Creio que foi na transição de 1974 para 1975 ou, mesmo, em 1975, não estou certo.
Mas estou certo de que aconteceu.
Entre as várias frentes da revolução nascente então, surgiu a campanha anti-mosca. E lá, naquele liceu deste país onde eu era professor de História, foi dada a palavra de ordem por zelosos revolucionários: é preciso matar moscas.
E todo o mundo se pôs a matar moscas, esse flagelo contra-revolucionário. Houve, recordo-me bem, estudantes que bateram recordes.
Eu não matei moscas, mas a minha memória diz-me que fui profundamente hostil às burguesas moscas de então.
Fantástica esta inflação dos sentimentos nos momentos de nervosismo colectivo, para usar palavras de Georg Simmel.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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