Face aos sismos sociais desde 5 de Fevereiro, multiplicam-se as intervenções daqueles que recusam o discurso apologético, conspiratório, racional, harmónico, do diálogo inteligente, moralista, nefelibata, açucarado, como este diário tem mostrado amiúde. É agora a vez de Machado da Graça, que, após referir o que chama "erupções de violência", os linchamentos e o caso das 40 crianças interceptadas num camião há dias na zona centro do país, escreveu o seguinte no seu "Marco do correio": "Estes sintomas que se acumulam, estas erupções de violência que vão surgindo em diversas artes do país e este descontrolo perigoso para a paz social mostram-nos uma sociedade doente em que os seus responsáveis, com a arrogância de quem se considera um sabe-tudo, vão cometendo erros uns atrás dos outros sem avaliarem, previamente, as consequências dos seus actos. Habituados a governarem, por demasiados anos, sem uma oposição minimamente eficaz, os nossos governantes olham para si próprios como génios da política, como gestores incomparáveis. E o resultado é este a que estamos a assistir em que têm que ser os governados a virem para a rua gritar a sua insatisfação, o seu desespero. Espontaneamente, sem nenhuma organização política a enquadrar as manifestações. E, por isso mesmo, de forma mais violenta e descontrolada. A repressão policial violenta sobre manifestações pacíficas, como aconteceu recentemente na Manhiça, é como tapar as válvulas de segurança sociais. Provoca o aumento da pressão e leva a explosões de um tipo muito mais difícil de controlar. São as medidas sociais para alívio das condições de vida das pessoas que podem resolver o problema das manifestações. Não são as cargas policiais, os tiros e as granadas de gás lacrimogénio. A utilização dessas medidas repressivas é, normalmente, uma demonstração clara da incompetência dos responsáveis pelo normal funcionamento das instituições da sociedade. Onde os poderes públicos se preocupam com o bem-estar dos seus cidadãos, onde não se permite o gigantesco crescimento do abismo entre os muito ricos e os muitíssimo pobres, as explosões sociais não acontecem e a repressão policial não faz sentido."
Obrigado ao Egídio Vaz pelo envio do jornal via email.
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