07 janeiro 2008

As mechas em Moçambique (1)

As mechas não são um fenómeno natural no país, como o não são em qualquer país africano: elas têm o sinete de um social modificado, de uma reestruturação corporal, tatuam no couro cabeludo das nossas raparigas o selo vivo e em constante transformação da diferença, da individualidade (mas também da pertença de grupo), da feminização. Sendo uma ruptura com a tradição, as mechas são já, também, a tradição de uma nova história que se faz num duplo, denso e permanente compasso: (1) nas longas sessões de montagem e desmontagem, seja em ambiente familiar, seja nos cabeleireiros profissionais (e aqui faz-se a revisão feminina da vida, das coisas que combustibilizam os dias, os lares, os quartos de amor ou desamor, os grupos, os locais de trabalho e de lazer) e (2) nos locais de exibição da individualidade (e aqui compara-se, choca-se ou adere-se, põe-se em campo o jogo das seduções, desembraiam-se as rotas da amizade, da conquista e da afirmação). A história não se faz apenas com papéis velhos: também se pode fazer com cabelos novos e sintéticos. Esta curta série é apenas uma primeira, incipiente reflexão para um trabalho de pesquisa que tenciono levar a cabo este ano (foto reproduzida daqui).
Entretanto, recorde um outro trabalho que já escrevi neste diário sobre a sociologia do corpo.

7 comentários:

Xiluva/SARA disse...

Espero ansiosa a continuação.

Anónimo disse...

Aguardo ansiosamente os resultados de todas as suas promessas de pesquisa. Já são várias, Professor!

Carlos Serra disse...

Sara: são apenas algumas notas canhestras, para começar. Lá para o fim do ano deverei apresentar alguns resultados. Quanto ao anónimo: a vida é assim, "promesseira".

Anónimo disse...

> As nossas mulheres ficam lindas com suas mechas, pinturas e outros ornamentos .... são um regalo para o nosso sentido da Vista.
> Porém, quando fechamos os olhos e damos rédea livre ao Tacto ... prefiro de longe a maciez de seus cabelos bem tratados...
>FM

Carlos Serra disse...

FM, perversa restrição! Existe sempre macieza em qualquer mulher. Não é ela poesia de Deus, como escreveu o poeta?

Anónimo disse...

> Como alguém disse: " a mulher é o Domingo do homem"... com ou sem mechas.
>FM

Carlos Serra disse...

E a sexta-feira o martírio das mulheres...