Nos dumba-nengues muitas mulheres, rostos precocemente envelhecidos, com crianças de colo, à torreira do sol, lutam para garantir alimento e assegurar a compra de cadernos escolares para os filhos mais velhos. Como esta vendedora de cacana[1] e de mathapa[2] no Xiquelene, cidade de Maputo:
"O senhor pergunta se sei algo sobre a pobreza? Não vê que eu represento a pobreza? Acha que se fosse rica estaria aqui a queimar com o sol, com a minha filha que durante o dia de hoje apenas comeu uma fatia de pão?"[3]
[1] Molho à base de uma planta muito amarga da família das cucurbitáceas e de amendoim.
[2] Esparregado de folhas de mandioca, de abóbora ou doutras plantas, misturado com amendoim (no Sul) ou com coco (no Norte).
[3] Extraído do diário de campo de um dos meus assistentes, 2002.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
1 comentário:
Carlos
Primeiro agradeço-te por este blog
que certamente está servindo para abrir os olhos e passar conhecimento a muitos.
Todos os dias, ao chegar ao trabalho, a primeira coisa que tenho feito, é acessá-lo e, no decorrer do dia acompanho os temas, de acordo com o tempo disponível.
O tema de hoje em especial me tocou,tenho acompanhado isso de perto, através de um trabalho que vimos realizando com os moradores de rua aqui do centro de S.Paulo.
Parabéns pela abordagem.
Dórica
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