30 janeiro 2008

Suspeita de tráfico: interceptado no Inchope camião com 40 crianças vindas de Nampula

Em primeira mão na blogosfera: um camião com 40 crianças de idades entre os sete e os 11 anos, vindas de Nampula, foi ontem interceptado pela polícia no Inchope. O condutor afirmou que as crianças vinham a coberto de autorização dos pais e que se destinavam a Maputo, onde iriam frequentar cursos de liderança religiosa. A polícia afirmou que isso é falso e que não era a primeira vez que ele carregava crianças. Ouvidas algumas crianças, estas afirmaram que tinham sido enganadas. Neste momento, as crianças estão no Infantário Provincial de Chimoio, a cargo dos serviços de Saúde e da Acção Social - informação telefónica prestava pela jornalista Isaura Afonso, da Rádio Moçambique em Chimoio, a quem agradeço a gentileza. Conto dar mais pormenores amanhã. O meu agradecimento especial ao Miguel César que me alertou, telefonicamente também, para o caso.
Recordo que tratei o tema do tráfico num livro (capa na imagem), cujo resumo foi este: "O tráfico de menores é uma realidade em Moçambique, confirmado pela imprensa, por estudos de casos e por percepções populares, dando origem a uma grande preocupação social. Tatá papá, tatá mamã é como ele é, regra geral, identificado nos bairros periféricos de Maputo. O tráfico laboral e sexual para a África do Sul e o tráfico para extracção de órgãos são as duas modalidades mais visíveis. Bem menos visível é o tráfico laboral infantil, num país onde existem quatro milhões de crianças e de adolescentes em situação de fragilidade social. O exemplo de 35 crianças traficadas em 2005 na província de Manica para serem vendidas em farmas locais a 100 mil meticais cada uma é profundamente trágico. Vulnerabilidades sociais e institucionais facilitam e ampliam o tráfico. Várias medidas são necessárias, entre as quais a actualização do Código Penal (datado de 1876) e o imperativo de prever expressa e directamente o crime de tráfico."
Comentário: é muito difícil aceitar que pais dêem autorização a filhos de sete a onze anos para saírem de Nampula e irem para Maputo frequentar cursos de liderança religiosa.
Adenda a 31/01/07: leia um relato mais desenvolvido no "Notícias" aqui.

13 comentários:

Ivone Soares disse...

Ilustre parece que temos que andar todos muito atentos, o cidadão Hamade que escapou de uma morte certafora achado quando saia de uma dessas casas que exibem filmes e foi vendado os olhos. Quando deu por si, segundo relatos, estava no tal acampamento que abordo no meu POLITICANDO.
A LDH está averiguando estes casos que atentam contra os DH.
Um abraço,
Ivone

Carlos Serra disse...

Este caso das crianças é preocupante.

Helena Antunes disse...

Hoje, precisamente, falei do tráfico de crianças no meu blogue.

Leia este artigo:
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=316207

Carlos Serra disse...

Sim, Helena, obrigado, deixei postagem alusiva no seu blogue!Estudeo o tema aqui no país. Índico abraço!

Anónimo disse...

Também não me parece razoavel que pais autorizem filhos com idades menores para virem a Maputo frequentar cursos de liderança relegiosa em instituição não identificada (Pelo menos é o que as noticias dão a entender)

Acho que é momento para se questionar para onde vão as crinças quem são os mandantes destes crimes barbaros.

Tenho sede da pena de morte.

Maxango

Anónimo disse...

Creio que seria importante referir que essas crianças, ao que tudo indica, não estavam a ser transportadas para a escravatura ou para a extração de órgãos humanos.

Segundo o Semanário SAVANA de hoje, esses petizes estavam a ser levados para escolas de estudos coránicos, uma das quis dirigida pelo conhecido teólogo islámico Sheik Aminudin.

Obed L. Khan

Bayano Valy disse...

acho eu que as crianças foram autorizadas pelos seus pais para viajarem. acho também que o fizeram na esperança de que vinhamm à maputo (e tete) para frequentar um curso de estudos islâmicos. esta é uma situação normal. se fordes às escolas islâmicas em maputo [com excepção da comunidade mahomentana (sic)] hão-de ver de certeza que grande parte das crianças são do norte. penso que a razão pela qual os pais autorizam aos seus filhos se prende com a pobreza (vou acrescentar pobreza espiritual). veem nas escolas islâmicas um meio para se verem livres de certas despesas.

tenho um problema com a modalidade de se ir buscar crianças nas províncias nortenhas. primeiro, quero referir-me ao facto de que essas escolas só podem existir se tiverem petizes a estudar (é que os doadores querem ter provas de que se está a ensinar alguma coisa). o meu grande problema se prende com o facto de que esses meninos não estudam outra coisa senão o alcorão e hadices. não têm outro tipo de educação, o que acaba contribuindo no baixo nível de instrução do líderes religiosos islâmicos.

ps: as condições em que as crianças viajavam (por mais nobre seja a intenção de ensinar as crianças) são desumanas.

Nelson disse...

Creio que seria igualmente importante referir que essas crianças não "ao que tudo indica" mas de facto, estavam sendo transportados em camião oque me deixa sem dificuldades de imaginar em que condições estavam viajando.
Estarem a "ser levados para escolas de estudos alcorânico" não justifica serem amontoados num camião como se de sacos se tratasse.Podiam estar a ser levada para a lua, para o paraíso, ou sei lá onde mas com o mínimo de dignidade reservado à seres humanos e menores em particular.
Conheço(no mais vasto senti do da palavra) e respeito o Sheik Aminudin. Leio assiduamente o seu "Almadina" no Zambeze e pelo quadro que lhe pintei apartir do que escreve, não lhe vejo advogando tratamentos como a que esses menores foram submetidos usando como "escudo" escolas de estudos alcorânico. Que os garotos fossem colocados em autocarros.
Embora se acredite que tenha havido consentimento dos pais, no entanto sabemos nós que o consentimento das próprias crianças não houve. Ninguém deve ter pedido a opinião deles , ninguém quis saber se queriam seguir estudos alcorânico ou jornalismo. Ninguém lhes deu opção. Talvés eu esteja até a misturar as coisas mas no islão é muitas vezes assim.

Carlos Serra disse...

Tem razão no que concerne ao transporte de crianças como se gado fosse. Saiba, entretanto, que o Sheik Aminudin afirmou não ter conhecimento do caso.

Anónimo disse...

Escolas biblicas, madrassas e de outras vocacoes existem aos milhares neste vasto Moçambique. Creio eu que esta a haver uma intençao deliberada para atingir certas pessoas e/ou religioes. Ate agora nao veio ninguem dizer que as 40 criancas foram tiradas da escola para cursarem estudos religiosos. O governo nao pode deixar de fora milhares de criancas no seu sistema nacional de educacao e depois querer criticar aqueles que de uma ou de outra forma encaminham essas criancas para algum rumo. He demasiado populista a atitude do governo que nunca se preocupou com a sorte das criancas que nao conseguem lugar nas escolas publicas e de repente tem onde acomodar de uma so vez, 40 criancas, consegue-lhes dar refeicoes abastadas e ainda compra roupa... ha, ja me essquecia (o povo tem memoria curta) estamos a caminho de eleicoes...

Anónimo disse...

Também gostamos de emergências. Se de repente Moçambique se transformasse num foco de trâfico de crianças era, realmente, um paraiso para alguns: ONG's iam obter facilmente financiamentos externos para lutar contra o mal, tínhamos matéria fácil para artigos e discursos inflamados. Que sei eu?

Deve ter sido uma desilusão saber que as crianças não estavam para ser vendidas ou subtraidos alguns dos seus órgãos

Anónimo disse...

O fenómeno do tráfico de crianças ou de seres humanos, a acontecer, confirmaria, também, alguns "estudos" de ONGs e outras entidades

Bayano Valy disse...

caro zacarias,
não desvie o debate. o debate não é sobre o que fazer das crianças que ficam fora do sistema, mas sim sobre as condições desumanas em que viajavam. eu próprio sou muçulmano, mas de forma alguma posso tolerar tais actos. é que não podemos sempre recorrermo-nos ao argumento de que a culpa é dos outros quando a culpa é nossa. já viu qual é o nível de organização das escolas islâmicas? como é que os ilustres maulanas aceitam a vinda dessas crianças sem antes saberem das condições de transporte? (não é a primeira vez que isso acontece e como o próprio sheikh aminuddin confirmou já teve que socorrer o tipo que vinha com as crianças antes). porquê é que se insiste em não oferecerem ensino secular até à 12ª classe aos petizes? já viu a qualidade de teológos islâmicos que temos; muitos sem capacidade sequer de análise? o que se pretende é que as coias sejam feitas de forma organizada. penso eu que dos três colégios islâmicos em maputo [ colégio hamza (aminuddin Muhammad), colégio anáss bin malik (maulana nazir lunat) e colégio da catembe (faizal sidat)], apenas o do nazir é que está melhor organizado. mas digo mais: porquê tenho suspeitas que de alguma forma a forma como as crianças eram transportadas é apenas uma amostra daquilo que porventura passam nos colégios?