Parece ser mais fácil, bem mais visível, analisar um lado da reforma agrária encetada em 2000 (um ano depois do nascimento do MDC) no Zimbabwe, porque aí as coisas surgem a duas cores: os pretos contra cerca de quatro mil famílias brancas. E surgindo a duas cores, o fenómeno desperta uma imensa reacção de brancos e de pretos, dá origem a toda uma pujante adrelanina racializante.
Tenho para mim que era injusto uma porção significativa da terra estar nas mãos de uma minoria. Tenho para mim que houve e há muito cinismo internacional na forma como se procurou e se procura transformar (racializando-a) uma exigência legítima na quase razão de ser da crise zimbabweana, tanto mais que tempo houve em que Washington e Londres sustentaram o regime de Mugabe. E, finalmente, tenho para mim que não podemos santificar o MDC e Morgan Tsvangirai, vê-los como puros Robins Hoods exclusivamente preocupados com o povo.
A virulência dos ataques da ZANU ao MDC (transformado no ariete do imperalismo e no óbice à genuína reforma agrária) requer recordar dois fenómenos quanto a mim importantes: a decapitação da elite Ndebele seguida da perseguição do seu povo e o enriquecimento na campanha militar congolesa. No primeiro caso gerando o monopólio do poder, no outro assegurando as bases do enriquecimento da elite da ZANU-PF.
A virulência dos ataques da ZANU ao MDC (transformado no ariete do imperalismo e no óbice à genuína reforma agrária) requer recordar dois fenómenos quanto a mim importantes: a decapitação da elite Ndebele seguida da perseguição do seu povo e o enriquecimento na campanha militar congolesa. No primeiro caso gerando o monopólio do poder, no outro assegurando as bases do enriquecimento da elite da ZANU-PF.
Ora, tudo o que parece, à superfície, sugerir a demência de Mugabe ao estar optimista e calmo face aos resultados da eleição presidencial de ontem, tudo o que parece ser não é, afinal: na realidade, o optimismo de Mugabe tem razão de ser, Mugabe que é o ícone de uma elite que enriqueceu e tudo fará para proteger os seus privilégios, através de um exército, de uma polícia e de forças para-militares poderosas (tudo leva a crer que hoje é uma junta militar que governa o país e por isso não nos devemos surpreender com as constantes intervenções de comandantes militares enquanto produtores de opinião no jornal governamental zimbabweano, The Herald).
Todavia, a elite da ZANU sabe bem - e há muito tempo - que está a ser contestada nacional, regional e internacionalmente. E sabe bem que faz face a uma nova elite, forte e desejosa de chegar ao poder desde 1999, a elite traduzida no MDC e em Morgan Tsvangirai, uma elite que é, de alguma forma, a sucessora indesejável daquela que a ZANU decapitou no tocante aos Ndebele.
Quando Mugabe disse ontem que seria magnânimo com a oposição caso vencesse a eleição, ele limitou-se a dizer que a ZANU estava finalmente disposta a admitir uma partilha de poder que, porém, assegurasse a continuidade do monopólio do partido com uma pequena fatia distribuída ao MDC. Ele sabe bem que o espectro de contestação nacional, regional e internacional é, agora, grande. Por isso, embora estando ainda em posição de aparente vantagem interna, é para a ZANU conveniente recalibrar a correlação de forças, modernizá-la, adaptá-la, criar um semblante de partilha de poder, um governo de unidade nacional que permita a reprodução dos seus privilégios e satisfaça temporiamente a ânsia da elite concorrente, do MDC, um governo de unidade nacional que amorteça a indignação internacional e acalme a tempestade interna, um governo que de alguma maneira trave o efeito da acusação internacional de que o governo a sair da eleição de 27 é ilegítimo.
Quando Mugabe disse ontem que seria magnânimo com a oposição caso vencesse a eleição, ele limitou-se a dizer que a ZANU estava finalmente disposta a admitir uma partilha de poder que, porém, assegurasse a continuidade do monopólio do partido com uma pequena fatia distribuída ao MDC. Ele sabe bem que o espectro de contestação nacional, regional e internacional é, agora, grande. Por isso, embora estando ainda em posição de aparente vantagem interna, é para a ZANU conveniente recalibrar a correlação de forças, modernizá-la, adaptá-la, criar um semblante de partilha de poder, um governo de unidade nacional que permita a reprodução dos seus privilégios e satisfaça temporiamente a ânsia da elite concorrente, do MDC, um governo de unidade nacional que amorteça a indignação internacional e acalme a tempestade interna, um governo que de alguma maneira trave o efeito da acusação internacional de que o governo a sair da eleição de 27 é ilegítimo.
Sugestão: permita-me sugerir-lhe que leia o Bloomberg aqui. Se quer ler em português, use este tradutor.
2 comentários:
Tal de GUN entendi logo que era sua intencão, mas com certeza que fosse ele a dirigi-lo, tipo Quénia. Assim ele fez entender ao negar adiar as eleicões mas admitir que depois delas há espaco para diálogo. Ele sabe como qualquer um pode ter se apercebido de uns ou tantos no MDC com gula às riquezas fáceis tal igual acontece aqui em casa com a nossa Renamo-UE. E há muitos que por ingenuidade nunca se interrongam da utilidade dos GUN em África. A única utilidade que eu encontrei é de por enquanto da prevencão de guerras civis. Mas um governo da unidade nacional (GUN) é anti-democrático e satisfaz apenas às elites. De certo modo, os GUN estão preparando mais uma guerra em África, pois na medida que nos apercebemos da sua inutilidade vão provocando a nossa ira que a qualquer momento possa explodir. É que enquanto as elites se oportunam, os que fazem a revolucão real e os mais decisivos são os pobres.
Que GUN na África do Sul não durou muito tempo é do nosso conhecimento e podemos nos interrogar porquê. Para mim, é porque os convidados para o tal não o precisavam para enriquecer. Já estavam ricos e talvez sabiam gerir as suas riquezas e até o que mais queriam era mais tempo para geri-las muito mais melhor, para expandirem em toda África, África Austral em particular, onde usam os nossos gananciosos governantes, ontem seus inimigos.
E como vai o GUN em Angola?
O que precisamos ou o que é útil em/para África não são GUN, mas sim governos inclusivos, aqueles que buscam todo o nosso recurso humano, o cérebro, todos aqueles com vontade de contribuir para o nosso desenvolvimento. Até bastaria que se despartizassem os estados africanos, para podermos avancar, pois não é o posto de ministro que muito preocupa a um cérebro, mas sim a carreira profissional e as suas liberdades.
Obrigado pelo seu comentário, que faz pensar. Um ponto vital é o que parrece ser a falência das eleições.
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