Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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37 comentários:
E parece-me que ele é mais visto mulato agora, após a vitória...por que será?....
Felizmente para o passado e o futuro da raça humana, somos todos mulatos (e de várias coisas que achavam ser diferentes entre si), em vários momentos das nossas linhas de antepassados!
Como para qualquer diferença ou semelhança que as sociedades escolheram enfatizar (em detrimento de outras), os rótulos mudam na geografia e no tempo. Nos EUA, o critério é muito semelhante ao da África do Sul do apartheid: «one drop of blood» faz de alguém «black».
Também como para qualquer diferença a que uma sociedade escolheu dar importância, as diferenças "que se vêem" só se tornam visíveis quando nos ensinam a olhar para elas.
Há, sobre isso, duas histórias que não me canso de contar:
1. A minha filha tinha vivido uns meses em Moçambique quando tinha 2 anos, e outros tantos quando tinha 3. Aos 5 anos, voltou da creche entusiasmada porque, agora, tinha um colega «castanho». Disse-lhe que todos os seus amigos de Maputo eram "castanhos" e não me acreditou. Tive que lhe mostrar as fotografias (que, aliás, via com frequência).
2. Numa zona de cultivo de arroz ao sul de Setúbal, em Portugal, há 3 aldeias com uma população visivelmente miscelanizada após a abolição da escravatura. Os vizinhos em quem os traços africanos não são evidentes conseguem reconhecer em qualquer claríssimo caboverdiano que venha de fora um "mulato"; mas não conseguem ver isso nos seus vizinhos muito mais escuros.
Apesar disto tudo (ou, se calhar, também por isto tuso), pensava ontem com mágoa que um político tão notável como Obama conseguiu ser eleito presidente nos racistas Estados Unidos, mas não conseguiria sequer ser candidato a presidente pela Frelimo ou a Renamo. Por ser "mulato".
É muito importante, esta sua série de posts.
O racismo não é apenas imbecil e perigoso quando se aplica a determinados tons de pele. É sempre imbecil e perigoso.
Nos Estados Unidos toda a gente que tiver ascendencia afro é considerada negra. Deixando de lado esta estupidez de mais ou menos pigmentacao para mim B. Obama é um homem, cuja raca é igual 'a minha e aos demais humanos, ele é, nós somos homo sapiens sapiens, porra!!! O valor de um ser humano esta no seu caracter e nao na cor de sua pele, religiao ou origem cultural.
E porque será que se continua a dar tanto ênfase à cor da pele? O valor dos HOMENS não passa por ai meus senhores!
Parabéns a Obama( fosse ele preto, branco, mulato, vermelho ou amarelo)!
Paulo Granjo, amei da maneira que descreve a questão de "raca". É muito interessante, mas é preciso observar com atencão para perceber tudo isso.
O comentário da Pérola lembrou-me uma outra vertente da questão: quando Obama se lançou nas primárias, os movimentos afro-americanos não o consideravam "suficientemente negro".
E não por causa do tom de pele ou da mãe: era por ele não ser descendente de escravos afro-americanos, mas filho de um africano livre, e por ter tido aquilo que consideravam "uma vida de branco"...
Lembra-me uma história que me contaram acerca das festas da «high society» maputense: quando algum jovem bebe mesmo de mais, é frequente que um outro, mesmo que muito mais escuro do que ele, comente «É preto, mesmo!»
Concordo plenamente com os comentarios anteriores, esta euforia em volta da questão da cor, revela apenas que o factor racico ainda divide muito as pessoas.
Ah! Que bom e positivo seria acordarmos amanha e sermos todos da mesma cor!
Ele não é negro, ele não é branco, ele é uma mistura como todos já o somos á decadas... todos que disserem o contrario remam de algum modo contra uma corrente que tem que uma vez por todas deixar de ser alimentada, vivemos tempos tao conturbados que a verdadeira mudança está em dar-mos as mãos, não falar das diferenças, sejam elas de cor, de religiao ou sexo!
Quem se alimenta do passado, não consegue melhorar o futuro.
Bem haja,
SF
Ca por mim a questao de preto e branco vai para alem de uma questao biologica ou racial no verdadeiro sentido do termo e tambem uma construcao social. Ora em alguns momentos ja ouvi pessoas a chamarem pretos ou negros de brancos devido a um certo comportamento ou posicao que ocupam, como o empregado de um vizinho que dizia vezes sem conta: a mulungu wanga a ni zumi bazara (referindo-se ao seu patrao negro) ou entao coisas do genero do exemplo apresentado pelo Granjo: esse gajo bebe como um preto, referindo-se a uma pessoa de raca branca. Aqui preto e branco tomam um certo significado. Por outro lado, a figura do mulato e rodeiada de varias representacoes e interpretacoes? Que mensagens quererao deixar essas pessoas ao enfantizar que Obama e mulato?
Dinis Chembene
Obama and Biden are Democrats.
Vamos la, chegou o Obama dos americanos, mulato, preto, chamemos o que quisermos, mas tem uma coisa fundamental que outros recentes nao tinham a seu favor, jovem que nao nasceu nas elites da politica mas fez-se elite politica.Dar dignidade ao ser humano nao e crime, mesmo que chamem isso socialismo, mas nao adianta niver em pais capitalista e morrer sem acesso a saude e habitacao, os americanos perceberam isso e mudaram. Os americanos acordaram para o real, a America acredita em outros ideiais! E Mocambique quo vadis.
Ganda coisa, epa, vimos alguns por aqui a esgrimir que Oboma nao ganharia por causa da cor, eram apenas multidoes, deveria haver cautela, cautela para um homem que ganhou 349.. contra 147... O problema de cor era mesmo de todos os Americanos ou dos analistas? Por ca ouvi ainda a pouco que Deviz arrasta multidoes mass nao ganhara ass eleicoes, aguarademos!
Prof. Serra este post é retrogrado!!
É na minha opnião, mais uma guerra de cegos.
Acho que não deviamos entrar nesse debate.
mazé deviamos debater outras questões mais importantes.
Sinceramente estamos a ser mesquinhos demais...
Acho que aqueles que se consideram mulatos (e ORGULHOSOS) querem fazer com a eleição dele uma bandeira do tipo "os mulatos são inteligentes até já temos um presidente mulato"....etc,etc
acho isto muito grave (sei que alguns pensam assim mas na minha opnião eles deviam mazé ir de tratar num consultório qualquer ...
PORTANTO, QUEM PENSA QUE OBAMA É MULATO E ACHA QUE SENDO "MULATO" ...SIGNIFICA UMA VITÓRIA PARA OS "MULATOS" .
POR FAVOR, PROCUREM UM PSIQUIATRA.
.
Carlos Magno
_________________________________
tugga_carlosmagno@live.com
"Depois, como já escrevi nesta coluna, um afro-americano sentado na Sala Oval da Casa Branca representa, só por isso, "uma revolução cultural enorme". Como a própria campanha eleitoral dos últimos tempos representou, pelo seu sentido didáctico, participativo e pelo seu dinamismo, um contributo muito relevante para a mudança das mentalidades dos americanos, de todas as classes, contaminando mesmo certos sectores mais fanatizados, empedernidos e ignorantes do mundo."
MARIO SOARES
Vamos pelo menor dos prejuízos: Sabem o que é que um mulato em Moçambique ouve TODOS OS DIAS? Sabem o que é ser apenas (mal)tolerado mas não aceite?
Carlos Magno:
Mulato não tem bandeira... porque a roubam constantemente...
Prof. Serra !!! há muita coisa que o sr. pode postar aqui como noticia ou opninar...
coisas que estão a sair noutros foruns:POR EXEMPLO
"Amnistia dá 100 dias a Obama para "reparar estragos" de Bush"
"A nova administração deve recolocar os Estados Unidos no seu lugar de campeão dos direitos humanos no interior e no estrangeiro", defendeu, por seu turno, a secretária-geral da Amnistia, Irene Khan"
PROF SERRA SÃO ESTES E OUTROS ASSUNTOS QUE PODEMOS DEBATER E NÃO QUESTÕES ORTODOXAS E MESQUINHAS....
Carlos Magno
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tugga_carlosmagno@live.com
"Depois, como já escrevi nesta coluna, um afro-americano sentado na Sala Oval da Casa Branca representa, só por isso, "uma revolução cultural enorme". Como a própria campanha eleitoral dos últimos tempos representou, pelo seu sentido didáctico, participativo e pelo seu dinamismo, um contributo muito relevante para a mudança das mentalidades dos americanos, de todas as classes, contaminando mesmo certos sectores mais fanatizados, empedernidos e ignorantes do mundo."
MARIO SOARES
Professor estou me cansando desta conversa da idade da pedra, será que necessitamos de tanta inteligência para percebermos que os Americanos votaram na pessoa que acharam ter as melhores propostas para os problemas que enfrentam.
Convido-vos a debatermos coisas importantes sobre a eleição do OBAMA. Tipo será que ele trará uma solução sustentavel para a crise Financeira? Tipo como irá lhe dar com as guerras no Iraque? Como resolver o problema do desemprego ?
Maxango
Já chega. Obama é filho de uma branca, logo é branco. E não se fala mais nisso.
Caro Carlos Magno
Seria capaz de dar uma explicação plausível sobre os porquês de neste nosso Tolerante Moçambique não termos polícias mulatos, presidente de partido grande mulato, militar mulato, etc? será pq os mesmos não se interessam em ser ou porque são simplesmente excluídos por causa da côr da pele que não é tão escura nem tâo clara?
Caro Magno há muito preconceito sim! só que eu não culpo os racistas pq esses sabem o q descriminam e talvez tenham uma causa, mas voçês que se acham diferentes mas estão tão cheios de preconceitos que não conseguem vêr o mal que fazem com comentários tâo fúteis e ignorantes
O SR DE CERTEZA QUE JÁ NÃO É CASO DE PSIQUIATRA, O SR PRECISA É DE UMA LAVAGEM CEREBRAL MEU CARO , e aí talvez tenhamos uma miscelania de cores lutando por um país melhor sem exclusão,
um abraço
Zeca M.
Com tantos comentários , acabei por esquecer qual era a pergunta do prof: Carlos Serra...
Professor,
Acho honestamente o que Obama fez foi tão grande e intiligente (discutir ideias) e não cor da pele. Acho que esta discussão é infertil a nascença porque os racistas virão com todos argumentos mais dúbios possíveis a defender diferenças raciais.
Não há brancos...não pretos...não mulatos ...há pessoas de caracter e pessoas sem caracter!
O dicionário diz que: "Mulato é o termo que designa uma pessoa descendente de negros e brancos (cf. mestiço). Segundo alguns a palavra mulato tem origem em "muwallad ..."
a razão de pessoas como o Sr Carlos Magno preferirem ver os mulatos como indivíduos sem bandeira, ou noutras ocasiões igualarem-nos aos negros reside apenas num enorme COMPLEXO DE INFERIORIDADE.
Muitos como o Sr. Magno ressentem-se das regalias que os mulatos tenham gozado no tempo colonial e transportam tais ressentimentos aos tempos actuais onde ainda vêm os mulatos como alguém que tem acesso a melhores condições de vida daí tais atitudes exclusórias
Mesmo que um mulato não revele algum sentimento de superioridade o seu interlocutor complexado preto lá vive este ressentimento e sempre procura "baixá-lo" ao seu nível. Se pessoas como Magno tivessem mais amor-próprio este problema não existiria e eles não sentiriam necessidade de se confundirem com quem quer que fosse. Notar que, em contraste, o branco raramente procura confundir o mulato com ele próprio.
Recomendo leitura do romance de Aluísio Azevedo - O Mulato –
Nos EUA não existe negro e mulato lá quando não se é branco ou se é latino ou afro-americano
São muito ricas as vossas contribuições. Prossigamos o debate. Enquanto isso, postei o segundo número da série.
meus senhores!!! acho que não leram o meu 1º post...
volto a repetir que este debate é de cegos, surdos e mudos.
eu escrevi aqui há dias atrás:(mas OBAMA não é um negro na casa branca (se ganhar) é um cidadão do mundo na Sala Oval da Casa Branca).
Não percebo como Vocês querem reduzir isto a cor da pele.
NELSON EVORA/FRANCIS OBIKEL GANHARAM MEDALHAS DE OURO PARA PORTUGAL e li comentarios de alguns Tuggas a dizer que eles ganharam pq eram atletas dos seus clubes (BENFICA E SPORTING) ....
eles passaram a mensagem que os atletas k foram representar o país ganharam por eram benfiquistas e o BENFICA é o melhor clube do mundo. POR ISSO QUEREM REDUZIR ISTO AO SIMPLES MULATO.
Portanto, vejo que vocês querem reduzir isto a questão da raça.!!?
porrrrrrrá!!!!!COLLIN POWER é um afro-americano, MAS se ele um dia ganhasse a eleiçao para presidente dos EUA e logo aseguir faz o mesmo que BUSH!!!??? será a questão racial (cor da pele) que determina o caracter,ideologias dos seres humanos...
Eu como cidadão espero que os americanos voltem a ser amigos doutros povos e ajudar a contruir um mundo melhor, independentimente de ser OBAMA ou Amadin EJAD...
EU acho que se ADMINISTRAÇÃO OBAMA não conseguir cumprir com as ideias chaves da campanha eu e o resto do mundo vamos nos virar contra eles.
ADMINISTRAÇÃO OBAMA representa a correção das POLITICAS TERRORISTAS DE BUSH.
A vitória de OBAMA é uma rotura com o passado.
Todos olhos estão postos na ADMINISTRAÇÃO DE OBAMA.
O Jornalista da CBS perguntou a ele se for eleito "se gostaria de ser recordado como 1º PRESISDENTE afro-americano"....e ele respondeu que não!!! gostaria de ser recordado como um homem (ser humano) honesto, quer contribuir para um mundo melhor.
PORTANTO EU VEJO AS PESSOAS COMO SERES HUMANOS E NÃO COMO PRETO,MULATO,BRANCO,ALBINO,ETC
por favor, procurem um PSIQUIATRA!!!!
obs: PROCUREM LER O ARTIGO DO DR. MÁRIO SOARES DE ONTEM! vejam como ele vê a ELEIÇÃO dE OBAMA
Carlos Magno
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tugga_carlosmagno@live.com
"Depois, como já escrevi nesta coluna, um afro-americano sentado na Sala Oval da Casa Branca representa, só por isso, "uma revolução cultural enorme". Como a própria campanha eleitoral dos últimos tempos representou, pelo seu sentido didáctico, participativo e pelo seu dinamismo, um contributo muito relevante para a mudança das mentalidades dos americanos, de todas as classes, contaminando mesmo certos sectores mais fanatizados, empedernidos e ignorantes do mundo."
MARIO SOARES
Deixe o diálogo prosseguir. É peneirando ideias, que chegamos à alma das coisas.
Professor, mesmo na euforia da victoria de Obama, Nao consigo nao lembrar dos detractores de Obama, dos que achavam que uma possivel victoria de Obama seria a piada do ano. Sir Baba foi um deles. Nao me lembro dos seus argumentos se tinha algum.
Do que eu me lembro bem foi da ironia, doce uma vezes, cáustica outras, a propósito do que eu ia escrevendo....Tb sei que, a partir de certa altura, gente houve, jornalistas houve, que começaram a obamaizar depois de lerem este diário.
Quanto ao Obama, creio que venceu APESAR da cor da pele e do racismo, pela qualidade da sua mensagem política (que, ao contrário da dos adversários, fazia sentido para as pessoas e correspondeu a necessidades que sentiam) e pelo tipo de liderança mobilizadora que transmite.
Quanto à origem da palavra "mulato", escusam de procurar mais: vem de "mula". Porque os racistas europeus do sév. XVII (antes disso, falava-se de "pardos", isto é, cinzentos) pensavam que, tal como os filhos do cruzamento de cavalos com burros, os "mulatos" não se podiam reproduzir.
Felizmente para a raça humana, não é assim - ou já nos teríamos extinguido, por taras genéticas e/ou por incapacidade de adaptação a mudanças de ambiente físico.
Mas a conversa está a valer discussão.
Vou ficar a observar, mas não resisto a lançar uma provocação: a julgar pelas suas características físicas, Madiba é mulato. Debantu com bosquímano.
A minha mãe tem o cabelo castanho e o meu pai tem o cabelo preto. Logo também devo ser mulato. Se calhar é por causa disso que "não tenho bandeira".
Em "Cada Homem é uma Raça" o Mia é bastante claro. Sei uma passagem mais ou menos de cor:
"Questionado sobre a sua raça o vendedor de pássaros respondeu: cada homem é uma raça senhor polícia. Cada pessoa é uma humanidade individual"
Meu pai, um amigo sem igual, chama aos afro-américanos de "PRETOS DE OUTRA COR". A expressão veio-lhe quando se pensava que um dia Colin Powell podia ser candidato a Casa branca e do resto numa explanação mais concisa teria me assegurado que daqui a 100 anos anos o mundo não terá mais pretos e brancos, e que o único fosso que persistirá na divisão da humanidade seria RICOS e POBRES.
Excelente quadro o que produziu. Excelente, mesmo. Obrigado.
Boa Paulo, uns condimentos exóticos ficam sempre bem, enquanto estimulantes.
Aquela do Madiba é boa!
Já quanto a "Porque os racistas europeus do sév. XVII (antes disso, falava-se de "pardos", isto é, cinzentos) pensavam que, tal como os filhos do cruzamento de cavalos com burros, os "mulatos" não se podiam reproduzir.
Seriam racistas, ignorantes, ambas as coisas, ou uma coisa de cada vez?
Pergunto, e perguntar não é ofender.
E é bom discodarmos algumas vezes, pelo menos parcialmente!
Abraço
O reparo é pertinente, Umbhalane. E merece reflexão e estudo antes de escrevermos com ligeireza epítetos como o que escrevi.
Mas, pensando um pouco, a minha intuição é que se trata realmente de racismo e não apenas de ignorância.
Por um lado, porque essa crença implica que se considerassem os "negros" uma espécie biológica diferente.
É verdade que, na altura, a noção de espécie biológica (formalizada e clara, como a temos hoje) não existia, mas existiam os seus pressupostos.
É verdade, também, que essa animalização do "outro" não tem necessariamente a ver com raça; há muitos grupos humanos (chame-lhe "sociedades", "culturas", o que quiser...) que se chamam a si próprios "Os Homens", animalizando os povos vizinhos que, fisicamente, podem ser indistinguíveis deles.
Mas não era o caso dos reinos europeus da altura; a base da crença era uma diferença física particular: a cor da pele, que vai servir de base à ideia de "raça".
Por outro lado, porque me parece que a tal crença já está ligada, na altura, a uma justificação para uma relação de poder muito assimétrica: a escravatura.
Historicamente e até pouco tempo antes disso, a escravatura não tinha cor, em nenhum continente. Escravizavam-se inimigos (vizinhos) vencidos e membros do próprio grupo.
A escravidão com base "rácica" (tanto de mais claros como de mais escuros) tinha chegado à península ibérica com as invasões moçárabes, mas também isso já tinha desaparecido há séculos.
No virar do séc.XV para o XVI, acho que no "Pranto da Maria Parda" do Gil Vicente (sobretudo se lermos também os Autos das Barcas), a Maria é bêbada, aldrabona e malandra porque são as suas defesas por ser escrava, não porque essas características sejam atribuídas aos "mulatos" (e "negros"). Mas parece-me evidente que o tio Gil procurou claramente "vender o produto" manipulando também ambiguamente (como era seu hábito) os estereotipos (já racistas) dos seus clientes aristocráticos, dando ao mesmo tempo indicações, para quem as compreendesse, que a questão não era essa, mas social.
No entanto, o posterior aumento da escravatura foi acompanhado de uma tentativa de legitimação que teve por base uma animalização "rácica", acompanhada até de discussões teológicas (os africanos e ameríndios tinham "alma", ou apenas uma aparência humana?).
Embora não saiba o suficiente acerca deste assunto, penso, por isso, que a crença de que os "mulatos" não se podiam reproduzir se encaixa de forma muito directa nesta ideologia de legitimação do novo esclavagismo.
Uma ideologia que, afinal, parece ter dado origem ao racismo moderno - quando, antes, parece ter havido apenas xenofobia, baseada noutros critérios que não a aparêncoa física. (Por exemplo, "bárbaro" vem do latino "barbaroi", "aqueles que balbuciam", ou seja, que não falam uma língua elaborada e compreensível como, para os romanos, era o latim.)
Abraço
Paulo obrigado pelo comentário.
"A escravidão com base "rácica" (tanto de mais claros como de mais escuros) tinha chegado à península ibérica com as invasões moçárabes,..."
Estes rapazinhos, os moçárabes eram/são Africanos de África, e integravam muitos Negros puríssimos do seu império, não? E porventura Bantus?
“Afonso VI, ferido por um guarda preto, por pouco escapou à morte.”
(Joseph Ki-Zerbo, História da África Negra – I, p.147/148)
E estiveram 700 anos efectivos a praticar o colonialismo, e a escravidão na terra dos meus antepassados (a Península Ibérica).
O imperialismo e a exploração.
E os escravos, foram vendidos, muitos deles, para os impérios da África Central, Mali, por exemplo.
Os homens e crianças eram castrados (exércitos, tropas de choque, guardas, outros) .
As mulheres eram prostituídas/abusadas nos haréns/outros.
E os Descobrimentos vieram muito depois…
E outras coisa mais, para ocasiões mais oportunas.
Pois é…!
É verdade o que diz, e poderíamos acrescentar a isso que eram também a sociedade mais desenvolvida em termos técnicos e científicos da altura (e que os "descobrimentos" foram tecnicamente possíveis, séculos depois, devido à permanência, na península ibérica, de invenções suas).
Como poderíamos acrescentar que a escravatura comercial foi também uma invenção sua, mantida na costa oriental de África desde muitos séculos antes da chegada dos europeus, que se limitaram a "roubar o negócio".
E que, nesse negócio, existiam sociedades bantu especializadas em capturar outros bantu para vender na costa.
Nada disso reduz o carácter horroroso da escravatura - apenas os estereotipos raciais acerca dela.
Mas, independentemente de ter havido gente de todas as cores a lucrar com a nova escravatura (e de ela não parecer ter exigido uma justificação ideológica específica para os bantu esclavagistas - tal como a velha escravatura não a tinha exigido, muitos séculos antes, para os europeus que escravizavam outros europeus), o que sugiro é que o retomar do esclavagismo por parte da Europa, depois do seu abandono há muitíssimo tempo, parece ter exigido uma legitimação ideológica e que, sendo ele agora focado apenas em não europeus, essa legitimação se centrou na cor.
Se essa intuição for verdadeira, então existirá uma ligação entre o racismo tal como o conhecemos (em substituição da anterior xenofobia independente da cor) e a necessidade de legitimar a escravatura. Primeiro, através da animalização dos mais escuros; depois, com ´base na construçãi de hierarquias vivilizacionais.
Mas, como ressaltei, é uma intuição.
Leia-se "hierarquias civilizacionais".
Obrigado Paulo.
Assim está melhor, porque gosto de ver as coisas nos seus verdadeiros eixos.
Abraço, e obrigado.
umBhalane
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