Quando se entra num dumba, quatro fenómenos chamam imediatamente a atenção: o ruído plural, o movimento desusado, o pregão dos vendedores "patrão compra aqui, faz bassela![1]" ou "compra patrão, bom preço!" ou "compra mano[2], preço de promoção!" e a subversão completa dos hábitos que temos de gestão espacial:
"Um ciclista vem da direcção dos Bombeiros, nem sequer sabe que está dentro dum mercado, vem a toda a velocidade, uma senhora que leva um cesto de alface e tem um bebé no colo anda sem dar conta de que um ciclista vem a todo o vapor, ela grita "Compra al-fa-ce!!!!!!", o ciclista chega e quase que apanha o pé da senhora, a bacia caiu e a senhora segurou o seu bebé e o ciclista caiu e apressado levantou-se, pegou na bicicleta e queria fugir, nem desculpas à senhora nem nada, mas à frente vinha um polícia que pegou na bicicleta e deu porrada na cara do ciclista e todo o mercado gritou "He! He! He!, Toma, dá-lhe mais!", o ciclista recebeu mais três porradas e foi levado para a esquadra."[3]
[1] Significa desconto em língua Chironga, na cidade de Maputo.
[2] Mano (diminutivo de irmão) e primo são dois termos muito frequentes nos dumbas, ao lado de pai/mãe, papá/mamã, tio/tia e patrão. O termo patrão não é só utilizado para os estrangeiros: um assistente meu, o Victor Matsinhe, por exemplo, foi rotulado de patrão quando quis conversar com os condutores de tchovas.
[3] Fátima Coleti. Mantive o estilo de escrita da minha colega.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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