15 janeiro 2008

A guerra dos dons e dos créditos: CMB oferece ambulância e balneários (3) (fim)

Mostrei no número inaugural desta série e citando o "Canal de Moçambique", que o Município da Beira ofereceu uma ambulância ao Centro de Saúde da Munhava e cinco balneários públicos a outros tantos bairros.
No segundo número observei que estávamos perante uma clara luta de trincheiras políticas entre o executivo municipal da Beira liderado pelo edil Deviz Simango e dois executivos estatais: um da administração urbana da cidade da Beira liderado por Cremilda Sabino no que toca à preeminência e à visibilidade de gestão e outro do executivo estatal liderado por Lucas Chomera no que toca à guerra das bandeiras dos partidos políticos.
A terminar, deixem-me avançar algumas ideias muito toscas, muito imperfeitas, muito éticas. O que se passa na Beira mostra claramente que uma democracia é tão mais viva quanto mais poderes estiverem em competição permitindo aos cidadãos quer a escolha dos produtos de utilidade social mais legítimos, quer a aferição dos que lhe são dados como oferta política prepositada e sem sua consulta. Um gestor político é tão mais legítimo quanto mais souber provar que o produto que oferece é, efectivamente, pretendido pelos governados e/ou por eles qualificado como bom, como eficaz. Mas mais fundamente ainda: quando uma luta política se faz sem apelo a líderes salvacionistas imediatos, a líderes carismáticos julgados portadores de curas milagreiras instantâneas, esse democracia é boa. Significa que os cidadãos sabem encontrar em baixo, entre várias possibilidades, soluções que os messias dizem estar em cima, apenas a cargo deles. E na Beira temos inegavelmente um caso notável: o de um poder estatal com décadas de gestão política exclusiva confrontado com um poder municipal pequeno mas prestigiado: este ensina aquele a democratizar-se, aquele ensina este a pré-estatizar-se. Aplicar a força na competição política com o poder municipal minoritário no mar estatal, não só o robustecerá quanto legitimirá ainda mais os produtos que ele oferece aos cidadãos. Aplicar a força ou - acrescente-se- subestimar as opções do adversário, tal como fez o director provincial de Saúde de Sofala, Dr. Alberto Baptista, ao defender que “a ambulância não devia ser oferecida ao centro de saúde da Munhava directamente mas sim ao serviço de ambulâncias que está operar na cidade da Beira”. O dr. Baptista é certamente quer um bom médico quer um gestor estatal justo (ele tem absolutamente razão no que concerne ao alvo que devia ter sido escolhido para a entrega da ambulância). Mas é irremedivalmente um mau político: como mau político não sabe que a chave política da hegemonia na Beira está na Munhava. Acresce que não admitiu haver outras possibilidades de gerir o trunfo político ambulância que não aquela que acha justa. Mais: quis que Simango fizesse o que Estado devia ter feito e não fez ainda.

12 comentários:

Anónimo disse...

Professor,
> Enquanto os poderes Autárquico e do Governo se confrontam, o que se passa com a ambulância ?
1. Está ou não a ser utilizada ?
2. Se sim, está a ser gerida e utilizada apenas pelo Centro de Saúde da Munhava ou transitou para o Serviço de Ambulâncias?
3. Se não estiver a ser utilizada, podemos estar perante um caso de esbanjamento de recursos - aquisição de equipamentos com receitas do Município (logo dos Munícipes)sabendo que não existiam condições legais para garantir a sua utilização /rentabilização.
> Compreende-se a subtileza da estratégia de Simango, para quem os 90 mil dolares (ambulância) representam o custo dum trunfo político.
> Porém, por muita simpatia que tenhamos pelo autarca, é ser ingénuo não entender que Simango excedeu as suas funções - de Gestor Autárquico -, quando optou por fazer política com recursos da autarquia.

Um Abraço
Florêncio

Carlos Serra disse...

Fiz dois contactos com gente da Beira e espero que me respondam..

Nelson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nelson disse...

Nenhum dos dois contactos do Dr. C.S foi meu mas já vou adiantando o seguinte:
Contactei o senhor Aley "fonte credível", uma espécie de "adido de imprensa" no CMCB que me garantiu que a ambulância já está sendo usada. Que já estivesse sendo usada eu tinha certeza pelo conhecimento que tenho da grave necessidade que existia no CSM, aliás a "verdadeira razão" do CMCB ter si "intrometido". Do senhor Aley fiquei a saber ainda que a próxima "intromissão" será conseguir uma outra ambulância para o centro de saúde de Inhangau que se depara com o mesmo problema de falta de transporte ora resolvido na Munhava.
Reitero que concentrar o olhar para o lado político(que admito existir) no generoso gesto do CMCB(Deviz Simango) só pode ser resultado do total desconhecimento da necessidade que os "Munhavenses" tinham ou então do hábito de assistir à "joguinhos políticos" sujos.
Quando o caro Florêncio diz que: "Simango excedeu as suas funções - de Gestor Autárquico -, quando optou por fazer política com recursos da autarquia" devemos lhe lembrar(como se tivesse esquecido) que esses"recursos da autarquia" no caso vertente 90 mil dólares (ambulância) estão sendo plenamente usufruídos pelos legítimos autarcas oque certamente redime Simango de qualquer "pecado político". Oque Simango fez foi juntar o "útil ao agradável". Conseguiu ganhos políticos sim mas também aliviou a desgraça dos munícipes que terão que ser "ingénuos" para se esquecerem dele nas próximas, próximas eleições.

Abraços calorosos do Chiveve(cidade dos linchamentos)

Nelson disse...

Só para corrigir que o Centro de Saúde de Inhangau foi o primeiro a se beneficiar....

Carlos Serra disse...

Beira e Inhangau! Excelente notícia, que me deixa feliz. Obrigado por ter deixado aqui o resultado do que apurou. Julgo conhecer a Beira e por isso julgo não ter errado no que sobre a Munhava escrevi. Abraço!

Salvador Langa disse...

Xi sim senhor mano Simango está fazer bom trabalho.

Carlos Serra disse...

Quis escrever Nhangau...

Nelson disse...

.não tenho certeza quanto à ortografia...

Carlos Serra disse...

Obrigado. Espero a todo o momento falar telefonicamente com o Eng.º Simango.
Entretanto, fui ao portal do município e escrevi nova postagem com os dados que lá encontrei.

Reflectindo disse...

Tenho muitas vezes concordado consigo Florêncio, mas desta vez permita-me discordar totalmente consigo.
O Nelson deu alguns pontos que eu ter gostado dar. Não vou repeti-los. O Prof Serra fez uma boa introducão que acho nada ter a ver com simpatias, mais avaliacão do CAPITAL DA DEMOCRACIA. Os beirenses estão a saborear os frutos da verdadeira democracia. Se essa ambulância não estivesse a se utilizar, tinhamos é procurar quem faz a chantagem porque em Munhava, embora eu não conheca, há muita gente que precisa deste meio. E, em caso de os servicos de ambulância precisar aquele carro e na altura estiver livre, eles podem alugá-lo e pagar a Munhava. Não é estranho, é o que o centro internato de Natete faz quando aluga o carro da Escola Industrial de Carapira, todos do MEC.
Seria definitivamente contra fins municipais, se o carro fosse dado aos servicos provinciais de ambulância e que pouco serviria aos munícipes do Chiveve.

Carlos Serra disse...

Aguardo que me enviem certos dados (que já conheço por telefone) sobre novas coisas que vão ser atribuída aos bairros e designadsamente ao Nhangau, tal como o Nelson escreveu e bem. Entretanto, certamente já repararam que coloquei nova postagem usando o material do portal do Conselho Municipal da Beira.