27 fevereiro 2008

Maputo: mais 2 linchados (total: 15 este ano em Moçambique)

Surpreendidos a assaltar pessoas na via pública, mais dois indivíduos foram linchados por moradores no Bairro da Polana Caniço B, na cidade de Maputo. Uma das vítimas morreu a caminho do Hospital Central.
Eleva-se para 15 o número de linchados este ano em Moçambique, com oito na Beira (nesta cidade, quatro indivíduos escaparam ao linchamento no passado fim-de-semana), três em Chimoio e quatro em Maputo.
Recordo que este diário está pejado de múltiplas entradas sobre linchamentos e que, sob minha coordenação, está em curso a preparação de um relatório sobre o tema, por parte da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos.
Dentro de alguns dias conto dar aqui conta do início de uma segunda fase de estudo dos linchamentos (na imagem, do "Noticias" de hoje, um linchamento a ser executado; repare-se na presença de jovens).
1.ª adenda às 7:22: vale a pena ler um trabalho do "Notícias" sobre a segurança pública em Chimoio (obrigado ao Jorge Matine por me ter alertado para este primeiro plano do jornal).
2. ª adenda às 7:26: "A insegurança é de facto deveras na cidade de Chimoio e um fenómeno novo que espanta a todos é o facto de os grupos de delinquentes integrarem mulheres e actuarem em grupos numerosos como se de uma força militar se tratasse, chegando a contar com 30 elementos em cada assalto." Este é um dado preocupante e hoje mesmo iremos tê-lo em conta na habitual reunião da Unidade de Diagnóstico Social. Teremos de nos interrogar sobre se não surgiram já em alguns pontos do país uma espécie de "unidades operativas informais".
3.ª adenda às 8:11: Sobre as manifestações de Chimoio: "Os manifestantes não queriam ver nenhum carro em movimento. As viaturas policiais, estas não deveriam se aproximar dos locais de maior concentração dos manifestantes. Eram recebidas com rajadas de pedras. As próprias balas, as granadas de gás lacrimogéneo e os jactos de água lançados pelos bombeiros, não foram suficientes para conter o ânimo dos insurrectos."
4.ª adenda. "Para além da finada Maria Sete, no Bairro 25 de Junho, considerado o covil dos referidos marginais, os bandos dos criminosos integram mulheres jovens, que são usadas como isca para acordar os donos de casa, para efeitos de assalto."
5.ª adenda às 10:18: leia este trabalho sobre os linchamentos no Bairro Luís Cabral aqui.

13 comentários:

micas disse...

Pergunta idiota, mas para quando um basta nesta situação?

Carlos Serra disse...

Não sei...

chapa100 disse...

professor veja no primeiro plano do jornal noticias, a reportagem dos acontecimentos em chimoio, uma peca jornalistica que revela muitas coisas sobre o que ja falamos em varios foruns: o estado anda ausente em questoes de seguranca publica, garantia de acesso a justica, e os niveis de pobreza elevados (resultantes de varios factores) que condicionam as relacoes sociais em zona urbanas e peri-urbanas.

umBhalane disse...

Os linchamentos, que nunca comentei apenas por parcimónia, são a prova evidente da pré-falência do Estado.

Estão a atingir dimensões muito preocupantes.

A resposta que há-de vir, fatalmente, poderá ser muito má.

Já vi este filme em vários lados – Portugal 28 Maio 1926; Chile 11 Setembro 1973; etc

Sob os auspícios da reposição da ordem e segurança, surge o salvador.

É tudo muito mau.

Anónimo disse...

Crie-se um ministério dos linchamentos, que funciona funciona, é o que o povo diz e faz, é ilegal imoral, sim enriquecer a custa dos outros também, quero ver quando os linchamentos chegarem aos mercedes.

Carlos Serra disse...

Obrigado, Jorge, pelo alerta (repare que lhe agradeci no texto central). Sim, Umbhalane, esse é outro risco, o excesso de Estado.

Anónimo disse...

Na Bolívia 3 policias linchados por populares, acusados de tentar extorquir populares, noticia avancada pela rtp.

Carlos Serra disse...

Sim, esse é um país "linchatório", como a Guatemala e o Brasil. Obrigado!

Anónimo disse...

"Que nos lixem nós os lincharemos" Parece-me ser esse o lema actual da população, parece-me também que a saturação do tecido social esta a ganhar contornos muito delicados,parece-me que há uma avaria grossa na maquina governamental enfim parece-me serem estas as hipoteses provaveis do "virus linchatório"

Maxango

Carlos Serra disse...

Vamos acompanhar os acontecimentos. Hoje ainda anunciarei a abertura da segunda vertente no estudo dos linchamentos a cargo da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos.

Anónimo disse...

Boa tarde Sr.Professor.
Tenho informacoes ainda nao confirmadas que possivelmente havera uma greve como a que aconteceu a semanas aqui em maputo..Tive informacoes de certos residentes da machava que ja foram alertados para nao abrirem os seus estabelecimentos comerciais ou mesmo andarem de carro.
Outros dizem ainda terem recebidos mensagens a alertar sobre a greve que esta eventualmente para realizar-se amanha.
Contudo nao tenho a certeza,so passo a palavra.Pode tambem passar de um boato so pra apavorar as pessoas.
Nao sei.

Luis

Anónimo disse...

Esperemos que seja boato. Esta insegurança não é benéfica para o país. Sou solidário a manifestações pacíficas devidamente preparadas e com objectivos claros. Penso que não interessa a ninguem, tanto governo como governados, passarmos uma imagem de país de manifestações por dá cá aquela palha. Precisamos de serenar, exigirmos o que é de direito dentro de certos principios . Aceito e compreendo que a população atingiu o Breaking point em relação ao elevado custo de vida e dos efeitos da criminalidade, mas temos que saber expressar esse descontentamento. Nenhum investidor virá para um país instável, precisamos de empregos, novas tecnologias, desenvolvimento, etc. O mundo é uma montra, cada país tentando se " vender" a busca de investimentos.Manifestações ou marchas pacíficas SIM.Desordem NÃO.

Carlos Serra disse...

A nossa primeira postura deve ser a da calma. Em vezes anteriores chamei aqui a atenção para os boatos. Perdoai-me só agora aqui surgir, mas tenho estado ausente em reuniões. Estarei atento.