1. Felizmente há uma pausa nesta chuva chuvadeira que não me deixa saborear em paz esta bela cidade que se chama Braga. Toca o sino da velha e bela igreja, a história atraca a esta gente moderna e apressada que vejo passar.
2. Conheço muito mal Portugal. Mas uma viagem de carro Lisboa/Braga levou-me a conhecer terras e sabores. E penso então nas minhas três identidades, para dizer as coisas com o tempero do escritor congolês Henri Lopès*: primeiro sou eu, a minha identidade psicológica, fisicamente destacável; depois sou moçambicano, nasci num país - Moçambique - onde já tinham nascido minha mãe e minha avó materna; em terceiro lugar sou cidadão do mundo, sou usuário de várias pátrias, sei, por dados que obtive, que me corre sangue árabe e judeu, mas sou ainda francês, russo, português, tanzaniano, sou todos. Por isso sou culturalmente mestiço. Por isso sou as três identidades ao mesmo tempo.
2. Com alguma frequência deixo de assistir às sessões do congresso luso-afro-brasileiro para procurar ver as coisas de fora, olhar a gestualidade de quem fala, de quem enuncia um saber, mirar a silenciosa e atenta assistência. Dou então por mim a converter todos aqueles muitos espaços (salas e anfiteatros) em territórios sagrados, em espaços de oficiantes. Lá fora, nos muitos lá foras do mundo, estão os profanos. E lá me pergunto: para que servem as ciências sociais? Que transformações reais introduziram em séculos de regência e oratória?
*Lopès, Henri, Mes trois identités, in Kandé, Sylvie, Discours sur le métissage, identités métisses, En quête d´Ariel. Paris: L´Harmattan, 1999, p. 138.
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