16 agosto 2009

Psicologia dos produtores da pátria (10)

Mais um pouco da série.
Observei no número anterior que, no "Lutar por Moçambique", Eduardo Mondlane escreveu que não fazia sentido lutar pela independência nacional casos se mantivessem intactas as estruturas do capitalismo. Creio que essa era a coluna vertebral do pensamento político do grupo hegemónico dos libertadores da pátria dirigidos por Samora Machel.
Mas já antes da morte de Samora em 1986 havia sinais da perda de velocidade dos ideais da luta de libertação social.
Efectivamente, no anos 80 iniciou-se a viragem para as instituições de Bretton Woods. Em 1984 o país aderiu ao FMI e ao Banco Mundial e negociou com o Clube de Paris e com a Organização dos Países para Cooperação Económica e Desenvolvimento da Europa o reascalonamento da dívida. Em 1987 iniciou-se a implementação do Programa de Reabilitação Económica (PRE), com severas medidas monetárias e fiscais, privatização do sector público, desregulamentação e liberalização económicas, etc.
Em 1984, também, foi assinado o Acordo de Nkomáti com a África do Sul, visando pôr fim à guerra civil, de alguma forma prelúdio dos acordos de paz assinados em Roma em 1992 com a Renamo.
A morte de Samora Machel em 1986 levará o grupo hegemónico dos libertadores da pátria a afastar-se dos ideais da libertação social. Um ano depois iniciou-se o PRES.
Nota: em qualquer momento posso alterar o que aqui deixo escrito. Se isso acontecer, surgirão a vermelho as partes alteradas e/ou acrescentadas. Seria muito bom que os leitores pudessem contribuir com outras leituras, criticando as que aqui são propostas.
Adenda às 11:37: obrigado ao leitor que me alertou para o facto de eu inicialmente ter escrito PRES e não PRE.
(continua)

7 comentários:

Abdul Karim disse...

entao o grupo hegemonico-FRELIMO consegiu os objectivos tracados!

- a guerra civil terminou.
- comecou a acomulacao apartir da privatizacao do sector publico(privatizado para o grupo hegemonico-FRELIMO).

a morte de MACHEL parece ter facilitado o processo, naturalmente se nao considerarmos as ultimas afirmacoes do GENERAL CHIPANDE.

mas e POVO?

qual o papel desse POVO, apos a MUDANCA de 1987?

depois da falencia das empresas privatizadas, e a sua capitalizacao, e re-falencia e re-capitalizacao atravez dos bancos ja falidos e do tesouro, qual a estrategia para manter a acumulaco fluindo?

manter-se no PODER? adulterando a HISTORIA? mantendo o POVO IGNORANTE apartir de SISTEMA DE EDUCACAO que nao educa (fazendo fe no recente "discurso" do Ministro AIRES ALY, a educacao profissional visa os JOVENS pararem de CRITICAR e PEDIR EMPREGO)?.

quanto 'e que vao conseguir ACUMULAR? vao usar essa ACUMULACAO como? para que ? valera a pena?

e POVO? morre de fome e doencas? miseravel?

mas essa nossa HISTORIA, 'e muito TRISTE.

e 'e mais TRISTE AINDA, quando se pretende manter ela, a HISTORIA, assim, e acrediando e querendo fazer acreditar, que isso 'e HISTORIA GLORIOSA, lutando, matando e exigindo o titulo de propriedade exclusiva da mesma.

queremos continuar assim?

e o POVO??

Anónimo disse...

Professor Carlos Serra, percebi bem a sua tese de que foi a morte de Samora que levou o grupo hegemonico a se afastar da luta de libertacao social? Por luta de libertacao social quererah dizer socialismo, na vertente proclamada pelo III Congresso? E, por conseguinte, se Samora nao tivesse morrido continuariamos no socialismo cientifico? Como Cuba e como Coreia de Norte?
Joao Muthombene

Jornadas Educacionais disse...

Professor
Apenas uma observação histórica: em 1987, implementou-se apenas o PRE, dado que a lógica das agências multilaterais era a econômica. Somente apartir de 1990, é que se incluiu a componente social aos programas de ajuste estrutural. Moçambique não fugiu a regra e passou também a incluir o "S".

Além do artigo do José Jaime Mucuane In" Moçambique: ensaios" , organizado pelo professor Peter Fry, o livro que resultou da tese de Doutorado do professor Brazão Mazula "Educação, ideologia e Cultura em Moçambique", podem ser referências que enriquecem essa sua última postagem.

Desculpa a intromissão

Carlos Serra disse...

O Sr. "João Muthombene" (é assim tão doloroso identificar-se?) far-me-á um generoso favor (e creio que a outros leitores tb) se aqui expuser as suas ideias e abandonar as perguntas. Obrigado pela compreensão.

Carlos Serra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Serra disse...

Jornadas Educacionais: espero tenha reparado que já lhe tinha respondido...Outra coisa: lamento não poder ainda dizer algo sobre a inscrição electrónica.

Jornadas Educacionais disse...

Professor
Somente hoje reparar. Estava de viagem de regresso, após a longa maratona estudantil de outro lado do Atlântico. Cuidarei de ir à Direção Científica para me inscrever.
Agradeço a atenção