24 novembro 2008

Dhlakama é um líder moribundo? (4)

Prossigamos um pouco mais esta série.
A partir de 1992, com o fim da guerra civil, começou uma nova etapa da história política do país.
O problema para a Renamo consistiu na sua transformação de exército guerrilheiro em partido, na passagem da luta pelas armas à luta pelos votos e pela hegemonia civil, na metamorfose da mata emboscadeira em civilidade urbana.
Essa foi uma tarefa na qual participou a comunidade internacional.
Mas as transições são sempre compósitas, complexas, mestiças. O novo faz quase sempre amor com o velho, os espíritos do passado coabitam com os espíritos do futuro. Por baixo de um fato cerimonial pode muitas vezes esconder-se o camuflado da guerra.
Muitas das características da guerrilha mantiveram-se no partido que o ex-líder guerrilheiro, Afonso Dhlakama, continuou a dirigir, com os seus generais. Características que a Frelimo perdera, pouco a pouco, desde 1975.
Esse problema estará inscrito, reactivando-se em permanência, dentro de um
duplo constrangimento, do qual falarei proximamente.
Adenda: com o título Venceu a demagogia e o populismo...O derrotado foi o povo, o eng.º Noé Nhantumbo escreveu um crónica da qual extractei a seguinte passagem:"As eleições autárquicas de 19 de Novembro de 2008 também devem ser vistas como a continuação e a testagem dos esforços estratégicos tendentes a obliterar a oposição política do país. Esta mesma oposição desnorteada pelo sufoco a que está submetida, cercada por uma comunicação social pública e até privada hostil, enfraquecida pela sua incapacidade de juntar meios e unir-se, coloca os objectivos de democratização do país numa rota de extinção."

2 comentários:

Reflectindo disse...

Caro Laude Guiry

Em geral estou de acordo com o que estás a dizer sobre Afonso Dhlakama. Mas um é assunto muito para fazer entender Dhlakama, pois ao dizer como dizes ELE dirá que é indispensável na Renamo, ele que não compreende que a luta actual da Renamo é pelo voto como o Prof Serra aqui escreve. Na luta pelo voto os generais são outros, são indivíduos do tipo Daviz Simango.

Um problema gravíssimo de Dhlakama foi de querer sobressair sozinho entre os seus colegas guerrilheiros. Hoje não há se quer uma figura visível em cada província. Qual é a razão disso? Em 1992, a Renamo vindo das matas “pareceu” não ter quadros académicos, será e porquê? Acho que no livro de Paulo Barbosa, dossier Makwakwa, podemos encontrar nomes de certas figuras que hoje podiam ser a mais valia da Renamo.

Mas deixando esses podemos ainda ver como Afonso Dhlakama isolou todos aqueles seus colegas guerrilheiro que após o Acordo Geral da Paz tiveram ambição de desenvolver intelectualmente e só para dar exemplo, porquê quadros da Renamo como Hermínio Morais, Mateus Ngonhamo não são visíveis?

Escrevi num dos posts aqui e muitas vezes no meu blog sobre a necessidade de Afonso Dhlakama salvaguardas as suas honras, o seu prestígio na sociedade moçambicana e nesto, pensei exactamente o que o meu amigo Laude Guiry está dizendo. Dhlakama presidente honorário. Contudo, na medida em que ele está fazendo coisas incríveis, torna-se necessária a sua reforma política imediata, um silêncio do tipo da última campanha eleitoral ou uma férias de cinco anos. Continuo a dizer que ele atrapalha o eleitorado, sobretudo, os simpatizantes da Renamo. O eleitorado precisa de garantias que não é Afonso Dhlakama quem indica candidatos da lista dos deputados, delegados provinciais e distritais, presidentes dos conselhos municipais, etc. Insisto que por mais doce Afonso Dhlakama se apresente nos próximos momentos poucos o confiará.

Concordo que a Frelimo anda (governa) com os seus guerrilheiros e andará ainda por muito tempo, mas acho que a Renamo não tem que copiar a Frelimo por razões acima (ocultou-os demais) e por a Renamo não ter as mesmas possibilidades que da Frelimo. A Frelimo tem os meios estatais com que satisfaz tanto os guerrilheiros tipo Sérgio Vieira como os jovens tipo Edson Macuácua e porque não falar da possibilidade de exilar ao que aconteceu Hélder Muteia. Pelo facto de a Renamo estar cada vez mais longe do poder quem sofre são os seus membros e simpatizantes e entre eles, estão os milhares de guerrilheiros da Renamo. São estes que são excluidos em usufruir os seus direitos, que são humilhados pela Frelimo na função pública. Portanto, esta é a razão pela qual Afonso Dhlakama deve ceder a liderança da Renamo para uma juventude capaz de mobilizar o eleitorado a seu favor.

Segundo os dados das últimas eleições municipais, a Renamo vai a tempo de recompôr-se para mobilizar pelo menos mais 20 - 30 % do eleiratorado que ainda desmotivado em votar. E, segundo os pronunciamentos de Sérgio Vieira e Edson Macuácua, a arrogância dos frelimistas será ainda muito elevada o que pode favorecer à Renamo se Afonso Dhlakama afastar-se da liderança. E caso ele não queira demitir-se?

Anónimo disse...

boa tarde...

Alguém sabe dizer o que tem feito de Vicente Ululu...

abraço

Mário