23 novembro 2007

Estudo revela ampliação das desigualdades sociais em Moçambique

O crescimento não é pró-pobres e as desigualdades sociais aumentam em Moçambique - revela um estudo divulgado em Setembro e suportado pelo Brazilian Institute for Applied Economic Research (IPEA) e pelo Bureau for Development Policy (United Nations Development Programme, New York). Leia-o aqui.

10 comentários:

Anónimo disse...

Não conheço nenhum país em que os primeiros passos do seu crescimento económico beneficiaram, principalmente os pobres. Poderíamos resumir esta questão nas seguintes palavras: OS POBRES SÃO OS QUE MENOS BENEFICIAM DO CRESCIMENTO ECONÓMICO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO. CONTUDO, SÂO QUEM SOFRE AS MAIORES CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS DA ESTAGNAÇÃO E DA REGRESSÃO ECONÓMICA>

Em outras palavras, para os pobres, é preferível ganhar pouco com o crescimento económico do que afrontar as consequências da estagnação ou da regressão.

Vejam a lei de Paretto.

Obed L. Khan

AGRY disse...

Não obstante a nova natureza em que repousa a actual revolução tecnológica e científica, a informática e a genética e, por força disso, o aumento gigantesco da produtividade, o desemprego está a “globalizar-se” a uma escala preocupante.
O empobrecimento da classe trabalhadora cresce e, contrariamente a alguns, o desenvolvimento económico não pode cavalgar perpetuamente à custa dos sacrifícios e da exploração dos mesmos de sempre.
Nos países ditos desenvolvidos, o capitalismo atinge e sobrevive, em primeiro lugar, dos rendimentos da classe trabalhadora. Eles gastam todo, ou quase todo, o seu rendimento em bens de consumo.
Em contrapartida, a classe capitalista e seus parceiros, gasta uma percentagem muito menor dos seus rendimentos em bens de consumo pessoal. A maior parte dos rendimentos dos capitalistas ( que incorpora mais valias retiradas ao rendimento de quem produz) é encaminhado para o investimento.
Isto pode sugerir o porreirismo dos detentores do capital. Ao invés, estamos na presença de uma apropriação exploradora que reverte para uma classe cada vez mais parisitária e que construiu à sua volta um círculo de
bons rapazes predispostos a erguerem a bandeira do “dividir-para-reinar”, cravando um espinho na garganta dos restantes trabalhadores
O mundo, segundo Samir Amin, poderia trabalhar como num manual, mas não é o que acontece.

Anónimo disse...

O que Agry diz, citando Samir Amin, parece fazer sentido e é o desejável em termos de sonho utópico. Só que nunca se fez. Nenhum país cresceu economicamente seguindo esse padrão.

Querer que os marginalizados, os doentes, os que vivem em zonas remotas, os pobres, lucrem do crescimento económico como os outros parece-me ser uma equuação que não fecha.

É desejável mas aparentemente impraticável. Creio que o estudo de Paretto, baseado em observação empírica, explica porquê.

Obed L. Khan

AGRY disse...

Não posso estar de acordo com o Obed quando afirma que nenhum país cresceu economicamente seguindo esse padrão.
Meu caro amigo, não vamos esconder o sol com a peneira. Estamos perante dados objectivos e, como é vulgar dizer-se, de óculos verdes ou azuis a realidade está lá. O que pode mudar, é-nos dado pela cor das lentes. A mesma realidade é observada com olhares diferentes. É isso
Tal como acontece nos impostos directos, nos chamados impostos de consumo, a grande massa de consumidores e ,portanto, de pagadores deste tipo de impostos não será certamente a classe capitalista.
A questão nuclear reporta-nos para a ampliação das desigualdades. Não será certamente, no quadro de relações sociais de exploração que se combatem as assimetrias.
A utopia deve fazer parte das nossas vidas.

AGRY disse...

Uma pequena rectificação: onde está impostos directos, deve ler-se indirectos.
Há, também, um pequeno pormenor que me escapou e que é referido por Obed L. Khan : refiro-me ao igualitarismo por si apontado. Desculpe, não me atribua coisas que eu não escrevi. Nem os marxistas ortodoxos produzem tais afirmações, como sabe

Anónimo disse...

Oi Agry, eu vivi num país socialista (Cuba) que conseguiu crescer seguindo o padrão que preconiza. Só que os custos em termos de liberdade política para a cidadania são extremamente elevados. É por isso que esse tipo de solução acaba por colapsar cedo ou tarde. Era a isso que me referia quando dizia que a equação não fecha.

Não conheço nenhum país em que o crescimento económico de nações subdesenvolvidas beneficiou os pobres da mesma forma que os ricos.

Não estou a falar de igualitarismo Agry. Estou a falar das críticas sem fundamento contra o surgimento das desigualdades sociais. A experiência empírica demonstra que elas são inevitáveis. O que estou a tentar dizer é que o Estudo de Paretto não foi (ainda) desafiado com sucesso. Nem por Samir Amin.

Obed L. Khan

AGRY disse...

Porquê Pareto? Porque não Keynes, Schumpeter e os nobelados americanos como, por exemplo, Paul Samuelson que ainda hoje é estudado em universidades de grande prestigio um pouco por toda a Europa?
Samir Amin, István Meszáros, por exemplo, são, como aqueles, intelectuais de grande prestígio mas situados em margens diferentes do combate ideológico.
Nas suas palavras deixa escapar uma pequena confissão. Nelas está implícito que, no caso de Cuba, quando refere os “custos em termos de liberdade politica” . Não sei se já teve oportunidade de ver o documentário de Michael Moore – Sicko Recomendo-o. Nele, Moore, desnuda e ridiculariza o sistema de saúde americano e demonstra as grandes diferenças que o separam do seu congénere cubano.
Mas restringindo-nos às desigualdades, talvez seja de bom tom reconhecer-se que não é nos países de capitalismo musculado que se conseguiu diminuir o fosso das desigualdades
Mas esta discussão é vasta e não há síntese que resista.
Tomo a liberdade de sugerir ao Prof. Carlos Serra que se decida por marcar por um qualquer dia por semana a discussão de um determinado tema e, previamente, nos informe as questões em concreto a debater. Talvez fosse interessante

Anónimo disse...

Oi Agry. À medida que uma economia capitalista se consolida, as desigualdades sociais vão se tornando mais manejáveis. As grandes disparidades sociais que se notam em países como a India, o Brasil, a Russia ou Moçambique não são comparáveis àquelas que caracterizam países como EUA, Inglaterra, Suécia ou Dinamarca.

Se reparar, há-de notar que entre os países capitalistas desenvolvidos inclui 4 com orientação social diferente. Só que este facto não invalida a realidade de que em todos eles as desigualdades sejam menos marcantes que nos países em desenvolvimento.

De resto concordo com a sugestão que faz ao Professor Serra.

Obed L. Khan

AGRY disse...

Oi, desta vez estava mais ou menos próximo. Por agora vou ficar por aqui

Nas sociedades mais desenvolvidas, há que não perder de vista a luta politica desenvolvida quer pelos partidos quer pelos sindicatos, os quais têm conseguido suster o ímpeto do grande capital.
Também aqui, está presente o nível de desenvolvimento das relações de produção e, implicitamente, da apropriação das suas condições de existência.
A sobrevivência e a reprodução das relações de produção burguesas, o domínio técnico da produção são factores que acompanham o desenvolvimento das forças produtivas. Não se pode enxertar numa sociedade feudal, tribal ou qualquer outra pouca desenvolvida economicamente, as mesmas técnicas e os mesmos índices de eficácia.

Anónimo disse...

Professor Carlos Serra, se me permite gostaria, no âmbito da sugestão de Agry, de lhe sugerir alguns temas para debate:

(1) O que é que o país pode fazer para impedir que o processo de investimento privado em curso (nacional e estrangeiro) leve à perda das terras por parte dos camponeses?

(2) Existe alguma maneira de que os recursos minerais (e eventualmente os petrolíferos) se constituam em factores de surgimento e consolidação de uma classe de proprietários (e trabalhadores) moçambicanos? Como impedir que só estrangeiros tirem proveito das nossas riquezas do subsolo?

Claro que o Professor pode reformular as perguntas. Tanto pode coloca-las para debate em conjunto, como pode coloca-las separadamente.

Estes pontos me surgem porque nós, neste blog e em outros foruns, nossas discussões concentram-se no acessório. Estamos mais preocupados com as instituições, as leis, as mudanças de governo, do que com as relações de propriedade, por exemplo.

A posse da terra, o controle dos recursos minerais e petrolíferos vai determinar como o que hoje primordialmente nos ocupa, há-de funcionar no futuro.

Corremos o risco de que as nossas leis, as nossas instituições, os nossos governos venham, cada vez mais, a ser condicionados por poderes estrangeiros.

Este espaço demonstrou que o país já possui uma massa crítica de sociólogos, juristas, economistas, demógrafos, geólogos... que permitiriam esmiuçar de uma maneira multidisciplinar estes assuntos. Por exemplo, poderíamos pegar a lei mineira (existe?) ou a lei dos petróleos (existe?) e tentar ver se está desenhada de moldes a defender os interesses da nossa terra e das suas gentes.

Obed L. Khan