as pessoas chamam "dissolução dos costumes" ou "perda de valores". O que significa isso?

22 março 2018

2013: por ocasião da outorga do Honoris Causa a Aquino de Bragança

Em 2013 a Universidade Eduardo Mondlane atribuiu o Honoris Causa a Aquino de Bragança. Tive o prazer e a honra de ser um dos dois intervenientes versando sobre a vida e a obra de Aquino, juntamente com a Professora Teresa Cruz e Silva. O texto da minha intervenção pode ser baixado aqui.

21 março 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [39]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Escrevi no número anterior que uma quarta vereda a ter em conta no rumor sincrético aqui em causa é o medo da criminalidade, o receio diário do que nos possa acontecer quando regressamos do trabalho, quando entramos no bairro à noite. E acrescento agora: o nigeriano é, então, a personificação fantástica e ubíqua do criminoso, do estrangeiro ao nosso bairro e aos nossos costumes, versão do chupa-sangue, ele é, se quiserdes, o eco ao mesmo tempo individualizado e colectivo de um rumor surgido em 2006 no Bairro T3 do município da Matola, que referia existirem estrangeiros que, na calada da noite, entravam em casa disfarçados de animais e violavam as mulheres sem que ninguém desse por isso.

Um prisma sobre Moçambique

Um prisma sobre Moçambique tendo como tema a dívida do país, através do mais recente número de um boletim editado por Joseph Hanlon com 04 páginas, a conferir aqui.

20 março 2018

Iniciação e velhos

Os ritos de iniciação à maturidade nas comunidades rurais são também ritos de gestão política do corpo sexual e não é por acaso que são revestidos de secretismo e geridos pelos mais velhos, pelos guardiões da ordem e do corpo sexualmente controlado.

19 março 2018

Uma crónica semanal

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. Confira na edição 1262 de 16/03/2018, aqui.

18 março 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [38]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Uma quarta vereda a ter em conta no rumor sincrético aqui em causa é o medo da criminalidade, o receio diário do que nos possa acontecer quando regressamos do trabalho, quando entramos no bairro à noite.

17 março 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1262, de 16/03/2018, disponível na íntegra com 31 páginas aqui.

15 março 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [37]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Então, o bicho-papão-nigeriano (podia ser Burundês, Zimbabweano, Chinês, Libanês, não importa que nacionalidade estrangeira) é como que a tradução, a epítome alegórica do mal estrangeiro, mal que é suposto violentar as mulheres moçambicanas, que é suposto infectar os Moçambicanos com os vermes que se alimentam de fígado, praga que mata. O rumor como que veicula os sentimentos de inferioridade e de ciúme dos Moçambicanos confrontados com uma feitiçaria estrangeira considerada muito forte. [consulte Serra, Carlos (dir), A construção social do Outro, Perspectivas cruzadas sobre estrangeiros e Moçambicanos. Maputo: Imprensa Universitária, 2010]

14 março 2018

Diversidade

Um mesmo problema ou um mesmo objecto é encarado de forma diferente por vários indivíduos de acordo com histórias pessoais, colectivas, nacionais, etc.

13 março 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [36]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Observei no último número que era necessário considerar um terceiro êmbolo, o das representações negativas concernentes aos estrangeiros na cidade de Maputo.Mas tenho para mim que é necessário considerar um terceiro êmbolo, o das representações negativas concernentes aos estrangeiros na cidade de Maputo. Na verdade, uma parte importante das barracas e dos contentores da periferia da cidade de Maputo (negócio de roupas, de bebidas, de troca de moeda, por exemplo) está a ser gerida por estrangeiros como Nigerianos, Burundeses, etc., gente que - defendem muitos Moçambicanos - só pensa nela e nos seus parentes e amigos. No seio de muitos Moçambicanos existe a crença generalizada de que os estrangeiros (os Nigerianos são largamente referenciados) têm acesso privilegiado a meios que os locais não podem ter, que são ricos porque são proprietários de uma magia muito especial, muito potente, que eles são grandes feiticeiros [veja Serra, Carlos (dir), A construção social do Outro, Perspectivas cruzadas sobre estrangeiros e Moçambicanos. Maputo: Imprensa Universitária, 2010]

12 março 2018

Uma crónica semanal

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. Confira na edição 1261 de 09/03/2018, aqui.

11 março 2018

Sobre violência

A nossa concepção de violência baseia-se na violência violenta, é uma concepção muito física, como que quinestésica: um tiro, uma agressão, uma ira sem fronteiras, um discurso, uma manifestação popular, uma carga policial. Quando isso acontece, de imediato salta um fusível perceptivo no comum de nós e dizemos algo como: eis a violência. Por outro lado, temos uma concepção que objectivamente exclui que as coisas serenas ou doces possam ser violentas ou dar origem à violência. Quer dizer, a nossa concepção é a do ruído, da explosão, a daqueles momentos veementes que escamoteiam as condições violentas não violentas que, por acumulação progressiva, geram a repentinidade da violência violenta que parece, afinal, não radicar nessas condições.

10 março 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1261, de 09/03/2018, disponível na íntegra com 31 páginas aqui.

09 março 2018

Uma crónica

Convido-vos a ler uma crónica do jornalista Alfredo Macaringue inserta no Notícias de hoje, aqui.

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [35]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Mas não só. O rumor do bicho-papão-nigeriano de mulheres é, na verdade, um comboio com muitas carruagens.
Propus já que tivéssemos em conta dois êmbolos do rumor do bicho-papão-nigeriano que deixa vermes nos órgãos sexuais das mulheres de Maputo: o HIV/SID e o tráfico de seres humanos.
Mas tenho para mim que é necessário considerar um terceiro êmbolo, o das representações negativas concernentes aos estrangeiros na cidade de Maputo.

08 março 2018

Dia Internacional da Mulher


Por ocasião hoje do Dia Internacional da Mulher, permitam-me oferecer-vos este meu antigo poema:
com a suavidade
com que as rolas tecem o voo da vida
e o milho ama a terra túrgida
dessa maneira simples e possível
desembarco em ti no passado
sempre que por ti franqueio o presente
e no teu ventre planto os sonhos
Carlos Serra

Essencialismo

A virtude cardeal do essencialismo - coisa de todos nós, ao mais variados níveis - consiste em tomar comportamentos, estados e identidades por fenómenos imutáveis e auto-explicáveis. A etiquetagem social é, regra geral, o produto do essencialismo. Quando, por exemplo, dizemos, de forma taxativa, que o norte do país é matriarcal, estamos simplesmente a dizer que "perderíamos" o Norte caso algo se desmatriarcalizasse, caso sumisse essa confortante evidência irremediavelmente natural e fagocitante. Eis uma pergunta perversa, baseada no sociólogo alemão Georg Simmel: a partir de que efectivo os desviantes seguros ou prováveis podem ser tomados como quantidade negligenciável?

07 março 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [34]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. No imaginário popular faz muito que circulam histórias de desaparecimentos de pessoas, de raptos de mulheres e de crianças, de misteriosas mortes, de extracção de órgãos para os mais diversos e obscuros fins. E as mulheres são muito sensíveis a isso, elas são mães, elas são muitas vezes agredidas física e simbolicamente, elas muito rapidamente espalham o diz-que-diz pela rádio-rua, pela rádio-chapa, pela rádio-senta-abaixo, pela rádio-dumba-nengue, pela rádio-pátio.
Mas não só.