A vida nos dumba-nuengues é sempre um ponto de interrogação. Haverá ganho suficiente para se comer à noite? E no dia seguinte?
Pelo sim pelo não previnamo-nos a todos os níveis contra o azar.
Assim, os vendedores munem-se de todas as protecções mágicas que estejam ao seu alcance e com elas procuram atrair clientes, evitar o mau olhado e curar as diarreias e as febres dos filhos menores, depois que as compraram nas "farmácias tradicionais" dos dumbas.
No bairro Belenenses/Naloco de Nampula, por exemplo, a pequena loja local de mezinhas vende lucamo (de olucama, que significa na língua Emakhwua "venha aqui onde estou"), um produto muito procurado pelas mulheres e destinado a atrair os clientes.
Chegam a gerar-se autênticas batalhas de macas, mezinhas e suspeitas, com as vendedoras acusando-se reciprocamente de roubo de clientela ou, por exemplo, de fazer apodrecer o peixe à venda. Cada produto, cada banca, cada pano, está especialmente blindado (mas o corpo também: diz-se, na Beira, "fechar [magicamente] o corpo" e, em Nampula, "tomar banho") para conjurar as forças concorrenciais do mal.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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