03 abril 2009

Cólera, boato, politização e realidade social

De um relatório da Liga dos Direitos Humanos, citado pelo semanário "Savana" desta semana: "Para a LDH, as manifestações populares havidas em Sangaje contra os activistas da Cruz Vermelha de Moçambique, quando estes colocavam cloro nas fontes de água, tiveram como resultado a falta de interacção entre os voluntários e os líderes tradicionais que deveriam preparar a comunidade sensibilizando-a sobre o uso daquela substância química e não questões politicas. Alguns políticos e analistas da praça estabelecem uma relação de causa-efeito entre as mortes e cores partidárias. É que consta que a maioria dos detidos são membros e simpatizantes do maior partido da oposição em Moçambique, a Renamo. Esta situação, segundo explica a Liga, criou desinformação no seio da comunidade que “ao ver os activistas a deitarem cloro nos poços de água consideraram que estavam a colocar o vibrião da cólera”. Devido a politização do caso, “agentes da PRM dispararam contra cidadãos indefesos tendo-se registado um número indeterminado de óbitos e 38 indivíduos detidos na cadeia distrital”. Porém, avança a LDH, “apenas oito destes tinham alguma ligação com as manifestações”, refere o documento." (p. 10).
Enquanto isso, o "Notícias" de hoje tem um extenso trabalho sobre Mongincual, do qual extracto a seguinte passagem: "Em Mogincual falta quase tudo, situação que castiga severamente os seus pouco mais de 131 mil habitantes, dos quais apenas 628 é que têm emprego garantido nas diferentes instituições da função pública."
Por outro lado, recorde as afirmações do Sr. Mucanheia, secretário permanente de Nampula, muito criminalizador, aqui.
Comentário: já no meu livro "Cólera e catarse" (2003) eu tinha chamado a atenção para a necessidade imperiosa de se ter em conta realidades que o facilismo da imputação política ("é desinformação da Renamo") ou o comodismo das etiquetas bárbaras ("o povo é supersticioso") não deixavam e não deixam ver. Confira aqui e aqui.

1 comentário:

Reflectindo disse...

Até porque se não li mal uma das passagens do relatório da LDH aponta o Comando Provincial da PRM como quem politizou/partidarizou o mal entendido e enviou lá essas forcas que mataram alguns manifestantes.

Estou muito indignado por estes manifestantes mortos pela FIR nunca terem-se referido antes. Na minha opinião estas mortes também devem ser investigadas e os autores penalizado. Em Mocambique não há pena de morte.