29 abril 2006

O duplo constrangimento

Todos os anos a nossa imprensa dá conta da pressão popular para que mais escolas de todo o tipo sejam construídas.
As escolas estão apinhadas, uma grande parte delas não tem carteiras, muitos professores queixam-se quer de receber os seus ordenados tardiamente quer pura e simplesmente de os não receber porque foram roubados, como reconheceu há dias, agastado, o governador da Zambézia.
Está o Estado confrontado com um duplo constrangimento: se constrói mais escolas sujeita-se a não ter professores ou a tê-los mal preparados ou a tê-los sem ordenados, fora todo um outro conjunto de constrangimentos. Vê-se bem, então, o perfil de saída dos alunos assim “preparados” (um recente estudo mostrou uma generalizada corrupção ao nível do professorado); se não constrói escolas, sujeita-se à crítica popular e coloca o partido que o gere em risco de défice de apoio nos períodos eleitorais. Segundo dados do Ministério da Educação, neste momento há um milhão de crianças sem acesso à rede escolar.

2 comentários:

F. Ribeiro disse...

E esperemos para ver o que se vai passar com a expansão do ensino bilingue, nos moldes em que está proposto, à escala nacional. Como já tive oportunidade de dizer noutras ocasiões, quer-me parecer que na educação pública em Moçambique, no que diz respeito a qualidade e sustentabilidade do sistema, estamos a caminhar conscientemente para o caos. Para bem de todos nós espero vir a reconhecer que estava enganada.

Carlos Serra disse...

Partilho do seu receio, Fátima.