19 abril 2006

Determinismo ou liberdade: o drama dos sociólogos

Uma forma de fazer a hermenêutica do social em acto consiste em tomar os seus actores por meros executores dos determinismos sociais. Aqui, os actores não agem: disquetes formatadas, são cegamente teleguiados pelo leviatão que é a sociedade. Esta concepção tem um peso enorme em África: os Africanos mais não são, de acordo com muitas teses, do que exercícios homeostáticos de formatações implacáveis, quase genéticas, executadas pelas tradições, pelos espíritos, pelas etnias e pelas famílias.

Uma segunda modalidade hermenêutica consiste, pelo contrário, em ver o social como uma soma de jogos entre actores livres. Aqui, estes agem fazendo a sociedade marchar consoante a lógica, os arbítrios e os sonhos dos seus egos.

Num caso é-se pensado, é-se corpo; no outro, pensa-se, é-se sujeito.

Essas duas teorias do social-rolo-compressor e do eu cartesiano dividem, hoje ainda, os cientistas sociais, como se a sociedade pudesse ser uma coisa e o indivíduo outra, como se ali houvesse servidão e aqui liberdade.

Mas não só: temos, ao nível das técnicas, um mesmo tipo de conflito, com duas teorias em presença, as quais são, afinal, produtos consequentes das duas hermenêuticas apresentadas.

Assim, há quem transforme o questionário na chave do comportamento humano: variáveis, amostra, números e análise factorial são as baterias pelas quais se pensa que as médias e as divergências tudo explicam. Esta é uma técnica típica do social-rolo-compressor e da busca do que é objectivo. Em Moçambique ela é cada vez mais abundante, especialmente quando se trata de traduzir a pobreza em números, evacuada das relações sociais concretas.

Por outro lado, temos os defensores do que é subjectivo, para quem certas técnicas são destinadas a mostrar a irredutibilidade do comportamento humano. Esta é a técnica específica do ego cartesiano.

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