
A comunidade GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) moçambicana tem um novo portal, a conferir aqui.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
No bricolando o social e a análise, o António Francisco tem uma resposta no fórum da abstenção e o Elísio Leonardo criou um para o Hip Hop. Aqui.
A empresa mineira Noventa, actuando em Marropino, província da Zambézia, despediu 333 trabalhadores. Está o nosso governo a par disso, governo que interveio quando a Mozal tentou despedir trabalhadores? Recordem esta notícia: "O Ministério do Trabalho constatou irregularidades no processo do despedimento colectivo de 80 trabalhadores da empresa de fundição de alumínio Mozal. O facto foi revelado ontem, momentos após um encontro entre o ministério e a direcção da empresa." E também esta.
Como muitos outros, continuo a aguardar os resultados das presidenciais da Guiné-Bissau. Enquanto isso, o UOL brasileiro exibe a tradução de um trabalho do Le Monde francês, do qual extraí a seguinte passagem: "Rede global e consumo local, altos lucros e riscos de explosão política, é esse o resumo em linhas gerais do impacto da transformação brutal de um pequeno país perdido na plataforma de reexportação da cocaína sul-americana para a Europa."
O informático Elísio Leonardo do InfoMoz, estudante de informática da Universidade Eduardo Mondlane, continua com os seus interessantes trabalhos de pesquisa e análise. Desta vez, pôs-se a avaliar o valor no mercado dos nove portais de imprensa constantes do meu diário, fazendo uso dos avaliadores encontráveis aqui: http://www.cubestat.com/ e http://www.dnscoop.com/
No primeiro número desta curta série dei-vos várias perguntas diferentes. Naturalmente que as respostas são, igualmente, diferentes.
A estigmatização colectiva aparece muitas vezes como algo natural, como algo personalizável, como simples aversão de certos indivíduos por outros, como algo que tem unicamente a ver com pessoas boas e com pessoas más, como algo independente das relações sociais e, em particular, da luta política por recursos de poder. Quem quer chegar ao poder político, quem se apresenta colectivamente como grupo aspirando a disputar recursos de poder, sofrerá uma impiedosa e permanente estigmatização por parte dos gestores actuais desses recursos. Os mais pequenos pormenores serão usados e ampliados como marcadores da panóplia estigmatizante.


Mais um pouco da série, elaborada com base em depoimentos recolhidos num bairro da periferia da cidade de Maputo.
Com frequência, o boletim de ocorrências do "Notícias" reporta o surgimento de armas de fogo na via pública. Desta vez, duas metralhadoras AKM foram encontradas no bairro de Mavalane, periferia da cidade de Maputo e uma terceira na posse de um indivíduo no bairro do Costa do Sol. A conferir aqui.



Mais uma bocado da série, desta vez com o Sr. M., antigo secretário de bairro: "Estrangeiros apareceram neste bairro em 2003 e a maioria são Ruandeses e não Burundeses como as pessoas do bairro dizem (...). Eles estão mais preocupados com o negócio deles, desobedecendo totalmente as leis do país e eles vendem seus produtos nos dias feriados, nos sábados e nos domingos. (...) Aqui no bairro todos dedicam ao negócio e são eles que dominam o mercado. (...) aqui no bairro muita gente se interroga donde provém o dinheiro que esses estrangeiros usam para iniciar o negócio. É difícil explicar esta questão e convencer as pessoas, mas eu entendo que muitos desses estrangeiros têm familiares na Europa e na América e talvez sejam estes familiares que criam condições para eles iniciarem com seus negócios."
Por que acreditamos que alguém amarra a chuva no céu? Por que acreditamos que Armando Guebuza vai ganhar as eleições de Outubro? Por que acreditamos que o processo de Bolonha melhora o ensino universitário? Por que acreditamos que com os sete milhões a pobreza absoluta vai desaparecer? Por que acreditamos que o Dr. Única Mezinha dos Grandes Lagos cura não importa que doença? Por que acreditamos que a ciência é uma coisa distinta do senso comum? Por que acreditamos que a orgonite elimina as energias negativas? Por que acreditamos que correr diariamente faz bem à saúde?
No "O País" online de hoje: (...) o projecto de lei do Estatuto do Deputado, prevê, por outro lado, aumentar regalias aos deputados. Se este projecto for aprovado em definitivo, o Estado moçambicano vai passar a custear o seguro, contra terceiros, das viaturas dos deputados, enquanto estas (viaturas) continuarem propriedade do Estado. A introdução deste seguro vai ter, segundo o Ministério das Finanças, um impacto financeiro adicional anual para o Orçamento do Estado de cerca de um milhão de Meticais (um dólar norte-americano equivale a cerca de aproximadamente 27 Meticais). 




Acusado de contaminar fontes de água, um estrangeiro escapou do linchamento no distrito de Palma, província de Cabo Delgado, tendo sido salvo pela polícia. Há uma epidemia de cólera naquele distrito. Confira aqui.



O presidente da recém-nascida União dos Democratas de Moçambique - Partido Popular, José Ricardo Viana, ex-dirigente da falida Link (cuja história terminal é no mínimo curiosa e desastrosa) e anunciado candidato presidencial nas eleições de Outubro, decidiu espartanamente dever o país regressar ao socialismo científico que ele afirma ter pertencido aos tempos de Samora Machel. Por quê? Porque - argumenta - a Frelimo roubou e continua a roubar os bens do povo, bens que importa devolver, bens que importa redistribuir neste país empobrecido por aqueles que só pensam em enriquecer. Por isso o seu partido é, como afirmou há dias, uma "Frelimo renovada".
O rumor do bicho-papão-nigeriano é forte, coriácio. De tal maneira que o embaixador da Nigéria deu ontem uma conferência de imprensa dizendo que nada prova que o "homem estranho" seja nigeriano e que, além do mais, tudo indica que se trata de um boato. Confira aqui.
O roubo do desenvolvimento para outros desenvolvimentos prossegue, desta vez na linha de alta tensão de transporte de energia eléctrica para a cidade de Nacala-Porto, a partir de Nampula, "para roubo de cantoneiras e outros materiais metálicos, situação que se vem registando há dois meses a esta parte e que poderá resultar no corte do fornecimento de corrente eléctrica àquela região, paralisando consequentemente a actividade laboral dos projectos industriais ali implantados, incluindo o porto a partir do qual se fazem transacções quer por agentes económicos nacionais, como do vizinho Malawi."
Regra geral discutimos as coisas políticas em termos éticos, morais e moralizadores. Mas a essência das coisas políticas tem outras bases: “As diferenças na capacidade de estabelecer normas e de as aplicar a outras pessoas são essencialmente diferenças de poder (legal e extra-legal). Os grupos mais capazes de fazer aplicar as suas normas são aqueles aos quais a sua posição social dá armas e poder. As diferenças de idade, de sexo, de classe e de grupo étnico estão todas ligadas a diferenças de poder” - Becker, Howard, Outsiders, Études de sociologie de la déviance. Paris: Métaillé, 1985, p. 41.
No estabelecimento comercial de P., num determinado bairro da periferia de Maputo: “(…) em qualquer parte do mundo é assim, o estrangeiro é tratado assim, quer na Europa, quer na América. Portanto, o que dizem contra nós e nós entendemos que somos estrangeiros. (…) De uma maneira geral os Moçambicanos tratam-nos como Burundeses, mas somos Ruandeses. Nós aceitamos esse tratamento para evitarmos problemas, emboras saibamos que aqui no bairro não existem pessoas do Burundi (…) Quando aconteceu o problema da xenofobia na África do Sul, passámos um bocado mal, porque as pessoas falavam mal de nós e até aqui na minha casa serviu como local de esconderijo de viaturas de todos os ruandeses que residem no bairro (…). Tínhamos medo que os nossos carros fossem apedrejados pelos jovens marginais. (…) Eu fui objecto de emboscada por duas vezes (….)”
Eis JO, comerciante ruandês: “(…) eu não tenho nenhum problema com Moçambicanos, embora existam pequenos casos que considero serem normais. Em princípio, os Moçambicanos tratam-nos como Burundeses, mas nós viemos do Ruanda. Às vezes aparecem pessoas que dizem que vocês Burundeses não são nada e expressam assim para nos gozar. Quando nós ouvimos isso, não nos preocupamos, porque sabemos que mesmo entre vocês, Moçambicanos, se desprezam. Os que vieram do norte são chamados xingondos. Quanto eu estava em Nampula as pessoas da cidade desprezavam os que vinham dos distritos, dizendo que vocês de Mogovolas, de Angoche, não são nada.”
Representações sociais são sempre fenómenos merecedores de atenção. Como é que alguns de nós, Moçambicanos, constróem os estrangeiros? E como é que estes nos constróem? Numa curta série – percutida pelo fenómeno do bicho-papão-nigeriano -, vou deixar aqui pequenos extractos de entrevistas feitas num bairro da periferia da cidade de Maputo por um dos meus assistentes. Começarei pelos estrangeiros, tarefa sempre muito difícil, pois regra geral recusam falar, dizendo que não querem problemas.
O presidente da República, Armando Guebuza, fez hoje na Assembleia da República o último informe do seu mandato sobre o estado da nação.
Suposto ter furtado dez contadores de água, foi espancado até perder os sentidos na Matola. Confira aqui.
Hoje, nos noticiários das 12:30 e das 19:30, a Rádio Moçambique informou que amanhã o presidente Guebuza fará na Assembleia da República o último informe ao país do actual mandato, assinalando que ele iria dar conta dos feitos em cinco anos de governação. O informe foi acompanhado de uma inquirição a cinco cidadãos sobre o que eles gostariam de ouvir do presidente. Corrupção, pobreza e criminalidade são os três males que os cidadãos ouvidos gostariam que fossem efectivamente combatidos.
Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).