05 janeiro 2008

Os doces jogadores de xadrez

"E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele, os parceiros e o xadrez
A sua indiferença." (Ricardo Reis, 1916)

Deixem-me recordar, com algumas pequenas variações, uma postagem colocada em Maio do ano passado: "Acontece-me por vezes ter uma severa inveja de não ser poeta. Todavia, longe de mim a bárbara ideia de atribuir aos poetas a perversa convicção de que os jogadores de xadrez até podem ou podiam ser outras coisas, determinados cientistas sociais por exemplo, determinados atletas do equilíbrio - doces, plácidos, calmos, distantes, cépticos das cristas, dos chatos sobressaltos sociais, estetas do bem, amantes da bela ciência incontaminada pelo senso-comum, analistas en profondeur do esforçado e inglório viver dos peões, sólidos garimpeiros do método e de suas imensas riquezas hermenêuticas. Longe de mim, portanto, a ideia de atribuir tão maligna ideia a Ricardo Reis, um dos Fernandos Pessoas. Porque - quem duvida? - apenas lhe interessaram dois jogadores de xadrez (e seu singular destino) e mais ninguém, como podeis, placidamente, confirmar aqui, neste poema.

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