Os linchamentos existem em Moçambique e têm tido uma visibilidade crescente, há cerca de três meses, nos bairros periféricos da Beira, onde já foram linchados este ano oito homens jovens acusados de roubo. Regra geral ficamos assustados, condenamos, vituperamos, queixamo-nos. O que é legítimo. Mas difícil é estudar linchamentos. E, regra geral, os maiores lamurientos são os que não estudam. Em vários fenómenos deste país, temos muitos opinadores vaidosos, mas poucos estudiosos humildes. Entretanto, do maior especialista brasileiro de linchamentos, Professor José de Souza Martins, sociólogo (na imagem), recebi há momentos a referência (que muito agradeço) de um entrevista que ele deu sobre linchamentos no Brasil, divulgada há dois dias nesse país. Permitam-me colocar logo a seguir o seguinte extracto da introdução à entrevista:
"José de Souza Martins, sociólogo e colaborador do Aliás, estuda linchamentos há quase 30 anos e documentou 2 mil casos. Ele faz uma estimativa surpreendente: no Brasil, possivelmente o país que mais lincha no mundo, há 3 ou 4 casos por semana. Geralmente, nas periferias das cidades, com São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro à frente. A análise minuciosa de como se dão essas atrocidades é dolorosa, mas reveladora. Mais de 500 mil brasileiros e brasileiras, incluindo crianças, participaram de linchamentos nos últimos 50 anos - e quase ninguém foi punido. A seqüência de agressões vai do apedrejamento à mutilação. Não é uma questão de pura maldade: é a população agindo, equivocadamente, onde a Justiça não atua. José de Souza Martins, de 69 anos, professor de sociologia da Faculdade de Filosofia da USP, está lançando dois livros - uma reedição ampliada de Sociabilidade do Homem Simples (Ed. Contexto) e o inédito A Aparição do Demônio na Fábrica (Ed. 34), ambos sobre a cultura operária. Na entrevista a seguir, ele discorre sobre o fenômeno do linchamento, tema que pretende, em breve, transformar em livro."
Adenda: recordo que recentemente veio a Moçambique a meu convite a pesquisadora brasileira Jacqueline Sinhoretto, a fim de participar com a Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos no segundo semniário sobre linchamentos no nosso país. Até Setembro do corrente ano estará pronto um relatório sobre o tema.
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