01 novembro 2007

As rosas de Simão

O "O Paísonline" reportou ontem que a Inspecção Geral do Trabalho foi impedida de entrar no dia 29 numa empresa de exploração de flores localizada no distrito de Moamba, província de Maputo, "para se inteirar de alegados maus tratos a que os trabalhadores daquela empresa dizem estar sujeitos."
Não se tratava nem se trata de uma empresa chinesa daquelas que aparecem nos nossos jornais associadas a maus tratos infligidos aos trabalhadores moçambicanos. De que empresa então se tratava e trata?
O "Notícias" de hoje conta que se trata de uma empresa produtora de rosas. Quem não gosta de rosas? E apurou o seguinte: as condições laborais irão melhorar futuramente pois a empresa precisava primeiro de arrancar e só mais tarde de tratar das condições de trabalho. Primeiro era necessário montar as estufas e só depois tratar das casas e das condições de trabalho dos trabalhadores moçambicanos. E os trabalhadores estrangeiros, esses estavam bem, sem problemas? Sim, estavam. E estão. Então, quem afirmou isso, quem deu contou essa doce e dialéctica história aromática? Foi um empresário chinês, malaico, português? Não, foi Leonardo Simão, Moçambicano, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, director executivo da Fundação Joaquim Chissano (portanto, do ex-presidente da República) e agora à frente da empresa Golden Roses, vocacionada para produzir e exportar rosas. O ex-ministro disse que a Inspecção Geral do Trabalho não devia ter sido "prepotente".

14 comentários:

Anónimo disse...

No comment!

Carlos Serra disse...

Pois claro. O "Zambeze"de hoje tem o seguinte título: "Leonardo Simão e esposa "escravizam" moçambicanos".

Anónimo disse...

Agora que o gato mostrou a cauda, como ficara o processo de penalizacao do MITRAB por desobidiencia a Lei.

Em parte ha que louvar esta atitude do MITRAB em fazer a inspeccao.

OH Simaozinho...nem devias estar a frente da Fundacao de um Home com Chissano. Demita-te para que mostres que as tuas atitutdes nao sao compativeis com a fundacao.

Anónimo disse...

Patrão é Patrão.

Carlos Serra disse...

Assim nos ensina o abençoado Mc Roger!

Anónimo disse...

Não resisti a copiar o comentário abaixo, de Ulisses Adirt, na postagem sobre o Queface, pelas razões seguintes:
1. Curiosamente Charles Clements é médico e missionário, como Leonardo Simão: médico de profissão e, – como tive oportunidade de ver há anos, lá para os lados de Morrumbala – “missionário”, pregador da justiça social, nas campanhas eleitorais do seu partido.
2. São muitos os compatriotas que fazem “jogging” pelas ruas de Maputo acompanhados de seguranças e impressionantes “caninos” das mais sofisticadas raças e aparentando principesco tratamento… que provavelmente não é será dado aos seus empregados domésticos.
FM
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ULISSES ADIRT, disse...
"Charles Clements, médico e missionário quaker norte-americano, visitou El Salvador no começo da década de 80, durante a Guerra Civil. (...) Ao fazer sua pregação anti-violência aos guerrilheiros comunistas, eis o que Clements ouviu de um deles:

You gringos are always worried about violence done with machine guns and machetes. But there is another kind of violence that you should be aware of, too. I used to work on a hacienda. My job was to take care of the dueño’s dogs. I gave them meat and bowls of milk, food that I couldn’t give my own family. When the dogs were sick, I took them to the veterinarian. When my children were sick, the dueño gave me his sympathy, but no medicine as they died."
(Transcrição parcial do comentário
Encontrei esse texto, com a citação e tudo aqui (http://liberallibertariolibertino.blogspot.com/2007/10/violncia.html)
Achei q iria encaixar direitinho.
31/10/07 11:07 PM
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Anónimo disse...

Ao discutir o LEONARDO SIMÃO disvirtuamos o essencial que são as condições que aqueles trabalhadores estão votados.

Apoio e apoiarei sempre a acção da inspecção em prol da defesa da legalidade seja esta praticada por trabalhadores seja pelos patrões.

Doa a quem doer a lei terá que ser cumprida. Espero que a sociedade não se acovarde e se cale perante MAIS esta injustiça e deixe aqueles nossos compatriotas a mERCE de um individuo para que o dinheiro INVESTIDO é mais importande do que o HOMEM que o recuperará com seu suor, ganhando o salário mínimo da AGRICULTURA.

MArtin de Sousa

Carlos Serra disse...

Ainda não se fez, no país, um estudo sobre as condições em que trabalham operários agrícolas, operários industriais e empregados domésticos. Mas de uma coisa estou certo, até em função do meu trabalho como estudante do social: após a independência, de muita coisa ainda não somos independentes.

Sir Baba Sharubu disse...

For readers interested in the flower industry I would like to recommend a couple of studies:
1. "Ecuador:Child labour in flower plantations"(2000). By C Castelnuovo et al. >> www.ilo.org 2. "Employment and working conditions in the Ecuadorian flower industry"(1999). By Z and C Palan. >> www.ilo.org

Carlos Serra disse...

Two usuful studies indeed, many thanks!

Anónimo disse...

> Trinta anos depois - a cena repete-se!!
> Logo após a independência nacional, foram largamente noticiadas na revista Tempo, com reportagens profusamente ilustradas, as condições em que trabalhavam centenas de crianças no distrito da Moamba, em extensas plantações de plantas medicinais para exportação: a Vinca Rosea, vulgarmente chamada por "beijos de mulata", muito usada entre nós para combate á diabetes e outras mazelas.
> As plantas eram colhidas inteiras e as crianças utilizadas para separar (cortar) a raíz, o caule e as folhas, pois têm teores de alcalóides diferentes, logo diferente valor comercial.
> A plantação, qualquer coisa como 300 hectares, acabou.
> Concordo como Martin de Sousa, não importa pessoalizar - embora entenda que pessoas como LS tenham responsabilidades acrescidas pelo percurso de vida.
> Mas, fundamentalmente, que se exija o cumprimento da Lei, independentemente do percurso de vida.
Florêncio

Carlos Serra disse...

Estudei relativamente bem a história colonial a partir de 1957 e, em especial, a da Zambézia. A formação da Frelimo provocou no Estado colonial em Moçambique uma tentativa de modernização acelerada do colonialismo, uma espécie de colonialismo mais doce, melhor "alimentado". Dediquei bastante tempo a estudar as modificações ocorridas nas inspecções laborais, nas dietas alimentares, na assistência médica, nos programas de recreação, etc. As rações alimentares começaram a ser doseadas em função de equilíbrios calóricos (estudei centenas delas). Por outras palavras, a luta de libertação nacional desencadeou todo um programa de "portugalização" no que chamei, um dia, gestão dos corpos colonizados (como obter deles maior rendimento laboral? Como os disciplinar? Como os tornar obedientes, agradecidos?). Estudei tb as sanções disciplinares contra administradores e chefes de posto. Tínhamos, então, um Estado interventor, Estado-capataz, vigiando em permanência o Capital em função de uma tecnologia política do corpo, do corpo colonizado. Hoje, claro, o tempo é bem diferente. Mas mantenho sempre acesa uma preocupação: a forma ou as formas por que os trabalhadores são tratados. Hoje, a tónica estatal assenta exclusivamente no mínimo salarial. E mais nada. Corrijam-me se estiver enganado.

Anónimo disse...

 Pobreza estrutural, alimentada pelo Estado:
1º Tanto o salário mínimo nacional como o salário médio do Aparelho de Estado (professores, enfermeiros, polícias, etc) não assegura um nível de bem-estar condigno: os trabalhadores abrangidos por estes níveis salariais apenas sobrevivem, muitas vezes forçados a recorrer a “esquemas”.
2º Não há um sistema de segurança social que assegure sequer a sobrevivência de idosos, doentes, desempregados.
 No mundo global em que vivemos, não é luxo o ACESSO á habitação condigna, á electricidade, ao abastecimento de água, ao saneamento, ao celular, ao rádio e televisão, ao computador para o estudante secundário, universitário, técnicos médios e licenciados.
 Com a progressiva degradação dos níveis de bens estar continuaremos a assistir à degradação das infra-estruturas, particularmente nos meios urbanos, e incremento das diferentes formas de criminalidade.
 A pobreza estrutural combate-se com políticas económicas e sociais realistas, e muita, muita austeridade e racionalidade na utilização dos recursos disponíveis.
Florêncio

Carlos Serra disse...

Quantos de nós estão dispostos a ver as coisas por esse prima, Florêncio? Quantos de nós estão dispostos a sacrificar as velhas respostas em favor de novas perguntas? Quantos de nós estão dispostos a pensar numa sociedade mais justa, mais solidária?