Se fizermos a alguém uma pergunta do género “O que é isto”, é evidente que ele responderá dizendo “Isto é uma coisa que…”
O estado do fenómeno, não importa qual, fica para sempre congelado dentro dessa maliciosa terceira pessoa do presente do indicativo. Como fica em qualquer das pessoas do tempo.
Bem mais difícil, porque, afinal, fere o nosso belo senso comum, é perguntarmos “o que isto está a ser?” e, correlatamente, respondermos no mesmo contexto.
A questão desta flexão composta remete para o movimento, mas a nossa tendência está em suspendê-lo, em embalsamá-lo num estado cognitivo mais compreensível, mais natural para nós.
Os sapatos que ontem comprei são os mesmos que hoje uso? Quem estará preocupado em saber que os sapatos são mais velhos hoje, se os sapatos que comprei são…exactamente os que ontem comprei?Acontece que muitos sociólogos gostam do presente do indicativo. Um exemplo está na bateria das perguntas dos questionários. Esses colegas ficam profundamente felizes e sem úlceras gástricas quando congelam as pessoas nas respostas, traçam perfis identitários e comportamentais e se esquecem de que as pessoas vivem e mudam mesmo quando não parece.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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