Distraído e desorganizado que sou! Só hoje me lembrei de recontinuar a série com o título em epígrafe, parada desde Dezembro do ano passado, vejam lá! Mas avancemos, então.
Afirmei no número anterior que Dhlakama estava pressionado por um duplo constrangimento, vou reproduzir o que a esse respeito escrevi: "(...) por um lado, a nova étapa história da Renamo obriga-a a lidar com processos de gestão social que consistem em convencer pessoas do seu projecto de governação; por outro lado, uma forte, constante e multilateral pressão adversária obriga-a a re-infiltrar nesses processos, comportamentos de violência reactiva oriundos da mentalidade guerrilheira do seu passado. No primeiro caso, a Renamo vai para a frente, no segundo vem para trás. O presidente Dhlakama é a diagonal desse duplo constrangimento. Ele é o César de dois tipos de história abraçados em permanência."
Temos, então, um presidente Janus obrigado a ser "violento" pelo segundo tipo de história.
Ora, é justamente a violência que constitui a espinha dorsal de todo um discurso acusador, múltiplo, de muitos anos, que, nos últimos meses - em especial desde que Deviz Simango foi preterido pela Renamo na candidatura à presidência do município da Beira - desaguou na crença de que Dhlakama e Renamo acabaram, morreram politicamente. A sua morte política pré-eleitoral já foi declarada em certos círculos.
O problema é saber por que, tendo regressado aos comícios, Dhlakama parece continuar a atrair multidões.
(continua)
Adenda às 19:55: uma vez mais Dhlakama foi recebido por uma multidão, desta vez em Nacala: "(...) onde foi recebido com uma enorme moldura humana. Dhlakama encontra-se naquela autarquia em mais uma jornada de trabalho. O líder percorreu cerca de 5 km com a população, desde o local onde foi recebido até ao lugar destinado ao comício."
10 comentários:
A Frelimo é uma máquina bem estruturada e com um eficiente sistema de informação e contra-informação.
Tem perfeita consciência da influência de Dhlakama no eleitorado Renamo. Por isso, vê-se forçada a ter que "assobiar" fingindo não ver ou ouvir as ameaças do líder da Renamo de voltar à violência.
Noutras circunstâncias, certamente, já teriamos assistido a um qualquer incidente que, por "acidente", levasse o incómdo.
Dhlakama parece re-emergir com pujança, tranquilo, realista, concentrando esforços na mais populosa província do país, longe do reino do batuque e da maçaroca, minimizando a desercção de Moreno e Mussá ("... esses não são nada".
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Que Dhakama morreu politicamente é ja um dado adquerido nao obstante a sua pupularidades em zonas especificas com o norte e o centro casos de Nampula, Zambezia e sofala que deste o primeiro momento se revelaram hosteis a Frelimo mesmo no tempo colonial ja sim o era por razoes varias dentre as quais a etnica.
O lider da Renamo teve a sua melhor chance de vencer a frelimo em 1999. depois desse periodo a renamo e o seu lider comecou a decipcionar os seus membros com intrigas, guerras e desercoes em massa o que veio culminar com as expulsao de figuras chaves do partido renamo casos de Deviz, Mussa, Moreno etc etc este é pra mim o ponto chave do pronuncio do fim deste partido.
Quanto as multidoes nas degressoes do lider da renamo julgo que tem que ver com o que me refere a cima.
Curioso pra foi ver o lider da renamo procurar monesprezar as desercoes dos ex membros da renamo uma atitude no minimo bizara.
Pra tudo o que acontece e vier a contecer com a renamo so tem um CULPADO, AFONSO DHANKAMA.
Dhakama e renamo ja eram
Tenho dito
Xicoxa
Este é o meu segundo comentário em relação a figura de Dhalakama, mantenho o que disse na primeira ocasião, estamos perante um líder que organizou uma das mais terríveis batalhas de guerrilha do mundo, a nossa guerra civil! Foi general respeitado pelo mundo inteiro e até mesmo os seus “homólogos” de arma, como é o caso de Savimbe em Angola. É um estratega militar e ideológico de excelência, sabe quando o perigo está próximo para parar e escutar, como fazem os animais, esta é de resto as normas da selva, como diria o escritor Paulo Coelho (meu ídolo), que os animais ficam em silêncio quando o perigo está próximo. Portanto, Dhalakama conhece o chão que pisar e o povo que tem. Provavelmente tivesse aprendido a teoria de `Mão-Tsé-Tungue`, que o peixe está para a água como a guerra para o povo (tirem as ilações que quiserem desta frase) o que é certo é dizer de peito aberto que não estamos a falar de uma pessoa qualquer, estamos a falar de Afonso Macacho Maceta Dhlakama, um dos obreiros da democracia em Moçambique. Mas também reconheço-lhe algumas fragilidades em tomar decisões correctas em momento certo.
Um abraço
Dlakama! Apesar das suas atitudes condenaveis, é ainda o Lider Carismatico em Moçambique depois de Samora!
pena que nao soube fazer uso do seu carisma de uma forma correcta que beneficiasse a Renamo.
Nfuma
acho que o dhlakama tem que beneficiar mocambique e nao renamo, assim como guebuza tembem devia pensar no pais antes do partido.
nao vou falar do daviz, porque pode ferir susceptibelidades, pois ja 'e notorio que se pretende um pais com apenas 2 partidos belicos e nada de democraticos.
"...se pretende um pais com apenas 2 partidos belicos e nada de democraticos." anónimo
Também tenho notado.
Mas meus caros, Dhlakama não é um político coerente. Comandante, ele é. Se ele tem multidao hoje, amanhã vai confundi-la como sua propriedade e daí ela não vai votar em massa. Repare-se apenas nas eleicoes gerais de 2004 que até tenho alguns videos (youtube) lá Reflectindo. Muita moldura humana. Depois, para as eleicoes municipais de 2008 e depois daquele trabalho com Tsvangirai ele estava a marcar pontos importantes. Mas não tardou que estragou o negócio, comecando por por falar de MMM em vez do congresso.
A Frelimo controla-lhe e sabe onde, como e quando lhe provocar para lhe fazer perder tudo. Esse é o cuidado que também o MDM tem que ter, pois revanche da Beira pode estar a preparar-se.
Acho que não é qualquer partido que consegue mobilizar tanta população quanto a Renamo mobilizou para a recepção de Dhlakama em Nacala.
Veja-se o exemplo da Mafalala.
Acho que a politica não é feita, somente, de académicos ou intelectuais. Os académicos so serão mais valia, se conseguirem traçar estratégias que visam garantir a adesão da populução aos ideias dos respectivos partidos.
Os resultados alcançados pela Renamo, apos a adesão dos supostos académicos, foram piores que os de 94 e 99. Inclusivamente, a académica Maria Moreno perdeu na sua terra natal. Será que são mais valias?
Temos que dar mérito aos "analfabetos" que ficaram na Renamo e conseguiram mobilizar tanta gente quanto a que esteve em Nacala.
Acredito que a Renamo e o Dhlakama não são moribundo...meu partido terá que deixar o triunfalismo resultante da vitória nas autárquicas e pensar na Renamo e no Dhlakama como sérios adversários.
Orgulhosamente Moçambicano
Nuno Amorim
Para entender melhor o peso de Dhlakama na cena política nacional, importa ponderar sobre o nível de envolvimento da população nos 10 anos de Luta de Libertação Nacional (1964/74) e nos 14 anos de conflito Renamo x Governo (1978/92). Assim:
Revisitei o “Atlas Geográfico, Vol.1 do Ministério da Educação e Cultura – República Popular de Moçambique, de 1979 (Ano de Consolidação das Nossas Conquistas) impresso na Suécia em 1980.
Concentremo-nos no mapa da pág.46 (Moçambique: Luta de Libertação Nacional e Independência) que mostra as acções da Frelimo no período de 1964/74.
Hoje, 34 anos após a Independência, começa a ser tempo bastante para olharmos para a história mais SERENAMENTE.
Assim, olhando para esta insuspeita fonte de informação, pode concluir-se que as zonas libertadas e semi-libertadas da Frelimo eram, fundamentalmente:
(i) Zonas remotas, sem infra-estruturas, fraca densidade populacional e insignificante actividade económica (como ainda hoje são);
(ii) As zonas Sul de Niassa e Cabo Delgado eram somente zonas de infiltração praticamente sem bases operacionais;
(iii) A efectiva guerrilha estava limitada a algumas zonas de fronteira com o Malawi (distritos de Mutarara, Murrumbala e Milange);
(iv) Na Província de Nampula não havia qualquer acção da Frelimo, bem como na maior parte da Zambézia.
> Note-se que estas Províncias representavam, e representam, mais de 50% da população nacional;
(v) Para Sul da estrada Beira x Machipanda (Províncias de Inhambane, Gaza e Maputo), havia apenas grupos de reconhecimento e acções clandestinas.
Estes dados oficiais mostram que, durante o período colonial, só uma pequena parte da população (menos de 1/3) teve contacto directo com a guerra de libertação.
PORÉM, no conflito Renamo x Governo (1978/1992) a situação foi bem diferente. Vejamos:
A Renamo estendeu a sua acção de guerra, no terreno, praticamente desde Nampula a Maputo (Províncias de Nampula; Zambézia; Sofala; Manica, Inhambane; Gaza e Maputo).
Não podiamos ir sem coluna de Maputo a Marracuene, de Nampula a Nacala, De Quelimane a Alto-Molócuè, de Xai-Xai a Macuácua, etc., etc.
> Praticamente, apenas não penetrou, ou teve menos acção, nas então Zonas Libertadas da Frelimo.
Para além de ser uma guerra mais prolongada que a Luta de Libertação Nacional (14 contra 10 anos), atingiu mais de 2/3 da população nacional.
A população das Províncias de Nampula, grande parte da Zambézia, Inhambane, Gaza e Maputo, não conheceu a guerra colonial, MAS sentiu profunda e dramaticamente os horrores do conflito Renamo x Governo.
Perante esta realidade histórica, creio não ser de menosprezar a capacidade da Renamo e do seu líder, de chegar e ter influência nas mais recônditas zonas rurais, onde a população sabe bem do que a Renamo é capaz. Ninguém esquece que, mesmo no campo, a população dormia fora de casa, no mato; as colunas eram assaltadas; se cometiam barbaridades.
Concluindo: O Tio Afonso lá sabe porque se mudou de armas e bagagens para o maior círculo eleitoral do país e porque com frequência lembra que mantém capacidade militar.
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Caro Sr. Anónimo 3/6/09 10:13
Parabéns pela lúcida e inteligente análise.
Já estou cansado, mesmo cansado, de escrever isso mesmo.
Apenas discordo das apelidadas zonas "libertadas" da Frelimo.
Passando por cima dessa manobra de propaganda muito bem vendida, e melhor comprada, está certa a análise.
A Renamo penetrou muito mais profundamente e eficazmente em quase todo o território de Moçambique, com piores condições logísticas e países vizinhos mais adversos, do que a Frelimo.
O que nada me admira.
Nada, mesmo.
Eu também concordo com a discricão do anónimo, porém, é necessário sublinhar que o povo sabe realmente sobre quem fez o quê nessa guerra Renamo x Governo da Frelimo. Para quem vivia nas cidades (pelo menos algumas cidades) a Renamo foi bárbara a Frelimo salvadora, mas para quem vivia no campo, a Frelimo foi bárbara e a Renamo salvadora.
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