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As eleições multipartidárias de 2004 foram marcadas por uma elevada abstenção (apenas votaram
43% dos potenciais eleitores). Mas foram, também, marcadas por profundas irregularidades. Agora, com a novidade de um recenseamento digital, num processo claramente comandado pela improvização, sem preparo atempado, muitos computadores estão avariados e outros nem sequer chegaram ainda aos postos. Talvez estejam recenseados apenas 6% dos eleitores
passadas mais de duas semanas de recenseamento. Gente houve que quis votar e não pôde ou que desistiu ao fim de muitas horas de espera. Esta gente servirá como caixa de ressonância desmotivadora na
rádio rua do nosso país. E esta caixa de ressonância (que guarda, ainda, a memória dos problemas, dos desânimos das eleições anteriores), essa bola não de neve, mas savaneira de chuva e calor,
agirá não contra a Comissão Nacional de Eleições ou contra o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral em si, mas contra o Estado em geral, contra algo que será considerado desorganizado e
chato. Em 2008 teremos as eleições. Depois seguir-se-ão mais eleições, as autárquicas, as legislativas e as presidenciais. Um enfarte eleitoral num país marcado por um outro tipo de enfarte: o dos
slogans. Em livro de 1998 - tantos anos passados, vejam lá - analisei muitas das causas da forte abstenção então verificada. Falei, nessa altura, de
eleitorado incapturável. Creio que as eleições que vão suceder-se em 2008 e 2009 serão ritmadas por um eleitorado fortemente
incapturável. Por um potencial cansaço de promessas e de
slogans. Mas sustentar isto tem apenas a novidade de o não ser. Critiquem-me se estiver errado.
2 comentários:
Estou também a prever que teremos um "eleitorado incapturável III"...
Sim. Teremos, depois, de analisar as diferentes vertentes da eventual grande abstenção.
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