É possível considerar dois tipos de resistência: as imediatas e as de futuro.
Nas primeiras não é o “inimigo número 1” o visado, mas o inimigo imediato, aquele que está mais próximo, à mão. Os resistentes imediatos não pensam que a solução dos seus problemas possa estar num futuro qualquer (do tipo luta de libertação nacional, revolução, etc.).
Ao contrário, nas lutas de futuro, de longo curso, o que está em causa não é a solução imediata de qualquer problema premente, mas uma coisa bem mais ambiciosa: mudar os fundamentos da sociedade. Isso exige lutadores de uma espécie bem diferente.
Os primeiros vivem das oportunidades de circunstância, de forma biscateira, ao sabor do instante, da fugacidade do golpe, sem controlo do presente e, portanto, sem visão do futuro; os segundos controlam o presente, organizam o futuro por etapas, com rigor, com disciplina; se os primeiros vivem a táctica da circunstância, os segundos empenham-se na estratégia calculada do futuro; os primeiros são o reino da emoção, os segundos, o reino da matemática.
Quando o fosso existente entre as expectativas sociais (satisfação adiada de certas necessidades) e a realidade vivida (satisfação real dessas necessidades) se mostra severo, de uma margem de frustração intolerável, está-se, então, diante de uma potencial erosão da legitimidade do Estado e de condições para uma refutação passiva ou activa da assimetria social existente.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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