13 janeiro 2008

Moçambique: paraíso turístico de futuro (e recorde-se o Quénia)

O nosso país corre cada vez mais para se tornar um paraíso turístico de ponta. Internamente, muito de nós prevemos já esse futuro, felizes, feéricos, cheios de sonhos de postos de trabalho e de divisas para o Estado. Por que estamos felizes? Porque, entre outros, estão Chineses e Americanos felizes e prospectivos. Aprecie-se esta doce linguagem: "Entre os atractivos referidos estão os 2.400 quilómetros de costa e os arquipélagos no Oceano Índico, as soberbas condições para mergulho, a vibrante capital Maputo, com uma excitante cultura de Afro Jazz, e ainda os parques naturais que estão lentamente a recuperar a vida selvagem para os números anteriores à guerra".
O Quénia - lá onde se pretende ver apenas etnias violentas e afro-terror - também é um paraíso turístico. Leia-se o que um educador brasileiro, andando de bicicleta, escreveu sobre o paraíso turístico queniano:
"O turismo no Quênia é um exemplo. Essa indústria é a maior provedora de divisas do país mas essas divisas vêm de fora e vão para fora. Em uma das praias que visitei, os donos de hotéis cuja diária custa 300 dólares são indianos, o dono do bar-prostituição é um alemão e os quenianos são os garçons, prostitutas ou, quando muito empreendedores, camelôs ou donos do restaurante barato. A diferença social entre os turistas, maioria europeu, e o povo é gritante. Para conterem a pressão social gerada, fizeram uma espécie de “cidade medieval”. Do lado de dentro da “muralha” estão os safaris, os hotéis cinco estrelas, os melhores restaurantes e as melhores localizações do país. Do lado de fora está o povo miserável sem trabalho e sem comida." E sobre Nairobi, a entrada obrigatória para o paraíso: "Nairobi é uma cidade perigosa. Possui muito desemprego e miséria. De noite nem os moradores locais andam nas ruas e de dia é preciso ficar muito esperto com tudo. Mal cheguei e já fui assaltado três vezes. Não foram exatamente assaltos mas golpes de malandros que eu sinto até vergonha de ter caído, mas caí. Tive papo furado de refugiado, polícia, governo, cambista, alfândega, assalto Massai, etc."
Pedido: peço a todos os leitores que usarem material deste blogue o favor de citarem a fonte. No caso vertente: este é o primeiro trabalho colocado na net que associa os três portais mencionados. Muito obrigado.

4 comentários:

chapa100 disse...

professor! umas das razoes que fez-me protestar veemente contra a privatizacao da praias em mocambique por alguns operadores turisticos, foi a minha experiencia no quenia, bem descrita neste texto que o professor "postou". estive, em missao de servico no quenia por um anos, especialmente mombaca, e vi tristemente como o turismo produz ghetos e exclusao social, durante 6 meses vive num hotel vedado como um quartel de luxo, uma separacao grosseira entre uma cortina de luxuosos hoteis e as casas de material precario do outro lado estrada, onde os naturais dificilmente tinham acesso ao mar, ou praia. visitei os bairros pobres que estavam separados pelo murro alto e por uma rua, aquilo era uma autentica pobreza (desemprego, falta de agua potavel, condicoes minimas de higiene, etc), parece o nosso mercado vulcano duplicado. ai tive a licao que a paz so nao basta, os africanos precisam de muito mais do que a paz e investimento estrangeiro. tendo em conta que esta "practica" estava enraizada e com anos de vida no quenia.
em nairobi ja naquela altura 1999-2000, existia areas que nao era aconselhavel la visitar, controladas por gangs, e uma vida precaria caracterizava os bairros pobres.

se viajamos pela periferia de dar-es-salamm, lagos, brazaville, lilongue, ficamos com a sensacao de que basta um "esperto" aticar o fogo, vamos assistir o mesmo triste espectaculo como o quenia. em mocambique, a vida dos mocambicanos nos bairros perifericos das grandes cidades merece muita atencao, os linchamentos podem nao ser um pronuncio desta vida precaria dos mocambicanos, mas da indicios de que nao somos assim tao imunes a estes "fenomenos sociais".

Carlos Serra disse...

O que descreve do Quénia, o que o professor brasileiro descreveu, é, justamente, o que receio e que já tem fortes indícios em zonas costeiras do nosso país. Já isse disso em Inhambane e em Cabo Delgado.

Anónimo disse...

Muito interessante a analise feita de facto não somos tão imunes a estes fenomenos sociais, sem ir muito longe assistimos um conflito muito serio aquando da intenção de construção de um murro que iria separar a sommerchield 2 do bairro da Polana Caniço, os residentes do Bairro interpretaram aquele acto como um autêntico e macabro acto discriminatório e reagiram para que tal não acontecesse o que me assusta em parte é a forma como a nossa Cidade tende a crescer e os bairros que vão surgindo em zonas mais afastadas de Cidade com aparência de Cidades como Londres deixando no meio "ghettos" que vão se tornando epicentros de violência e frustrações sociais num pais cujo objectivo principal é o combate a pobreza absoluta, afinal quem é o pobre e quem é o não pobre? PROFESSOR SERÁ POSSIVEL DIANTE DESTE CENÁRIO ESPERAR UMA ESTABILIDADE SOCIAL NO FUTURO? EU TENHO MEDO PEÇO UM PARECER

Maxango

Carlos Serra disse...

Penso que sim e forte. Acresce que África Austral é a região que vai mais crescer em termos urbanos nos próximos 20 anos...