Resposta de uma enfermeira ante o caso de uma criança aparentemente sofrendo de tinha e que foi presente a uma consulta no Hospital Rural de Marromeu: "Lamento bastante, são tantas crianças que padecem desta doença mas o nosso hospital não tem este tipo de medicamento pelo facto dos medicamentos custarem muito dinheiro e o nosso ministério não opta em comprar medicamentos caros para doenças que não matam, exemplo a tinha. Depois acrescentou: melhor recorrer a farmácias privadas." Confira aqui.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
14 comentários:
Carlos Serra: you are good at making titles. The "Nao ter para a tinha" is top notch.
Um recado ao Ministro da Saúde Dr. Ivo Garrido, que acredito ao tomar conhecimento desta situação vai pulverizar esta anomalia.
Um abraço
Triste resposta para quem lida com saude. o que se pode esperar quando nao se tem interesse por doencas que nao matam.
Espero que o Ministro olhe para esta situacao que esta virando moda em Marromeu.
bela versao: nao ter para a tinha
Tenho a obrigação de comentar.
Fui nascido no Luabo, mesmo perto de Marromeu, 2 localidades irmanadas pela história.
Mas decidi não o fazer.
Apenas porque fiquei sem condições, e não é bom comentar assim, nesse estado de alma.
Desconsigo!
N'Kosi Sikeleli Marromeu;
N'Kosi Sikeleli Moçºambique.
TINHA, previne-se com ÁGUA E SABÂO!
O drama está no facto do Ministro Zacarias no seu recente informe na AR nos ter vindo dizer que, por exemplo, nas Províncias da Zambézia e Nampula, MENOS de 40% da população tem acesso a àgua potável.
A dificuldade financeira no meio rural para compra de sabão é uma realidade, e, por muito que se esforcem em misturar cinza com certas raízes, não resulta. TINHA é um problema de higiene corporal; uma doença da pobreza!
Meu caro Viriato, o esforçado Ministro da saúde sabe bem destas carências. Mas os recursos não são elásticos. Não é fácil gerir com a mão estendida à comunidade internacional … depois, Garrido tem criado algumas fricções com os doadores, que acabam por dificultar desembolsos.
Acabamos por ter fundos atribuídos, mas não os podemos utilizar por não cumprimento de certos requisitos, quer por efectiva falta de organização interna, quer, em alguns casos, de certo modo provocada para facilitar o cabritismo. Resultados? pequenas birras … e, quem acaba por se “lixar” é o mais fraco.
Tenho assistido nos distritos a muitas situações em que a farmácia do Estado não tem medicamentos (a preço simbólico) e são passadas receitas cujo produto só existe na farmácia, que a população não pode pagar. Assim, porque não tem dinheiro, apenas compram uma parte dos medicamentos hoje, outra amanhã, etc., ou vão ao dumbanengue comprar sabe-se lá o quê.
Cuidados de saúde de borla … só da boca para fora!! O que não quer dizer que os esforços no sector não sejam hercúleos e se verifiquem melhorias. Só que o patamar está muito distante ainda do básico.
Depois há aquela enormidade de recursos para o HIV/SIDA, essa “praga” que vai a caminho de se instalar em quase 30% de nós, e que consome imensos recursos.
> Se estes são canalizados para tentar oferecer uma melhor qualidade de vida e alguns anos mais a quem está infectado, faltam depois para quem potencialmente é mais produtivo.
> Complicada esta análise. Mas, com o nível de informação disponível, hoje, as NOVAS infecções são em grande parte resultado de uma enorme IRRESPONSABILIDADE, que mais dia menos dia vai ter que se "responsabilizar".
Finalmente: TINHA não mata, mas DESANIMA!
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Anónimo disse...
TINHA, previne-se com ÁGUA E SABÂO!
Tem toda, ou sem ser demasiado acertivo, radical, 99% de razão.
Também penso que é por aí.
Mas não quis, "não pude", escrevê-lo!
Mas o grande drama, para além do tudo o que escreveu, é
o Povo, os chefes de família, não terem capacidade financeira para comprarem um "bocadinho" de sabão,
e lembro que o rio Zambeze beija Marromeu.
Ou então, não haver sabão, pura e simplesmente!
Em Maputo, sei que há.
Caro anónimo,
Eu sou uma das pessoas que ponho a mão no fogo pelo Ministro da Saúde Dr. Ivo Garrido. Não posso comungar consigo nalguns aspectos que atiça-se contra o ministro Garrido, porquanto deve saber que o ministro não é esponja (que absorve todo o tipo de água) para aceitar de anânimo leve as coisas, e deve também saber que não há verdadeiramente ajudas, os países cooperam-se! Vinde cá, em Portugal, para ver como é que o sector de saúde funciona, é uma lástima, digo-lhe porque sofro na carne como os portugueses a verdadeira lentidão e burocratismo deste sector, aliás o lema aqui é devagar, devagarinho e parado!!!Contrariamente ao nosso país, cuja situação está a melhorar. Muitas das coisas que estão em estado de letárgia no sector de saúde em Moçambique duvido que sejam do domínio do ministro, tenho cá comigo as minhas dúvidas!!!
Caro Viriato,
Creio que comparar o nosso sector da saúde, que bem conheço, com o sistema de saúde português, que conheço pela RTPAfrica e outros canais de informação, por muito mal que as coisas andem por ai, é “comparar alhos com bugalhos”. As nossas carências em instalações, laboratórios, pessoal qualificado e outros recursos são, infelizmente, tremendamente maiores.
Não levantei qualquer dúvida quanto à honorabilidade do Ministro Garrido. Referi-me apenas à existência no Ministério da Saúde, de (i) um certo nível de desorganização, por razões de carência de meios materiais humanos e financeiros, e (ii) desorganização “organizada” /propositada, o tal cabritismo. Mas disse também:
“ O que não quer dizer que os esforços no sector não sejam hercúleos e se verifiquem melhorias. Só que o patamar está muito distante, ainda, do básico”,
Ou seja: Garrido, no meu ponto de vista, é um homem de convicções, determinado, mas, enquanto dependermos em mais de 50% da ajuda internacional, os seus esforços nunca serão suficientes para melhorar de forma sustentada a situação na saúde, onde se irá sempre exigir mais e mais.
Temos que ser PRAGMÁTICOS, ter coragem de olharmos para o espelho e vermo-nos de mão estendida: temos de ter coragem para repudiar essa imagem e trabalhar para a eliminar. Só há uma maneira de o fazer: produzindo mais e mais riqueza.
Enquanto tal não acontecer, podemos fazer as “birras” que quisermos com doadores, políticos internacionais e outros, alegadamente em defesa da nossa auto-estima, dignidade e sei lá quantas coisa mais, mas, a realidade, será: a mão estendida, e o olhar sobranceiro, complacente dos outros (donde... lá se vai a auto-estima!)
Na 1ª página do Notícias de hoje vem a referência a mais um encontro do PR Guebuza com o seu Grupo de Conselheiros Internacionais: “políticos, homens de negócio e representantes de empresas e organizações de dimensão mundial”, para balanço do que aconteceu desde o último encontro em Outubro/2008.
A determinada altura da notícia, Fernando Sumbana, Ministro do Turismo e Desporto, e porta-voz do encontro, respondendo a uma pergunta sobre à revolução verde, explicou:
“Os conselheiros apreciaram o esforço da revolução verde mas, como disse, eles são pragmáticos, razão por que a concentração foi mais em determinados aspectos específicos”.
PRAGMATISMO! Eles não se impressionaram com os nossos slogans demagógicos e reveladores de muita ignorância na área agronómica, ENTENDERAM que é preciso concentrar esforços no ESSENCIAL!
Alguns de nós, teimamos em distorcer a realidade. Candidamente, acabamos por nos auto-convencer que o Mau é Bom, e defendemos com unhas e dentes o Mau, convencidos que é Bom.
Não nego que há trabalho realizado, que a missão é difícil, trabalhosa, desgastante, MAS, temos que, em tudo na vida, adoptar uma CULTURA DE EXIGÊNCIA: fez-se pouco face aos recursos disponibilizados e aplicados! É possível, por isso queremos mais e melhor.
Um abraço
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Concordo plenamente com o Anonimo. Mas uma vez fui ao hospital central, eu que tenho acesso à internet e tenho alguns recursos. Ia apanhar uma vacina antitetanica. E, sabem quanto paguei por todo o serviço? A enorme quantia de 1 Metical. Fiquei escandalizado. Uma coisa é certa: Esperei mais de duas horas para que a vacina me fosse aplicada. Creio que há que destinguir medicina gratuita para os pobres de medicina para todos gratuita. Um Metical não paga nem o talão que me deram, quanto mais o trabalhador que o teve que preencher, a enfermeira que me aplicou a vacina, a vacina, etc... Eu acho que temos que deixar de algumas demagogias e por os dedos nas feridas...
Mapulango
Obrigado pelas contribuicoes, vejo real interesse em assuntos publicos. apesar de algumas divergencias, ha tambem pontos comuns, " o ministro tem se empenhado bastante".
O mais interessante foi saber que a tinha pode ser curada com agua e sabao. aqui o grande custo passa a ser o sabao, ja que de agua o Zambeze esta cheio.
A questao e': porque as enfermeiras nao orientam assim os pacientes? Porque nao ha campanhas de sensibilizacao nessa vertente? limitam-se em nos dar receitas de medicamentos caro/que nao existem equanto agua e sabao e' algo que se pode aranjar com minimo de esforco.
VAMOS LEVAR ESTA ALTERNATIVA DE CURA JUNTO A QUEM PRECISA.
Ai está meu caro anónimo, como não conhece os contornos do sistema de saúde em Portugal perdoo-lhe, por isso, pela infelicidade do seu comentário. Há-de cá estar um dia e espero que não fique doente, primeiro pelo custo que essa doença vai gastar do seu bolso, segundo pelo tempo de espera. Em qualquer parte de Portugal para se extrair um dente não ficará mais de 2 anos de espera e teria de pagar cerca de 60 euros, equivalente a 1600,00MT. Ai é todos os dias e gratuitos. A qualidade não está apenas nos aparelhos, mas na capacidade humana de dar resposta aos problemas dos pacientes. Não basta ter um sistema altamente sofisticado quando gente e mais gente está a morrer por falta de assistência médica e medicamentosa. Infelizmente, só quem vê as coisas pela televisão pensa que a Europa ainda corre " leite e mel" para a vida das pessoas. Meu caro anónimo, em alguns aspectos o nosso país leva vantagens o que falta é acertar o passo!
Um abraço
Ainda na esteira deste ponto e respondendo ao segundo anónimo, eu não estou contra o óbvio, há falhas no sistema de saúde em Moçambique, falhas imperdoável que tentar esconder estaria a magoar as pessoas que sofrem na pele as mais duras e cruas realidade, mas também há melhorias. Melhorias que permitiu que grandes operações já não fossem feitas na vizinha RAS ou em Portugal, como aliás me confirmava uma médica há dias. É bom não nos esquecermos que as ajudas que recebemos tem um preço, não quereriam os doadores oferecer dinheiro a Moçambique a toa, quando milhares das pessoas em seus países passam mal. Meu caro anónimo, a realidade de vida na Europa não é aquilo que muitos pensam, aqui trava-se um combate pela sobrevivência, o que de todo o resto não é o meu caso graças ao meu ofício! Tire esta ideia de que o país é um antro de dificuldades e visite a casa do vizinho para ver o real sofrimento dos outros.
Um abraço
"O mais interessante foi saber que a tinha pode ser curada com agua e sabao. aqui o grande custo passa a ser o sabao, ja que de agua o Zambeze esta cheio."
Afinal ainda não esqueci.
Ainda conheço a realidade real.
Ao Portal de Sena que vai divulgar os cuidados primários, higiene, a tal água do Zambeze e um pouco de sabão,
convém referir para usar após o banho roupa lavada, não a mesma.
Sei que muitas vezes é quase impossível, mas a mensagem correcta é essa.
Um abraço, e boa campanha.
Caro Viriato,
“Com o mal dos outros, podemos nós bem”.
Não estou preocupado com o que ai se passa na saúde, na educação, economia, etc., creio não ser tão dramático como contas, mas aceito a tua informação pacificamente, são preocupações para os que aí habitam, utentes dos diferentes serviços.
Mas por cá, as coisas são bem mais difíceis do que imaginas: Ainda temos distritos, com milhares e milhares de compatriotas sem médico. MAS, mais grave, muitas vezes, entre ter um médico ou um técnico de saúde, a diferença é pouca.
Diziam-me jovens médicos que, em regra, a colocação nas unidades rurais é uma frustração e estagnação profissional. Um médico é formado para fazer o diagnóstico clínico, com base em análises laboratoriais e outros meios que não existem nessas unidades rurais.
Assim, o médico não aplica as suas competências e pouco mais pode fazer do que os técnicos de saúde: diagnosticam por sintomas (sem confirmação laboratorial). Em última análise, o doente passa a ser uma cobaia: se a febre não passa com o tratamento da malária, leva a seguir um antibiótico, um desparasitante, etc., etc. Passa mal o doente e gasta-se mais em medicamentos e falseiam-se as estatísticas das diferentes doenças.
Num anterior comentário dizias:
“Muitas das coisas que estão em estado de letárgia no sector de saúde em Moçambique duvido que sejam do domínio do ministro, tenho cá comigo as minhas dúvidas!!!”
Bem, tudo o que se passa na Saúde, particularmente o que é do domínio público TEM que ser do conhecimento do Ministro. Ele é responsável pelo que de BOM e de MAU se passa no seu sector.
Tal como um criminoso não pode alegar em sua defesa que não conhecia a lei que infringiu, também os Ministros não podem alegar que desconhecem o que está sob sua Tutela.
Se tal acontece, seguramente, aplicou mal os milhões de dólares que a comunidade internacional já nos deu para APOIO INSTITUCIONAL no Ministério da Saúde e outros.
Por se gastar muito e os resultados, apesar de existirem, serem demasiado fracos, é que alguns doadores condicionam novos apoios – como recentemente aconteceu com os EUA – exigindo o envolvimento de 11 técnicos americanos de várias especialidades (Gestores de programas na área da saúde)
Finalmente, sou dos que defendem que não devemos ter uma atitude derrotista e criticar por criticar quem está no poder.
Mas, não podemos ILUDIR-NOS nem CONFORMARMO-NOS com a mediocridade. Na saúde estamos mal e vamos continuar assim por muito tempo, enquanto continuarmos de mão estendida, logo, dependentes dos recursos dos outros.
Um abraço
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