A situação agravou-se, a situação agrava-se rapidamente no Zimbabwe, amanhã é dia da segunda volta das eleições presidenciais. Durante anos, esteve em vigor entre nós o que se convencionou chamar diplomacia silenciosa. O que significou isso na prática? Significou homologarmos o que se estava a passar na terra do Munhumutapwa. Por um lado, era preciso compreender que o Zimbabwe saía de uma dominação colonial, era preciso compreender a pressão britânica, era preciso, simplesmente, compreender o aguilhão colonial e, portanto, o ressaibo do colonizado, a sua alma ferida. Por outro lado, múltiplos laços de camaradagem forjados nas lutas de libertação impediam e certamente continuam a impedir que se visse e se veja para além do quadro recorrente do aguilhão colonial.
Essas duas situações criaram o quadro maniqueísta e cómodo dos bons (regime de Mugabe) hostilizados pelos maus (Britânicos e aliados), pretos de um lado, brancos do outro. Não é por acaso que uma parte significativa das análises que proliferam no mercado assenta nessa mezinha racializante, politicamente útil e simbolicamente compensadora. E, facto imponente, sempre que se pretende analisar o que hoje se passa no Zimbabwe, os analistas da mezinha logo embarcam para o passado para aí colherem, puro e definitivo, o sofrimento do colonizado e através dele tudo justificarem, tudo explicarem pela vitimização histórica, musculados e intransigentes. É essa, sempre, aliás, a tónica do The Herald.
Acontece, porém, que pouco a pouco, face ao caudal de violência estatal no Zimbabwe, vozes africanas de peso começaram a soltar-se (algumas sempre estiveram soltas) da rede maniqueísta, descolonizaram-se, ganharam a independência (entre nós, aqui em Moçambique, não são poucas as vozes, de várias latitudes, que frontamente têem denunciado o que se passa no Zimbabwe). E começaram a apontar o dedo a um problema real: a violência estatal, a exploração, também podem ser - e são - africanas.
Por outras palavras: essas vozes, algumas delas das mais nobres vozes da história da humanidade – Mandela e Tutu, por exemplo – e com um passado de crítica afinal já bem antigo, recusaram serem as mãos africanas de Pilatos. Sem dúvida que por agora é apenas condenação. Mas já é um passo importante num processo.
A realidade é que a uma exploração branca sucedeu no Zimbabwe uma exploração preta. Certamente muitos se recordam ainda de um pensamento emblemático do nosso Samora Machel: o explorador não tem raça. Na verdade, a exploração não tem nem raça nem pátria. E se não podemos esquecer o tempo que passou, como diz uma famosa canção nossa da luta, não podemos também esquecer o tempo que passa.
Essas duas situações criaram o quadro maniqueísta e cómodo dos bons (regime de Mugabe) hostilizados pelos maus (Britânicos e aliados), pretos de um lado, brancos do outro. Não é por acaso que uma parte significativa das análises que proliferam no mercado assenta nessa mezinha racializante, politicamente útil e simbolicamente compensadora. E, facto imponente, sempre que se pretende analisar o que hoje se passa no Zimbabwe, os analistas da mezinha logo embarcam para o passado para aí colherem, puro e definitivo, o sofrimento do colonizado e através dele tudo justificarem, tudo explicarem pela vitimização histórica, musculados e intransigentes. É essa, sempre, aliás, a tónica do The Herald.
Acontece, porém, que pouco a pouco, face ao caudal de violência estatal no Zimbabwe, vozes africanas de peso começaram a soltar-se (algumas sempre estiveram soltas) da rede maniqueísta, descolonizaram-se, ganharam a independência (entre nós, aqui em Moçambique, não são poucas as vozes, de várias latitudes, que frontamente têem denunciado o que se passa no Zimbabwe). E começaram a apontar o dedo a um problema real: a violência estatal, a exploração, também podem ser - e são - africanas.
Por outras palavras: essas vozes, algumas delas das mais nobres vozes da história da humanidade – Mandela e Tutu, por exemplo – e com um passado de crítica afinal já bem antigo, recusaram serem as mãos africanas de Pilatos. Sem dúvida que por agora é apenas condenação. Mas já é um passo importante num processo.
A realidade é que a uma exploração branca sucedeu no Zimbabwe uma exploração preta. Certamente muitos se recordam ainda de um pensamento emblemático do nosso Samora Machel: o explorador não tem raça. Na verdade, a exploração não tem nem raça nem pátria. E se não podemos esquecer o tempo que passou, como diz uma famosa canção nossa da luta, não podemos também esquecer o tempo que passa.
Sem comentários:
Enviar um comentário