14 junho 2009

O papão "nigeriano" que deixa vermes nas mulheres em Maputo (10)

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Mais um pouquinho da série.
Parto da hipótese de que a estrutura simbólica do rumor do bicho-papão-nigeriano - espécie de sonho mau, de pesadelo - esconde uma estrutura real que importa descobrir e trazer à superfície.
Uma quarta vereda a ter em conta no rumor sincrético aqui em causa é o medo da criminalidade, o receio diário do que nos possa acontecer quando regressamos do trabalho, quando entramos no bairro à noite. O nigeriano é, então, a personificação fantástica e ubíqua do criminoso, do estrangeiro ao nosso bairro e aos nossos costumes, versão do chupa-sangue, ele é, se quiserdes, o eco ao mesmo tempo individualizado e colectivo do rumor surgido em 2006 no T3.
Mas não só.
(continua)

2 comentários:

Anónimo disse...

"alarmante"

HIV e o nosso discurso governamental...

na 31 reuniao -descobrimos "alarmante"

na 32 reuniao - vamos tomar decisoes.

na 33 reuniao - vamos procurar financiamento para implementar "o plano de emegencia"

na 34 reuniao - conseguimos algum financiamento e vamos comecar a implementar o "plano de emergengia"

na 35 reuniao - a implementacao esta correr bem, mas, a corrupcao 'e um problema porque o financiamento foi roubado.

na 36 reuniao - vamos reunir-se para decidir o que se vai fazer descobriremos "ALERTA MAXIMO"

na 37 reuniao - era uma vez...

Rildo Rafael disse...

Professor Serra

Impressionante é a forma como o boato ou o rumor hoje em dia são veiculados pelas tecnologias de comunicação e informação. Para mim a informação boca a boca e o canal muito mais rápido porque alem de ser barato não remete a reflexão como um texto na net por exemplo.

Uma dimensão importante aqui pode-se ver na capacidade que o boato pode servir para o controle social. Hoje em dia as mulheres não apanham boleia de estranhos com medo que seja o tal Papao nigeriano tal como muitas crianças não pediam doces na rua com medo do tal tata mama tata papa, sei que esta e daquelas áreas que lhe interessa muito, as “crenças anómicas de massa”.

Seria importaqnte educar e informar as comunidades em vez de a midia mediatizar o acontecimento como bem acontece do como o caso da Amelia Lichucha na TV Miramar! O Filimone Meigos escreveu em 2007 um artigo sobre a sociologia do rumor ou do boato.

Bom trabalho

Rildo Rafael