E as cheias voltaram. Cheias que provocam dor. Nas províncias existem governadores, directores, chefes, secretários. O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades e a Cruz Vermelha de Moçambique desdobram-se em acções de socorro e ajuda. À Beira chegou um barco com três mil toneladas de alimentos que permitirão alimentar cerca de 250 mil pessoas. Mas isso não basta, é pouca gente, é preciso mais gente. Por isso saem de Maputo - da Nação, como diz o nosso povo do Centro/Norte -, com grande publicidade na rádio, altos dirigentes, estatais e políticos. Todos vão ver, montes de despesas, luxuosas viaturas 4/4 quatroquatrizam as zonas próximas dos lugares afectados. Um cheiismo sem fim. Os governos provinciais perdem visibilidade, são eclipsados. E surgem duas coisas notáveis: por um lado, o pedido feito em plena rádio pela alta estrutura no sentido de que as "populações" devem retirar-se de onde estão, como se essas pessoas estivessem de xirico no ouvido à espera de ouvir a qualquer momento a cheia palavra do cheio senhor que nelas pensa; por outro lado, a indicação dada às altas estruturas de que as "populações" teimam em ficar onde estão ou teimam em sair tarde de onde estão ou voltam onde estiveram, por "motivos culturais", como se, socialmente, elas estivessem capazes de construir casas de alvenaria em zonas distantes da acção das cheias, sistemas permanentes de abastecimento de água e ouvissem regular e religiosamente os avisos dos nossos serviços meteorológicos através da RM, da TVM ou da STV. As cheias aí estão, as eleições estão próximas. Acabadas aquelas, terminadas estas, ficarão as "populações", de novo, entregues aos seus cheios e intermináveis "motivos culturais", até que novas cheias e novas eleições cheguem, para nova correria, para nova visibilidade.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
6 comentários:
Gostei texto.
Acho que a questão das cheias deve merecer um debate Nacional mais profundo e sério.
Este problema é que devia ser matéria para os cientistas Moçambicanos das áreas viradas para a gestão destas situações realizarem estudos e pesquisas e encontrarem soluções, ao invês de procurarem resolver os " problemas dos outros ".
A grande questão que coloco agora é: onde é que estão os nossos cientistas, académicos, investigadores para resolver um problema cíclico de modo a que não se façam cheiismos no futuro...
Grande análise professor.
Se fores a notar o jornal notícias esta muito empenhado em afirmar que estamos perante as maiores cheias de sempre.
A TVM, RTP e STV só mostram imagens de arquivo: Aonde andam as tais cheias?
é possível as pessoas recusarem abandonar as zonas de risco perante o tal eminente risco de morte devido "a fúria das aguas"?
Certamente que as ONG´os funcionários do INGC entre outros irão encher as bolsas de taco!
NB: Qual é o papel da HCB? he....São tachos.
Xi xamuáli Carlos boa mesmo boa é isto que dá prazer neste canto ler sempre precisamos de patriotas como simango força.
Professor,
a informação que nos chega indica que as águas na "sua" cidade de Tete nem sequer chegaram á estrada de terra batida que serve os tres restaurantes da parte baixa.
No entanto ainda ontem a TVM mostrava esses restaurantes com as esplanadas completamente cobertas de água. Praticamente apenas se viam as portas.
Será possível confirmar a verdade?
Vou já ligar para Tete e depois digo algo.
A primeira e rápida informação que recebi de um jornalista de Tete é a de que nenhum restaurante estava ou está alagado. Aguardo detalhes, agora.
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