11 janeiro 2008

Por que não há romances policiais moçambicanos?

O Ricardo, meu correspondente em Paris, quis saber de mim se há romances policiais moçambicanos. A resposta foi, claro, negativa. Mas por que razão não há, quando a criminalidade, a vários níveis, tem grande visibilidade especialmente em meios urbanos como Maputo? E por que razão, em termos do nosso continente, o romance policial parece apenas existir na África do Sul? Alguém tem hipóteses para explicar isto?

9 comentários:

Anónimo disse...

Ainda durante o tempo de universidade fiz( com mais alguns colegas) um estudo no âmbito da cadeira de Métodos de Investigação em Comunicação Social e Estudos de Opinião Pública( arre! que nome comprido)um trabalho sobre que tipo de séries infantis as crianças de uma determinada cidade viam.

Chegámos à conclusão que as crianças vindas de famílias de uma mais elevada posição sócio/económica viam filmes de carácter mais violento e as outras crianças gostavam mais de ver filmes de carácter mais lúdico( tipo disney).

Ora isso levou-nos a esta possível explicação: As crianças mais desfavorecidas e vindas de famílias mais destruturadas, tinham como pão-nosso-de-cada-dia e à sua volta cenas de violência, daí se poderá inferir que era uma forma de dizer:basta!

As outras por sua vez e porque não conheciam os meadros da violência, viam os filmes ditos de "acção"

Estará aqui a razão para não haver Romances policias em Moçambique?

Num país em que a corrupção e a violência aumenta...

Carlos Serra disse...

Não faço a mínima ideia de como responder à pergunta do meu correspondente. E não sei se os resultados do estudo que o leitor menciona são suficientes para contribuir para uma eventual explicação. Há eventualmente muitos factores a ter em conta. Nem sequer intuo quais possam ser os mais relevantes.

Anónimo disse...

Bom, uma explicacao poderia ser que o romance policial eh considerado o tipo de literatura mais dependente da tradicao escrita que existe. Sendo assim, os romances policiais provem dos paises com uma tradicao de escrever romances bem antiga, tipicamente Inglaterra e Franca. Mocambique por outro lado, baseia a sua literatura em grande parte na oratura, querendo dizer nas tradicoes orais. Estas tradicoes(de contos, anecdotas, piadas, cancoes etc)traduzem-se bem para genros literarios como a poesia e os contos, e menos bem para textos 'sinteticos' como tipicamente sao os romances policiais.
O resultado se ve na corrente producao literaria mocambicana, onde domina as colecoes de contos e poemas.

Anónimo disse...

porque não há polícia?

Carlos Serra disse...

Bem, creio que a linha de pensamento que equaciona a dicotomia escrita/oralidade é bem mais promissora do que a anterior. Mas devo confessar que nunca me tnha colocado a pergunta que me foi feita. Entretanto, temos já um romance de ficção científica,da autoria de Carlos dos Santos, publicado há tempos, autor que, tanto quanto julgo saber, tem um segundo livro para publicação.

Anónimo disse...

Por outro lado, o Pepetela da Angola escreveu o que me parece ser 2 romances, ou talvez sejam comedias, policiais, sobre o 'Jaime Bundo'(ainda nao os li). Isso nao disprova portanto o meu fio de pensamento anterior, pelo facto do Pepetela ser herdeiro das duas tradicoes de literatura, a oratura da Angola e a escritura de Portugal.Isso tambem eh um razao da riqueza do pensamento literario deste grande escritor, como o do nosso Mia...
Carlos, se o seu amigo estiver interessado no problema dum ponto de vista literario, proponho que leia o livro 'Orature' do pesquisador Americano Walter Ong.

Anónimo disse...

Eu gostaria de ampliar mais a questão. Na verdade,em Moçambique (pelo menos,não tenho a perspectiva do continente, que é nos termos em que a questão é colocada) predomina o conto (o que é que destingue,exactamente,um conto de um romance?) atroplógico-histórico-político, com pouca imaginação e criatividade e muito mais documentaristas?. Não há, de facto, romances de amor, de espionagem, ambientalistas, e até mesmo humoristas, etc. O que temos são livros com histórias sobre o passado, sobre o colonialismo, sobre as cheias, sobre a guerra, sobre a fome (no pós-independência); ou sobre a poligamia... Não me parece que a dicotomia oralidade-escrita explique isto. Temos escritores que não viveram, não cresceram no contexto dessa oralidade tradicional, mas não escapam,todavia,a esta fronteira temática. Será por não termos uma história escrita (a não ser a pequena história oficial que se ensina nas escolas)? Ou será porque os nossos escritores lêem pouco antes de se porem a escrever e,por isso, têm os horizontes pouco abertos? Para escrever um livro,é preciso ler duas ou três centenas deles,dezenas de outros escritores. Mas sei de pessoas que têm poesia publicada sem nunca terem lido poeta algum (nem os nacionais) e o declaram tranquiulamente! Como há um moçambicano (o Guita Júnior) que tem poemas publicados em livro, e respondeu numa entrevista à Anabela Adrianopolis, que não gosta de poesia!!! Esta afirmação reflecte uma profunda ausência de leitura.

Anónimo disse...

Talvez a hipostese de não haver policia seja valida em parte mas acho que não é suficiente para explicar a ausência de romances policiais Moçambicanos.
Que há preguiça de ler tenho muitas evidencias.

Maxango

Anónimo disse...

Preguica de ler? Diria mais que a maioria da populacao tem pouco accesso a livros, porque livrarias sao escassas e o preco de livros altos. E nao eh preciso ler 200-300 livros para poder escrever nao. Veja so o grande poeta da antiga Grecia, o Homero, compositor do 'Iliada'. Ele era cego e nunca leu um livro na vida! Um dos maiores escritores do nosso continente do seculo XX, o Amos Tutuola da Nigeria, era quase analfabeta. Os dois escreviam na tradicao oral.