22 novembro 2007

Joaquim Fumo - entrevista (2) (continua)

Carlos Serra: tem uma obra que deseja publicar. Qual é o conteúdo?
Joaquim Fumo: sim. A obra debruça-se sobre o quotidiano dos Moçambicanos. Analiso o quotidiano que foi banalizado e naturalizado pelo comum dos mortais, mas, também, pelos cientistas sociais que têm por missão problematizá-lo.
Discuto questões ligadas à cidadania que, muitas vezes, por detrás de uma linguagem universal-liberal proferida pelo poder político, oculta uma cultura jurídica cínica que não se preocupa com a garantia dos direitos. Naturalmente que é indispensável nesta análise a avaliação do papel do Estado e das correlativas políticas públicas.
Avalio igualmente os impactos da globalização no nosso país enquanto sociedade periférica do sistema capitalista, os seus bloqueios e possibilidades no cumprimento do contrato social.
A outra vertente da minha reflexão é a intervenção social do sociólogo em Moçambique.

4 comentários:

Bayano Valy disse...

Há uma observação que o Fumo faz, que acho deveras interessante. "Analiso o quotidiano que foi banalizado e naturalizado pelo comum dos mortais, mas, também, pelos cientistas sociais que têm por missão problematizá-lo." Esta última parte parece revelar aquilo que muito de nós pensamos. Dalguma forma os cientistas sociais também parecem contribuir na banalização do quotidiano ao tentarem apenas levantar questões e furtarem-se de participar como cidadãos na procura de soluções.

Dou o exemplo da presente luta contra o HIV. Aqui pode-se pensar e criticar (crítica social) mas ai da pessoa que quiser analizar o problema sob o ponto de vista da moral - quer dizer, pode-se utilizar tantos instrumentos de análise, mas não se pode utilizar a matriz moral. Isso me parece um contra-senso para uma sociedade em que mais de 97% da população é (oficialmente, segundo o censo de 1997) religiosa. É esta atitude que pessoalmente creio ser perigosa, principalmente quando os cientistas sociais nos querem obrigar a pensar e analisar com métodos dos racionalistas do passado milénio. Quando é assim prefiro o 10º ponto do decálogo.

Vou ficar à espera da obra. Bem haja Fumo!

Anónimo disse...

Acho existirem todos os tipos de cientistas sociais, desde os que furtam-se aos que empenham-se na luta contra a "pobreza absoluta". "Estado laico", impoe que para alem de uma moral meramente "religiosa" as solucoes sejam buscadas de entre as melhores, mesmo que derivadas de uma religiosidade ou de elementos de diferentes religiosidades!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Estou confuso! Também se fala aqui de Sida. O Jaime Gama quis ser simpático, suponho. Mas um hipermercado pode facilitar o consumo...
Abraço

Aguiar disse...

Caro Bayano acho o seu comentario deveras interessante, mas gostaria apenas de coloca-lo duas questoes, se me permite, no sentido de clarificar, a mensagem contida em seu comentario. Poderia Caro Bayano dizer-me o que entende por critica social, noutros termos porque é que criticar para si é fazer critica social.

Do seu comentario pressuponho que seja problematico abordar a questao do HIV sob o pto de vista moral. Porquê? Sera que a "matriz moral" nao é criticavel? La esta o que squerera, aqui, dizer crticavel (critica ou critica social)?

outra questao é em torno da racionalodade. poderia Caro Bayano se nao for demais explicar-me o que sao os "metodos racionalistas do passado milenio"?

Como lhe havia dito seu comentario é deveras interessante, mas as questoes em tornos dos dois ptos supracitados, nomeadamente critica (critica social) e da racionalidade deixam o cerne do seu pensamento numa zona "sombria", creio. Aguardo seus pertinentes esclarecimentos.

Ah! outra coisa o cientista social, ao questionar, nao estara, ja, a participar como cidadao, na procura de soluçoes? O questionamento enqto tal, nao sera tbem uma forma de procura de soluçoes? O questionamento nao sera uma manifestaçao do cidadao preocupado com o meio no qual se insere?

Ao prazer de relê-lo, queira aceitar Caro Bayno, as minhas saudaçoes cordiais.