Triste destino (3)

Prossigo a série, com o depoimento da Senhora MP:

“Sou natural de (...) e há quatro anos que vivo no centro. Casei-me por duas vezes e tive cinco filhos. O meu primeiro marido era curandeiro e o segundo, polígamo. Depois da morte do meu segundo marido, os seus familiares acusaram-me de feitiçaria (disseram que eu impedia as minhas noras e sobrinhas de terem filhos).
Acho que a feitiçaria de que me acusam é pelo facto de eu ter sido casada com um curandeiro, que me aplicou um tratamento para eu não me separar dele. Tentaram curar-me através da purificação, mas ainda não conseguiram.
Os meus filhos nunca vieram me visitar aqui no centro. Esta não foi a primeira vez que fui acusada. Já tinha sido acusada de feitiçaria pelos familiares do meu pai (tios paternos), esta foi a segunda vez.

Esta segunda acusação começou quando o meu marido arranjou uma segunda mulher que estava com problemas de engravidar. Procurou-se um curandeiro para fazer uma cerimónia de identificação do problema. Durante a cerimónia, dizem eles, saiu um espírito que lhes disse que eu é que era a causadora deste problema por ser feiticeira. Não confirmo porque não estive presente. Foram os meus próprios irmãos e um sobrinho que me levaram de carro para as redondezas do centro e me abandonaram lá.
Acho que os curandeiros são os maiores promotores da feitiçaria porque fazem esses tratamentos às pessoas. Só na terceira idade é que as pessoas são acusadas de feitiçaria porque geralmente são pessoas sós e sem familiares directos.”

(continua)