Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
18 abril 2006
Os projectistas a-todo-o-terreno
Falo do surgimento de uma fauna especial de "investigadores instrumentais" cada vez mais irradiante e que compete com os reais cientistas existentes nas nossas universidades. Refiro-me ao que chamo "projectistas a todo-o-terreno", os burocratas A4 da ciência, os mangas-de-alpaca da euforia neo-liberal. O que são projectistas a todo-o-terreno? São aqueles que investigam, petisqueiramente, coisas de todos os tipos (desde os problemas do género ao género dos problemas, desde as barbatanas às etnias, desde os meninos de rua (que muitos choram, mas poucos adoptam ou protegem) aos chefes sempre tradicionais, desde a democracia em salas climatizadas ao meio ambiente fora dele) para sobreviver ou para "oportunizar". Têm tudo muito bem organizado e asseptizado: o computador, a pasta de arquivo, a bagagem de juízos de valor (de que maneira confundem o que existe com o que julgam que deve existir…), o texto de apoio, o "sumário executivo", a bibliografia, o "workshop" final numa sala de luxo à la Polana com muitos convidados engravatados, etc. Tornaram-se especialistas de relatórios, de ditos "bien", de verdades de almanaque, de hipóteses que já foram provadas antes de começar a investigação. Na sua caixa de ferramentas entra de tudo um pouco, afinal. Com "financiamento" tudo se pode investigar e tudo se pode acobertar no doce manto da ciência. Quando não há financiamento, não há projectos e não há, claro, "investigação". Não estou contra os projectos, nem contra os financiamentos. Eles são necessários. Ponho em causa, sim, o perfil galopante do projectista a-todo-o-terreno, enfatuado e medíocre, que faz passar por ciência o seu relatório, a sua indigência e os seus prejuízos.
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1 comentário:
O problema é, naturalmente complexo. Todavia, a pesquisa nativa, funcionando em termos das agendas dos pesquisadores ou dos colectivos de pesquisadores, está generalizadamente agonizante. Para conhecer os perfis e as causas, recomendo-lhe que leia: Ministère des Affaires Étrangères (France)/Roland Waast, “The state of science in Africa”.April 2002 (edição bilingue também em francês).
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