13 junho 2009

O papão "nigeriano" que deixa vermes nas mulheres em Maputo (9)

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Mais um pouquinho da
série.
Propus já que tivéssemos em conta dois êmbolos do rumor do bicho-papão-nigeriano que deixa vermes nos órgãos sexuais das mulheres de Maputo: o HIV/SID e o tráfico de seres humanos.
Mas tenho para mim que é necessário considerar um terceiro êmbolo, o das representações negativas concernentes aos estrangeiros na cidade de Maputo.
Uma parte importante das barracas e dos contentores da periferia da cidade de Maputo (negócio de roupas, de bebidas, de troca de moeda, por exemplo) está a ser gerida por estrangeiros como Nigerianos, Burundeses, etc., gente que - defendem os Moçambicanos - só pensa nela e nos seus parentes e amigos. No seio dos Moçambicanos existe a crença generalizada de que os estrangeiros (os Nigerianos são largamente referenciados) têm acesso privilegiado a meios que os locais não podem ter, que são ricos porque são proprietários de uma magia muito especial, muito potente, que eles são grandes feiticeiros (em tempo devido vos darei conta dos resultados de uma pesquisa sobre potenciais de xenofobia que estou a dirigir).
Então, o bicho-papão-nigeriano (podia ser Burundês, Zimbabweano, Chinês, Libanês, não importa que nacionalidade estrangeira) é como que a tradução, a epítome alegórica do mal estrangeiro, mal que é suposto violentar as mulheres moçambicanas, que é suposto infectar os Moçambicanos com os vermes que se alimentam de fígado, praga que mata. O rumor como que veicula os sentimentos de inferioridade e de ciúme dos Moçambicanos confrontados com uma feitiçaria estrangeira e muito forte.
(continua)

3 comentários:

Anónimo disse...

HIV.

35% gaza.
34% maputo.
29% maputo cidade.

um pouco pior, do que estava a prever.

o INE tem estado a induzir em erro, ja ha algum tempo.

governo reuniu-se pela 31 vez, e so tomara decisoes em julho, quando se reunir pela 32 vez.

vamos esperar, temos um governo para resolver problemas, e acredito que sao humildes tambem para pedir solucoes quando tudo falhar.

nesta altura, estaremos aqui, com propostas validas.

Prof. Dr. Manuel Pina disse...

Meu amigo Carlos, algo em seu post me chamou especialmente a atenção.

Cito: "No seio dos Moçambicanos existe a crença generalizada de que os estrangeiros (os Nigerianos são largamente referenciados) têm acesso privilegiado a meios que os locais não podem ter, que são ricos porque são proprietários de uma magia muito especial, muito potente, que eles são grandes feiticeiros (...)".

O que me parece (veja que também sou "estrangeiro" no Brasil, como já o fui em Lourenço Marques, Nacala, Mueda, Nampula, Paris, Marseille, Lyon etc.) é que um sentimento chamado inveja, de quem trabalha e tem sucesso, está por trás de toda essa problemática.

Tentarei explicar: O "estrangeiro" chega no nosso país para trabalhar duro e amealhar o máximo possível para retornar (quem sabe?) à pátria mãe em melhores condições financeiras (foi o que aconteceu comigo e tantos outros milhões de portugas quando estive em França).

Um aparente sucesso nessa empreitada deixa muitos "nativos" com desejo de estar na mesma posição, mas, talvez por comodismo ou preguiça mesmo, não conseguem atingir esse objetivo. Logo, é preciso inventar alguma "tramóia" para colocar o "estrangeiro" no seu devido canto.

Isso gera a xenofobia e, claro, num país onde o misticismo e as crendices ainda prevalecem frente à ciência e ao pensar crítico fica fácil inventar uma falácia capaz de arregimentar pensamentos e ações que buscam "eliminar" esse intruso que vem usurpar os "meus direitos".

Coloque-se a seguinte questão: se o estrangeiro for pobre e desempregado, também vai colocar vermes nos órgãos sexuais das mulheres?

Isso, bem entendido, sem falar que as mulheres que o "estrangeiro" rico e poderoso infecta são as mulheres dos outros... jamais as minhas (não quero defender a poligamia... acredito que me faço entender!).

Pense nisso, amigo!

Forte abraço.

Anónimo disse...

35% Gaza; 34% Maputo/Província; 29% Maputo cidade ? MEDONHO!!!

Para se verificarem tais níveis de Infecção em termos de % da população total, há escalões etários (os sexulamente mais activos) onde estes valores serão certamente muito maiores.

O governo tem de tomar medidas drásticas, não pode continuar com políticas de PROMOÇÂO E VALORIZAÇÂO do consumismo (liga, consome e ganha, quanto mais consumires mais possibildade tens de ganhar...) e muita curtição: moda, alcool, droga, farra, sexo, delinquência, facilitismo.

O que entra nos cofres do Estado como receita de certos consumos, não cobre os CUSTOS económicos (menos gente activa no futuro) e sociais (mais gastos com apoio social).

É caso para pensar nos prós e contras de uma medida de ALERTA equivalente ao procedimento da OMS em relação á Gripe A (H1N1), ALERTA MÁXIMO.

Importa analisar sériamente e projectar diferentes cenários possíveis para a evolução e consequências desta "PRAGA", e tomar medidas realistas, mesmo que duras.

Hoje, com o nível de informação disponível no país, com os rios de dinheiro gastos, começa a não parecer despropositado considerar as novas infecções equivalentes a CRIME.

Constava há anos atrás que o nosso Ministro da Saúde enfatizava que os grandes esforços do Governo deveriam ser na PREVENÇÃO (evitar que aconteça) e não no tratamento.

Creio que houve interpretações críticas (de paternalistas)... mas o tempo está a dar-lhe razão: â ênfase tem de ir para a prevenção, mudança de mentalidade.

A grande maioria das infecções resultam de relações heterossexuais, entre parceiros que livremente as aceitam.

A responsabilidade social de cada um de nós, EXIGE que nos comportemos como Homens e Mulheres e não como animais. O assunto é sério.